Tem nome de general da Wehrmacht, mas Úrsula Von der Leyen é capaz de ser a coisa mais fofa inventada pela Alemanha depois dos Playmobil. Esta política da CDU prepara-se para liderar o ministério da Defesa e, no governo anterior, foi Ministra do Trabalho e Assuntos Sociais. Nesse cargo, destacou-se na defesa da família e das crianças numa sociedade marcada pelo envelhecimento e por uma taxa de natalidade que parece o Mad Max. Neste ponto, porém, o seu exemplo é mais importante do que qualquer política. É que Úrsula Von der Leyen tem sete filhos. O futuro está aqui, o futuro da Europa tem de passar por Úrsula.
Não, não estou a dizer que as europeias devem ter sete filhos. Não, a mulher não pode voltar ao cargo de coelhinha parideira dos sonhos molhados do salazarismo. Mas é preciso encontrar um novo equilíbrio entre pais, mães e sociedade em geral. Não sei se repararam, mas nós, europeus, estamos a morrer. E não me venham com a conversa da crise, porque o inverno demográfico começou muito antes de 2008. Tal como Von der Leyen tem defendido, o problema é mental e cultural. Para começar, importa anular a falácia que coloca o papel de mãe em confronto com o papel de mulher de sucesso. Apesar dos sete filhos, esta Merkel gira é obviamente uma mulher de sucesso. Para compreendermos este ponto, talvez seja interessante colocar a Europa debaixo da outra perspectiva ocidental. Devido a uma deslocação profissional do marido, Úrsula viveu uma temporada nos EUA. Nas entrevistas de emprego, os americanos perguntavam-lhe sempre sobre actividades extra CV, se trabalhava em associações voluntárias, se tinha filhos. Resultado? "Deram-me cargos por ter filhos", diz Úrsula. "Na Europa só me dariam esses cargos se não tivesse filhos".
Ela tem razão. Conheço demasiadas portuguesas que sofreram dois tipos de ameaça: foram intimadas a não engravidar pelo patrão ou mesmo pela chefe de repartição pública, ou foram despedidas depois do nascimento do bebé. Um dia destes, irei obrigar todas estas pessoas a prestar declarações em on, porque esta vergonha tem de acabar. Estes chefes são os grandes coveiros do país. Não, os grandes carrascos de Portugal não são os governos, os sindicatos e corporações. O grande sacaninha da pátria é mesmo aquele chefe, privado ou público, que diz a uma rapariga de 28 anos "olhe, não queremos cá bebés, está bem?". Além de imoral, o sacaninha é burro. Como bem explica Úrsula Von der Leyen, uma mulher com vários filhos é provavelmente o melhor trabalhador do mundo. Educar várias crianças ao mesmo tempo cria um cérebro flexível, rápido, eficiente e maduro emocionalmente. Escrevi há pouco que "Úrsula tem sucesso apesar dos filhos". É uma imprecisão. Esta mulher tem sucesso porque tem filhos.
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