Desde a afirmação de Francisco como ícone do obscurantismo por um conhecido jornalista, com base na episódica concessão de indulgência plenária aos peregrinos ao santuário da Penha nas celebrações presididas pelo cardeal Dom Manuel Monteiro de Castro e da suspeita de acusação, por um elemento da Associação República e Laicidade, de ultrapassagem dos limites da separação da Igreja e Estado, beliscando a laicidade, à expressão clara da metafórica revolução espiritual com consequências visíveis sobre a economia e a política, decorrentes do facto do seguimento radical de Jesus Cristo, condenado por motivos religiosos, contrários ao judaísmo em voga, e por motivos políticos de insurreição contra as normas imperiais - tudo se afirmou. São positivas muitas das asserções produzidas: que Jesus trouxe ao mundo a novidade da horizontalidade do amor ao próximo; que o propósito de Francisco, cristão como é, seria querer a conversão de cardeais, bispos e cristãos, almejar colocar as mulheres em lugares cimeiros de decisão, com as consequências que daí advierem; que o papa, com a matriz da teologia da libertação no que ela tem de melhor, pretende ser a voz de todos aqueles que não têm voz, em razão da exclusão forçada, da pobreza, da doença, da velhice, do desemprego; que suas afirmações – como por exemplo, que esta economia mata, que não se pode aceitar a ditadura de uma economia sem rosto, baseada no mercado desenfreado, desviada dos pressupostos da ética antropológica – comportam riscos se forem utilizadas abusivamente por alguns poderes políticos. Mas também foi sugerido que Sua Santidade é um novo e autêntico intérprete da realidade, que deve ser ouvido pelos poderes, que se espera que ele erga a sua voz em grandes areópagos internacionais como a ONU, que ele não tem excessivas preocupações com o seu futuro ou que não teme pela sua vida. E foi deixada uma advertência: que, se é válido o aviso de que não se pode aceitar a crença vaga e ingénua na economia que não preserva a dignidade humana, também se deve ter como aviso a afirmação análoga de que se não pode aceitar a crença vaga e ingénua na política que não seja serviço à mesma dignidade humana.
Ora, sobre tudo isto, parece-me acertado referir que a diversidade de opiniões sobre o perfil deste papa assenta na existência duma imprensa amiga que ele tem desde o momento da sua eleição, em diferentes visões da Igreja e do mundo, e em diversas expectativas criadas à sua volta. Por outro lado, não se pode pegar na laicidade ou secularismo para calar ou condicionar a voz dos homens e mulheres da Igreja, nem esperar da Igreja soluções políticas ou económicas. No entanto, o facto de a Igreja não ambicionar ter um programa político que se corporize num regime ou sistema de governança a seguir por este ou aquele estado e de não se esperar que ela apresente soluções para o descalabro económico, a iniquidade política ou as injustiças sociais não a iliba de responsabilidades na matéria nem a inibe de apresentar propostas e diretrizes epistemológicas para a solução dos problemas à escala local regional e mundial, lá ou cá onde os homens vivam na carne e na alma situações aviltantes ou dificuldades lancinantes. Não se pode confundir política com intervenção partidária. Se política é a intervenção na pólis (à grega) ou na civitas (à romana), ela comporta a definição de linhas de rumo para a comunidade. E não vale refugiarmo-nos, quiçá hipocritamente, na despretensiosa intervenção cívica para negarmos a responsabilidade política. Laicidade e secularismo não equivalem a confinação a espaço de mera consciência individual ou de sacristia de grossas paredes (no sentido positivo, secular é aquele que vive no mundo e com ele se compromete; laico ou leigo é o membro do povo – se o povo for crente, como é que há de ser este membro do laós?). Separação das igrejas e estados não pode significar silenciamento mútuo nem de uma das partes; se significa independência, também pode, na linha da definição de laicidade positiva proposta por Bento XVI e por Sarkozy, facultar audição mútua e cooperação!
Finalmente, acompanho o lamento do sacerdote jesuíta que lamenta o drama de não se ter lido a espantosa encíclica de Bento XVI "Caritas in Veritate" (Creio que ainda estamos a tempo) ou o seu discurso no parlamento berlinense. É que este papa, revolucionando mentalidades, palavras e atitudes está na linha da sucessão papal na refontalização e no diálogo com a modernidade. E, sobretudo, não se pode deixar de afirmar a atitude profética da denúncia do descarte dos sem vez e sem voz, do anúncio esperançoso do mundo que há de vir com a solução dignificante dos problemas humanos e o compromisso radical com todos os filhos de Deus, sejam eles quem forem, estejam eles onde estiverem.
Louro de Carvalho
Há uma opinião demasiado influenciada sobre a suposta simplicidade do papa francisco, no entanto, não há nada que ele diga que todos os padres não tivessem o direito de saber e de sentir, como qualquer humana!...
ResponderEliminarAo contrário do que parece, o "poder" que promoveu a fidelidade do "Argentino", por motivos de ditadura económica e ideológica, nada mais tem em mente do aproveitar-se de uma Igreja fechada em si mesma (pedras à volta de pedras), para desagregar muito do que o exemplo de jesus Cristo conseguiu. Claro que vocês, os Padres, com a vossa fé regional, sempre teve limites impostos pela própria fraqueza da má doutrina.
Os Judeus, finos como só eles, pegaram neste "inocente", já com fortes e gratas relações com os donos da economia e de toda a corrupção ocidental, elevaram-no ao "céu", de onde o fizeram cair para pregar evidências aos olhos de todos em benefício do obscurantismo, bem regido pelo novo Vaticano!...
No fundo, no fundo, vocês são as ovelhas negras do rebanho do "Senhor". Sem opinião livre, sem convicções e pregadores delirantes sob o hipnotismo da comunicação interna e ditatorial!...
Não acredito que passassem de ignorantes a Homens de Boa vontade, iluminados, de um pontificado para o outro!...
Abraço