«E teu Pai que vê o oculto te dará a recompensa»!
1. Jesus di-lo hoje três vezes (cf. Mt.6,4.6.18) para que não o esqueçamos, em todo o tempo! As boas obras, da esmola, da oração e do jejum, não podem ser, nesta quaresma, um “carnaval, virado do avesso”, uma espécie de encenação pública da nossa piedade envergonhada, à espera do aplauso, no final do espectáculo religioso! Não. Jesus chama a atenção para o que está oculto, para aquilo que se tece e acontece, no coração da nossa relação com Deus, nessa aliança silenciosa de amor, que Deus quer viver com todos e com cada um dos seus filhos!
2. No fundo, Jesus aponta para a dimensão interior, mais cordial e espiritual, da nossa vida cristã! O «mundo oculto», que os olhos do mundo não podem captar, esse terreno mais fundo, lá no mais íntimo do nosso coração, é verdadeiramente um lugar a cuidar, porque é aí que se escondem os tesouros mais ricos da nossa vida! Por isso, a chamada de atenção, para a prática das boas obras, não se reduz a prestar atenção às necessidades físicas e materiais do próximo, meu irmão. É preciso ir bem mais longe, é preciso ver o oculto, ver não só a pobreza material escondida, mas também a riqueza espiritual oculta e singular, que há a cuidar e a estimular, no coração da vida de cada um!
3. Numa palavra, é preciso prestar atenção, não apenas às necessidades imediatas, físicas e materiais, das pessoas e das famílias, (cf. Heb. 10,24) mas também ao cuidado espiritual, pelo caminho da santidade e da salvação de cada pessoa! Não é uma área tão vistosa, tão apetecível, tão socialmente aceite. Mas o Santo Padre, na sua Mensagem para esta Quaresma, adverte-nos: “o facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual”. Vai nesse sentido, a recomendação da prática do exame de consciência e da correcção fraterna, em família e em comunidade, sempre feitas na verdade e na caridade; nessa perspectiva se entende também a celebração mais cuidada e procurada do sacramento da Reconciliação, a valorização da oração pessoal, familiar e comunitária, e sobretudo que tenhamos também em vista o retorno à casa da Igreja, dos que desertaram; animemos a voltar a nossa Casa, aqueles que “abandonaram a assembleia dominical” (Heb.10,25).
4. Ao longo da Quaresma, desafiamos as famílias, a “verem o oculto”, a amarem o invisível, a descobrirem os tesouros, que no arco da sua vida, Deus lhes ofereceu! Durante a Quaresma, cada família deverá valorizar os “tesouros” que tem guardados na sua “Arca da Aliança”. Em cada semana, deverá procurar-se e encontrar-se um tesouro nesta arca, numa busca semelhante à de «um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro» (Mt.13,52). Semana a semana, iremos ao “fundo da arca” que está junto do altar, buscar os documentos da aliança, para os colocar numa arca familiar, construída lá em casa. E quais os tesouros a descobrir e a valorizar? Pensemos no grande património do matrimónio, que são a própria família, o dom dos filhos, a lei do Amor, a graça do perdão, a vida em Aliança, a experiência da Paz e a esperança de uma Vida com futuro.
5. É muito importante, que nos animemos e envolvamos todos e a todos, nesta convocatória à conversão ao Senhor, “de todo o coração” (Jl.2,12). Façamos tudo por congregar, na casa de cada um e nesta Casa que é de todos, “os anciãos, os jovens e as crianças, o esposo e a esposa, o pai e a mãe de família” (cf. Jl. 2,16), a família inteira, para nos ajudarmos mutuamente e nos salvarmos, todos “juntos, na arca da aliança”!
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