Os políticos são os principais culpados da actual crise económica internacional, porque criaram as condições para ela se instalar, disse o economista e conselheiro de Estado, Vítor Bento.
Vítor Bento, que apresentou recentemente o livro Economia, Moral e Política, publicado pela Fundação Francisco Soares dos Santos, considerou que a crise resultou de uma crise de valores morais, mas que os políticos falharam nas escolhas que fizeram.
«No livro olhei para a crise internacional não apenas do ponto de vista estritamente económico, mas enquanto erupção de uma crise de valores da própria sociedade. Há muitos factores que contribuíram, mas uma delas é o facto de hoje vivermos numa sociedade onde os valores materiais são a referência comum, que quase toda a gente subscreve», afirmou.
O economista considerou que, no caminho para a crise, uns têm mais culpa do que outros, destacando neste grupo de maiores culpados, «políticos, banqueiros, gestores em geral», que tinham a obrigação de saber que as escolhas que faziam «conduziriam a caminhos errados», além da obrigação de limitar a possibilidade dos indivíduos fazerem escolhas erradas.
«Em última instância, os políticos têm sempre mais culpas, porque têm a obrigação de gerir a casa comum, de ver melhor e mais longe. Enquanto os outros elementos privilegiam muito o seu interesse particular, os políticos têm a obrigação de colocar o interesse comum acima de tudo, de estar no cimo da torre com uma visão mais ampla e, portanto, limitar os estragos que os interesses particulares possam fazer», afirmou.
«Os políticos que aparentemente surgem agora como quem tem que limpar a sujidade feita pela crise, foram grandes responsáveis na criação das condições que levaram à crise», acrescentou.
Garantindo que não quer assumir o papel de juiz, «e muito menos de juiz da moralidade», Vítor Bento disse que o livro que agora lançou é uma forma de arrumar as ideias, de «estruturar o conhecimento» num processo próprio de aprendizagem e reflexão sobre a relação entre a economia, a moral e a política.
«A forma de regulação económica, em si, é amoral, mas o comportamento das pessoas não é. Essa é que é grande questão. Não é a economia que se deteriora, é o quadro de moralidade de uma sociedade que aceita comportamentos que, de outra forma, não teria aceite», defendeu.
«Quando a economia leva por maus caminhos, é porque o quadro de moralidade permite esses caminhos», disse ainda o professor de economia.
In Sol
Estou curioso em ler o livro, sobretudo para perceber que papel têm tido os economistas que aconselham os políticos!
ResponderEliminarÉ que, com honrosa (e irritante) excepção do profº. Medina Carreira – que nem é economista de formação - , nos últimos dez anos não se ouviu qualquer economista, isento de intenções partidárias, a apontar o dedo fosse a quem fosse!
Mas agora, culpemos os políticos, que merecem, de facto.
NPL