domingo, 10 de abril de 2011

Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer

Felizmente, tenho conhecido muita gente boa. Uma dessas pessoas era o senhor Vinício Félix que, na noite de sábado para domingo, Deus chamou para Si.
Recordo-me bem. Há vinte anos, quando aqui cheguei, fui certa vez celebrar Missa à capela dos Esporões. Terminado o acto litúrgico, o senhor Vinício dirigiu-se a mim e disse-me: "Sempre que vier aqui celebrar Missa, janta connosco." E assim tem sido a partir dessa data. 
 Nos primeiros tempos, era uma casa cheia. O senhor Vinício e sua esposa, D.Cândida, o pai e a irmã desta os quais Deus já chamou a si, os seis filhos, eu, muitas vezes os sacerdotes ou estagiários que por cá foram passando. Parecia uma "vessada"! Nas sentia-se um enorme encantamento, uma alegria e um acolhimento fantásticos! Depois os filhos foram casando e saindo, o Niço chamou-o Deus no momento em que aquele tractor lhe tirou a vida e a casa foi ficando com menos gente, embora recebesse amplas obras de beneficiação.
Há uns tempos a esta parte, jantávamos quase sempre os três no dia da Missa nos Esporões.  Mas continuava a sentir-me muito bem ali. Em família. Conversávamos, partilhávamos inquietações, dificuldades e esperanças. Eles eram um casal encantador. Pareciam dois namorados. Ríamos muito e normalmente o senhor Vinício é que fornecia os motivos para a nossa boa disposição.
Não sendo de forma alguma gente rica, a sua casa estava sempre aberta a quem chegasse e quem entrasse era recebido com satisfação.
O senhor Vinício jogou futebol, era sportinguista, trabalhou competentemente na Tipografia e na Câmara de Tarouca, deixando sempre um rasto de simpatia e de sã camaradagem junto de colegas de trabalho ou de desporto. Vivia intensamente para a família, onde era referência pela forma serena e bondosa como sabia estar na vida. O exemplo e a discrição eram as suas armas.
Integrou ainda o Conselho Económico e fora eleito pelos cristãos da sua povoação para a representar no Conselho Pastoral Paroquial. Era ainda o tesoureiro da Capela dos Esporões para a qual, há anos, ele, sua família e todo o povo haviam dado o máximo para a erguerem.
Cristão convicto, nunca deixava o seu lugar vazio ao domingo na assembleia dos crentes, mesmo quando a doença já lhe tornava penosa a caminhada. No rosto cansado do esforço, estampava-se a alegria da presença.
Santa Helena estava-lhe no coração. Aquele lugar era mágico para ele e durante a novena ali acampava com a família e a sua tenda era a tenda do povo, tantas as pessoas que, especialmente à noite, por lá iam passando. Nunca precisou de títulos ou de dar nas vistas para oferecer sempre o seu melhor em prol de Santa Helena. Trabalhou, enquanto a saúde lho permitiu, com gosto e discrição.
A bondade deixa sempre pegadas inapagáveis. Este homem era  genuinamente bondoso. Por isso, a sua recordação oferece aos que com ele conviveram o perfume da amizade.
Obrigado, Amigo, por tudo. Por tanto.
Descansa nos braços de Deus para sempre.

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