A Igreja Católica começa hoje a celebrar os dias mais importantes do seu calendário litúrgico, que assinalam os momentos da morte e ressurreição de Jesus, culminando na Páscoa.
Quinta-feira Santa: Altar é mesa de sacrifício, intimidade, palavra e alimento
Sacramento da Eucaristia une dimensão sacrificial ao banquete, indica frei José Nunes
Antes de pronunciar as primeiras palavras da missa, os padres e bispos que a celebram beijam o altar, gesto raro na liturgia católica para venerar uma mesa que ocupa o lugar central no interior das igrejas. O altar, que evoca a entrega que Cristo fez da sua vida ao morrer na cruz, é uma mesa com a “dupla simbólica do alimento espiritual e material”, explica hoje o padre José Nunes. É a partir do altar que nasce o sacramento da Eucaristia, sobre o qual há “duas grandes perspetivas” de abordagem”: a “sacrificial” e a do “banquete”. Na dimensão sacrificial é lembrada a “vida de serviço e entrega de Jesus, resumida na última ceia, onde dá um sentido ao pão e vinho, o seu corpo e sangue”, indica o sacerdote. “Jesus viveu toda a vida a gastar-se ao serviço dos outros, até morrer. E à morte também lhe deu esse sentido de oblação”, refere o professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica a propósito do elemento nuclear do sacramento da Eucaristia, cuja instituição os católicos recordam na missa da tarde de Quinta-feira Santa. A leitura bíblica mais importante desta celebração é extraída de um texto atribuído a São João – representado iconograficamente por uma águia, simbolizando a sua apurada visão teológica – que dedica “cinco capítulos” à última refeição de Jesus, enquanto que os restantes três evangelistas lhe reservam “três ou quatro versículos”. De acordo com a narrativa do evangelho joanino, Jesus anunciou nesta ceia que iria enviar o Espírito Santo sobre os discípulos, proferiu o chamado “mandamento novo do amor” («amai-vos como eu vos amei»), lavou os pés aos 12 apóstolos, simbolizando a humildade e o serviço, e pediu-lhes que permanecessem unidos. Passando para a vertente do banquete associada à Eucaristia, José Nunes recorda que a refeição é ocasião de “conversa, diálogo, intimidade, amizade, reflexão sobre a vida e alegria”, constituindo também oportunidade para “recordar momentos vividos e perspetivar outros”. O mesmo aconteceu na última ceia de Jesus, que foi “alimento, encontro fraterno de intimidade, mas sobretudo uma refeição entre amigos, sempre com o pano de fundo sacrificial porque se tratava de uma despedida”. O paralelismo entre alimento espiritual e material evocado pelo altar aplica-se igualmente aos textos bíblicos, como salienta o religioso: «Toma o rolo e come-o» é uma expressão da Bíblia atribuída a Deus para realçar que a palavra também nutre espiritualmente os crentes. José Nunes considera que cada missa coloca aos fiéis “o desafio de construir e viver fraternidade à volta de uma mesa”, além de incluir a “dimensão missionária”, isto é, implica “querer levar para fora a dimensão da solidariedade, amizade e partilha”. “O que se vive na eucaristia é para ser vivido no mundo. E a Igreja tem que ir para fora das suas portas anunciar isso”, sublinha o superior da província portuguesa da Ordem dos Pregadores. In ecclesia |
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