Como membro desta Igreja e instituição e seu sacerdote (presbítero) sinto-me envergonhado e magoado por tanta indignidade. Mas não basta lamentar. É preciso tirar consequências. É preciso saber quais.
Na semana passada, pela própria Igreja, foi tornado público um relatório de uma comissão independente que investigou as acusações e suspeitas de actos de pedofilia sobre crianças e jovens, por membros de instituições ligadas a Igreja Católica, em França, nos últimos 20 anos.
A conclusão é devastadora e vergonhosa: cerca de 200 mil crianças e jovens foram abusados por cerca de 2900 a 3200 “religiosos” (isto é, membros do clero e de ordens e congregações religiosas) e colaboradores variados das suas instituições.
Numa Igreja que se considera defensora e promotora das pessoas, dos jovens e da dignidade humana, é quase inacreditável!…
Como membro desta Igreja e instituição e seu sacerdote (presbítero) sinto-me envergonhado e magoado por tanta indignidade.
Mas não basta lamentar. É preciso tirar consequências. Quais?
- Antes de mais, pôr as vitimas no “centro do problema”, começando por ouvi-las e na (fraca) medida do possível, compensá-las. No centro, repito, pôr as vitimas e não as instituições, por mais sagradas que sejam. A verdade acima dos interesses e da aparência.
- Acabar com a política de ocultação e segredo e de “paninhos quentes” que permitiu e potenciou os abusos e os abusadores…
- Promover e acompanhar uma melhor e mais cuidada formação (religiosa, psicológica e afectiva) dos educadores, religiosos e colaboradores leigos.
- Punir, severamente, também na ordem civil, os culpados de tais desvios, abusos, aberrações e ocultamentos.
Este o modo como vejo os factos e modo como proponho que sejam combatidos.
Mas estes mesmo factos, inegáveis e vergonhosos, tem dado lugar a algumas ilações inaceitáveis, algumas chegando ao ridículo.
- Indigna-se alguém com responsabilidade (director do jornal “o Público”) declarando que “o silêncio da Igreja Católica Portuguesa é inexplicável”. Será? A Igreja Católica portuguesa tem procurado pôr em ação todos os mecanismos propostos e promovidos pela Igreja Universal (sobretudo a partir do actual Papa e do seu antecessor). Conhece o autor do artigo outros casos que escapam ao filtro e à justiça? Deverão as dioceses acusar mais pessoas para satisfazerem as estatísticas? Se conhece mais casos, ocultos, por favor e com pressa, denuncie-os aos bispos e à justiça civil.
- 4% a 6% de “religiosos” estarão envolvidos nestes escandalosos abusos. É imenso. Isso faz ressaltar que a 94% a 96% de “religiosos”, nada foi apontado. Não será de referenciar esse facto?
- Outro articulista relaciona a pedofilia dos religiosos com a obrigação do celibato sacerdotal. É caricata uma afirmação destas! Muitos dos chamados religiosos não são sacerdotes e não estão obrigados ao celibato sacerdotal. Por outro lado, segundo os estudos sociológicos mais recentes, os ambientes sociais onde se verificam mais abusos são, por ordem de grandeza: primeiro, a família; segundo, os amigos; terceiro, finalmente, a Igreja… Que eu saiba a família das vítimas e os amigos não tem votos de castidade ou de celibato sacerdotal.
Convém que antes de se escrever, se pense no que se diz!
Évora – 8 de Outubro de 2021
António Vaz Pinto, aqui
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