terça-feira, 23 de março de 2021

A mísera e a misericórdia: um encontro improvável

"Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»
Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra.
Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles.
Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» 
11Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» (Jo 8, 1-10)

Para Jesus, antes do pecado, vem o pecador.
Para Ele, eu, tu, cada um de nós, vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das normas, dos juízos e das quedas.
Curiosamente, do homem cúmplice do adultério, que teria, segundo a lei, igual castigo de apedrejamento até à morte (Lv 20,10; Dt 22,22), nem se fala.
Talvez o seu nome faça parte da escrita de Jesus, porque “os que se afastam de Deus serão escritos no chão” (Jr 17,13).
Mas como insistiam em interrogá-l’O, Jesus ergueu-Se e disse-lhes: “Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
E eles foram saindo, um após outro, a começar pelos mais velhos. Por fim, ficam só Jesus e a mulher, “a mísera e a misericórdia” (Santo Agostinho), com esta ordem: “Vai e não voltes a pecar” (Jo 8,11), porque “a verdadeira queda, aquela que é capaz de arruinar a vida, é a de ficarmos no chão e de não nos deixarmos ajudar” (Christus vivit, n.º 120).
Fica muito claro o contraste entre Jesus e os profissionais da religião: “Onde está o Senhor, está a misericórdia e onde está a rigidez aí estão os seus ministros” (Santo Ambrósio).
No coração dos escribas e dos fariseus, como outrora em Jonas, há aquela dureza que não deixa entrar nem entranhar a misericórdia de Deus.
Os rígidos não compreendem o que é a misericórdia de Deus. Com o seu pequeno coração fechado, vivem apegados unicamente à justiça.
Os rígidos esquecem-se que a justiça de Deus Se fez Carne em seu Filho; esquecem-se que Ele Se fez misericórdia, que Se fez perdão; esquecem-se que Deus manifesta todo o seu infinito poder precisamente quando usa de misericórdia e de perdão.
Para os escribas e fariseus, para nós todos, acostumados à lógica do «fizeste… logo vais pagá-las», custa perceber que uma justiça sem perdão seria profundamente injusta.
Onde não houver misericórdia, tão-pouco haverá justiça! Onde não houver ternura, tão-pouco haverá amor.
Sou rígido da alma? Está endurecido o meu coração?
Amaro Gonçalo, Facebook

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