Conta-se que um rapazito chega a casa a espumar ódio contra um colega que o humilhou diante da turma. E o pai que naquele dia estava por casa, aproveitou para falar com o rapaz, procurando saber o que se tinha passado. O filho esbracejava e batia com o pé:
– Pai, o Zeca, o meu melhor amigo, fez pouco de mim diante de todos os colegas. Era bem feito que Deus o castigasse.
O pai que era um homem simples mas cheio de sabedoria procurou acalmar o miúdo:
– Filho, todos nós erramos e não vale a pena guardar ódio no coração. Deus está sempre pronto a perdoar quando nos arrependemos e nós temos de fazer também o mesmo. Mas o filho continua a reclamar:
– O Zeca não podia tratar-me assim. Não lhe posso perdoar. Gostaria que ele ficasse doente sem poder ir à escola.
O pai resolveu levar o filho até um abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino acompanhou-o, calado. O pai abriu o saco e antes mesmo que ele pudesse fazer alguma pergunta, propos-lhe:
– Filho, faz de conta que aquela camisa que está a secar no varal é o Zeca. Lança-lhe todo este carvão que está neste saco. Depois eu volto para ver como ficou.
O menino pôs mãos à obra. O varal com a camisa ficava no alto, o carvão era leve e poucos pedaços lhe acertavam. Não foi preciso muito tempo para o rapaz lançar todo o carvão. E o pai que estava por ali pediu-lhe que o apanhasse e o metesse de novo no saco para poder continuar a lançá-lo sobre a camisa. Ia para recomeçar mas arrependeu-se:
– Estou cansado, pai. E não vale a pena!
O pai entretanto levou o filho diante de um espelho enorme de um guarda-fatos para que ele visse a figura com que ficou. E disse-lhe:
– Quando atiramos o nosso ódio contra os outros, sujamo-nos também a nós. A raiva é como o carvão. Se discutimos, se chamamos nomes, se gritamos contra os outros, estamos também a sujar-nos a nós. E não vale a pena, como dizes... É melhor esquecer, pôr de lado, deixar passar o tempo.
(O Amigo do Povo)
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