"Não, nada tenho contra os lares, mas enquanto puder, o lar da minha esposa é o nosso lar" - assim falava aquele marido durante a doença da sua esposa.
Tirando a ajuda pontual de amigos e as horas pagas a uma colaboradora, restava ele para cuidar da esposa a quem a doença deixara incapacitada. Toda a restante família estava longe, a "governar a vida."
Apesar de não ser jovem e pese embora algumas ocupações agrícolas, nunca se desculpou. Foi durante os anos de doença da esposa um cireneu presente, atuante, disponível. Não se lhe notava uma pontinha de cansaço ou saturação, mas a naturalidade serena perante as circunstâncias. Jamais pediu a demissão das suas muitas e exigentes tarefas pastorais, que executa como um serviço a que se entrega com tudo o que pode.
Não é fácil cuidar de um doente tão dependente durante tanto tempo. Sem um sentido apurado do dever, sem uma consciência requintada, sem uma fé que dá sentido ao minuto-a-minuto de cada dia, o mais fácil é desistir, arranjar alternativas, desistir. Não é assim que procede a maior parte das pessoas neste tempo que é o nosso???
O nosso tempo fala demasiado de amor, mas esquece que não há amor sem cruz. E se falta o sentido da cruz, então os doentes e idosos entram no domínio do descartável. "Os lares que cuidem deles..." - ouve-se.
Ainda bem que existem pessoa como este marido!
Aliás, nos últimos tempos de 2014, entre os inúmeros funerais surgidos, alguns nos deixaram o testemunho do perfume de um amor feito serviço até ao fim!
Neste tempo de gelo polar em que a falta de amor transformou a sociedade, importa realçar, neste ano da família, estas lufadas de primavera que teimam em apresentar-nos o serviço ao outro como única forma de não morrermos congelados.
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