O problema reside em saber onde está a medida exacta dos remédios para arrumar as contas nacionais. O primeiro-ministro, disposto a descolar, a qualquer custo, da imagem da Grécia, não esconde a intenção de levar ao extremo o acordo estabelecido com a troika, o que significa que, se 2011 foi mau, 2012 vai ser ainda pior. O véu sobre o Orçamento do próximo ano já se levanta e a certeza de novos aumentos de bens essenciais, e até de impostos, fica mais clara. Seguras as mexidas no IVA, no mínimo para compensar a descida da TSU, sobre a qual ainda ninguém se entendeu, bem como subidas na electricidade, na água, no gás e (de novo) nos transportes, pelo menos.
A isto juntar-se-á o que, eufemisticamente, o Governo apelida de realinhamento de salários, o que mais não significa do que a redução de rendimentos dos que trabalham para o Estado. Passos Coelho ainda não leva cem dias no lugar e a sua equipa o que conseguiu, no essencial, foi , de facto, reduzir o poder de compra dos portugueses e a sua qualidade de vida, com efeitos sérios no consumo. Nesta semana, finalmente, avançou com dados concretos sobre acções para emagrecer o Estado. Positivo o anúncio da extinção de 137 entidades públicas e da supressão de 1712 lugares de dirigentes. Não era sem tempo, mas aguarda-se que as coisas não fiquem por aqui e que, por exemplo, as centenas de fundações, empresas e institutos que o País alberga não resistam à purga.
O que Mário Soares, no fundo, sublinha é a ausência da outra face da moeda, isto é, a adopção de medidas que promovam, a par da austeridade, o relançamento da economia e do emprego. Isso continua a faltar. Do ministro da pasta, de quem muito se esperava mas de quem pouco se tem visto, continua a aguardar-se o desenho de políticas que aliviem a recessão. É inútil o seu alerta para o facto de a situação em Portugal ser de "emergência nacional", pois não há português que disso não se aperceba. Álvaro Santos Pereira, dentro e fora da concertação social, tem de fazer mais. Pressupõe-se que ele e Vítor Gaspar andem de mãos dadas e que enquanto um disciplina e corta o outro cria mecanismos que possam arrebitar a economia. Curriculum com carimbo estrangeiro, só por si, de pouco vale num país onde o amanhã é cada vez mais incerto, para não dizer perigoso.
José Eduardo Moniz, aqui
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