sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A GAMELA

Homem mui velho e já tonto,
um filho casado e um neto,
debaixo do mesmo tecto,
nos diz um conto, viviam

Juntos, porém, não comiam:
o velho,
pois que a tigela quebrava
e o caldo entornava,
comia numa gamela de pau,
e fora da mesa:
com asp’reza era tratado
pelo filho, e pela nora
desprezado.

Um dia, ao canto da mesa,
estando o neto entretido
- era ainda pequenote -,
muito atento, a ver se vaza
com uma goiva e um serrote
um pedaço de madeira,
interrompido pelo pai foi,
que indagou o fim
de tal brincadeira.

- “Aqui’stou -
lhe respondeu o inocente
- a fazer uma gamela, qual aquela
em que come meu avô,
para meu pai comer nela,
quando for velho e demente”

.
Acrescenta mais o conto:
revirou o coração ao pai
aquela lição;
cuidadoso e respeitoso
desde então
tratou do velhinho tonto.
 
Filhos que não respeitais
vossos pais,
se algum dia vos couber
filhos ter,
como heis de neles achar
quem vos saiba respeitar?


Henrique O ‘Neil (Séc. XIX), “Fabulário”

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