Homem mui velho e já tonto,
um filho casado e um neto,
debaixo do mesmo tecto,
nos diz um conto, viviam
Juntos, porém, não comiam:
o velho,
pois que a tigela quebrava
o velho,
pois que a tigela quebrava
e o caldo entornava,
comia numa gamela de pau,
comia numa gamela de pau,
e fora da mesa:
com asp’reza era tratado
com asp’reza era tratado
pelo filho, e pela nora
desprezado.
desprezado.
Um dia, ao canto da mesa,
estando o neto entretido
- era ainda pequenote -,
muito atento, a ver se vaza
- era ainda pequenote -,
muito atento, a ver se vaza
com uma goiva e um serrote
um pedaço de madeira,
interrompido pelo pai foi,
um pedaço de madeira,
interrompido pelo pai foi,
que indagou o fim
de tal brincadeira.
- “Aqui’stou -
lhe respondeu o inocente
- a fazer uma gamela, qual aquela
de tal brincadeira.
- “Aqui’stou -
lhe respondeu o inocente
- a fazer uma gamela, qual aquela
em que come meu avô,
para meu pai comer nela,
quando for velho e demente”
.
para meu pai comer nela,
quando for velho e demente”
.
Acrescenta mais o conto:
revirou o coração ao pai
revirou o coração ao pai
aquela lição;
cuidadoso e respeitoso
cuidadoso e respeitoso
desde então
tratou do velhinho tonto.
tratou do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
vossos pais,
se algum dia vos couber
se algum dia vos couber
filhos ter,
como heis de neles achar
como heis de neles achar
quem vos saiba respeitar?
Henrique O ‘Neil (Séc. XIX), “Fabulário”
Henrique O ‘Neil (Séc. XIX), “Fabulário”
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