Dia de Ano Novo. Ao fim da Missa das 17 horas, fui à minha aldeia para saudar meu pai e meus familiares.
Ia entre a rotunda do Seminário e a ponte do Balsemão quando uma carrinha de nove lugares, ao passar por mim, desanda numa de piscadelas e sinais sonoros intensos. "Hum! Que será isto? Vou no meu lugar, só médios ligados... Será que tenho alguma lâmpada fundida? Será aviso da proximidade da polícia?"
Como os sinais não paravam, resolvi encostar. Era uma família amiga. Os pais, os dois filhos, já casados e a viver em Lisboa. Depois dos cumprimentos e da festa do reencontro, a mãe conta-me que os filhos haviam passado o fim de ano no Gerês na companhia de outros casais amigos. Como estavam relativamente perto de casa, resolveram fazer uma surpresa aos pais. Apareceram pelas 9.30 horas, quando os pais se preparavam para participar na Missa de Ano Novo.
Um que estava cansado e lhe doía a cabeça, outro que tinha sono. E lá foram dizendo que, enquanto os pais Iam à Missa, eles queriam descansar um pouco...
Então o pai diz-lhes:
- Filhos, não nos ides dar esse desgosto! Quero acreditar que nos acompanhais à Missa. Então sois capazes de passar uma noite na borga e não tendes uma hora para celebrar a vossa fé?!
E logo a mãe acrescenta:
- Se vos dizeis cristãos, se até quisestes baptizar os vossos filhos, quereis agora começar o ano sem um momento com Cristo? Que fé é a vossa? Que verdade há na vossa vida? Se estais com sono, eu faço aqui um café num instante. Depois da Missa, enquanto preparo o almoço, descansais um bocado...
Olharam um para o outro, encolheram os ombros e acabaram por acompanhar os pais.
Enquanto os pais me contavam este episódio, os dois, de cabisbaixo, mostravam um sorriso amarelo. Então viro-me para eles e disparo:
- Isto é que são pais, ehin? Penso que vos sentis orgulhosos dos pais que tendes.
- Sim - respondeu o mais velho - pelo menos "apanhámos nas orelhas" logo no primeiro dia do ano. Mas foi justo, eles têm razão. Sabe como é? A gente na lufa-lufa da vida, com a cabeça feita pelo ambiente social, até nos esquecemos de Quem não se esquece de nós. É muito bom termos uns pais assim, pais mesmo!
Durante o resto do dia, não me saiu da cabeça o testemunho maravilhoso destes pais cristãos que não se demitem de o serem apesar dos filhos já serem bem crescidos. E fui pensando que seria óptimo que todos os pais, a começar pelos da comunidade cristã que sirvo, pensassem e agissem assim... Como tudo seria diferente!
Vejo muitos pais sempre preocupados - e bem - com a saúde, o emprego, o bem-estar dos filhos. Vejo pouquísssimos pais preocupados com a vivência da fé dos filhos. E até acontece que muitos pais, que não ligam nada à maneira como os filhos vivem e testemunham a fé, aparecem depois preocupadíssimos com o baptismo dos netos, esquecendo que Deus não condena inocentes, mas aos adultos pedirá contas da forma como usam a liberdade...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.