O período de festas desperta o moralista que há em nós. Crise? Qual crise? A julgar pelos números, os portugueses não estão em crise. Consomem como nunca (mais de 5 milhões em levantamentos e compras) e viajam como loucos. O que implica saber: será a crise uma ilusão? Ou serão os portugueses uma raça degenerada que come e bebe enquanto o barco se afunda?
Por paradoxal que pareça, ambas as coisas: com uma economia estagnada e sem perspectivas de melhoras, os portugueses gastam como se não houvesse amanhã precisamente porque não sabem se haverá amanhã. É a velha história da vaca e do pobre, popularizada em tempos por Vasco Pulido Valente: a ‘poupança’ e o ‘investimento’ só fazem sentido quando se pressente uma possibilidade de futuro. Quando essa possibilidade é estreita, a única certeza que resta ao pobre é a orgia do presente.
João Pereira Coutinho, Correio da Manhã
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