Era a referência de todos, a "menina bonita" da terra. Muito gira, ar doce e meigo, inteligente, prestável.
- O povo comentava para os seus pais: "Sois uns felizardos com esta vossa filha. É um orgulho ter uma filha assim..."
- Ninguém lhe perdoava qualquer pequeno deslize nos estudos. O lugar dela tinha de ser sempre o primeiro. Professores, colegas e pais eram implacáveis quando uma vez ou outra - raríssimo - não foi a primeira em resultados escolares.
- Em casa, ela era a "perfeita", a sem problemas, a de "outro mundo". Por isso, tinha que ajudar toda a gente: pais, irmãos, avós. Todos precisavam de gestos de carinho, de atenção, de quem os ouvisse. Para ela não havia gestos de carinho, ninguém lhe dava atenção, ninguém a ouvia. Afinal, estava claro na mente de todos que ela era a "perfeita"...
- Na escola, tinha que ajudar na aula e fora dela os colegas com mais dificuldades na aprendizagem, colaborar com os professores, ouvir as crises dos colegas, ser carinhosa e atenta para com os outros, estar presentes em todas as actividades. Mas ninguém se preocupava com os seus problemas, ninguém lhe perguntava se estava tudo bem com ela, ninguém se interrogava se tinha tempo e disponibilidade interior para ajudar toda a gente e para participar em tantas actividades. Afinal ela era a mais inteligente e a mais "perfeita"...
- Na associação, no grupo de jovens e nas actividades da Igreja a sua ausência era sempre indesculpável. Tinha que estar presente, fazer o seu trabalho e o dos outros, dar ideias, dinamizar. Se algo não corria bem, o alvo era sempre ela. Pois, ela era a melhor, a jovem por excelência, a inefável. Todos precisavam de ser apoiados, estimulados, ouvidos, compreendidos. Ela não, era a "perfeita".
- Mesmo nas brincadeiras, os amigos não brincavam com ela como brincavam com as outras. Havia na mente de todos a ideia de uma "jovem-anjo", alguém à parte da sorte dos mortais. E sentia-se triste quando os rapazes atiravam piropos engraçados às colegas e a ele nenhum se atrevia...
Cansou. Chegou a vez de quebrar a redoma:
- Estou farta de ser desumanizada!
Começou a descuidar-se nos estudos, deixou de colaborar e de ajudar, tornou-se refilona em casa, desapareceu dos grupos que integrava. Pais, professores, colegas e conhecidos entraram em pânico:
- O que é que se passa?
Cada um procura uma justificação para a "queda do anjo", todos alvitravam soluções. Uma ideia começou a ser consensual: consultar o melhor psiquiatra conhecido.
Naquela noite, quando os pais falaram com ela, tentando convencê-la a ir ao especialista, a mãe abraçou-a e o pai beijou-a e afagou-lhe os cabelos. Então sentiu pela primeira vez que alguém se preocupava com a sua humanidade.
Estava feita a consulta psiquiátrica.
Continuará a ser uma aluna brilhante e prestável, mas agora profundamente humanizada.
Até eu sei como é!! Consigo compreender essa menina! Quão só ela se sentiu sempre, "excluída, marginalizada, segregada" na sua própria existência. Todos dependiam dela e ela não podia ser "ela mesma". Na adolescência passa-se por fases difíceis,muito interiorizadas, há mudanças hormonais,com as quais nem sempre sabemos lidar. Uma menina assim, pode até ser levada a extremos por falta de carinho, por solidão, e os outros nem percebem!
ResponderEliminarPor isso muitas vezes os jovens se suicidam e nem se sabe porquê!
Fico muito feliz que no último dos momentos,ela fosse reconhecida!
Nem sempre há finais felizes assim!
Desejo-lhe a melhor sorte do mundo!
Assim seja para todos!
Ola...
ResponderEliminarA historia dessa menina é um bom exemplo. ou melhor muitas vezes não se dá valor às atitude e formas de estar na vida de alguma pessoas. Acredito que aos poucos vão sendo sobrecarregadas... e como diz bem... pensam que são desumanizadas.
O segredo nesta historia está quando "a mãe abraçou-a e o pai beijou-a e afagou-lhe os cabelos. Então sentiu pela primeira vez que alguém se preocupava com a sua humanidade."
R.A.
Um grande abraço, bom Amigo.
ResponderEliminarPasso sempre por aqui com edificação.
Seu admirador.
Aqui fica a prova de que pequenos gestos valem por muito... Nesta sociedade tao materialista, fica o exemplo de que um carinho, um avraço, uma unica palavra fazem a diferença...
ResponderEliminarOs jovens de hoje precisam mais do que nunca que lhes falem ao coração...não com meras palavras doces, mas sim com certezas, com humanidade e com valores...
Desejo profundamente que todas as meninas como esta possam ter um final feliz...
E é a este tipo de pessoas que não são toleradas quaisquer falhas...o mundo desaba quando a incontestável e inevitável imperfeição se manifesta. O outro que não faz nada, que não é altruísta, coitadinho, olha deixa lá...O que faz, o que anda e está sobrecarregadíssimo, toma lá mais a culpa e dedos apontados para te portares em condições e para a próxima deixa-te de "lamechices"...
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