segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Amigos, amigos do nosso, amigos de ocasião, amigos postiços...

É um casal jovem. Enquanto os seus miúdos saltaricavam no jardim, os três conversávamos. Faláva-se então sobre amigos e alguns decepções surgidas com amizades. Partilhámos experiências e reflexões sobre amigos verdadeiros, amigos do que é nosso, amigos de ocasião e falsos amigos. Nisto, o marido diz:
- E por falar em amigos, já telefonaste à dona...?
Então esclareceram-me que todas as semanas comunicam com os seus amigos. Para os mais novos, uma mensagem, que é mais barato e a vida está difícil; para os mais velhos, como normalmente lidam mal com as novas tecnologias, um telefonemazito.
- Sabe, até ao momento, e graças a Deus, não há nenhuma pessoa para quem não falemos. Sempre me ensinaram que a salvação não se nega a ninguém - afirma ela com convicção. - Mas amigos, amigos, são aqueles que caem nas malhas do coração. Não quer dizer que não haja chatices, conflitos, choques. Mas sempre se ultrapassam, pois a amizade é mais forte.

E contaram então um caso acontecido há dois anos.
- Como as posses não são muitas, resolvemos fazer uma semana de campismo ao pé da praia. Fomos com outro casal amigo e seus filhos.
Tudo corria muito bem, até que um dia, por causa da comida, começa uma pequena discussão. E como palavra puxa palavra e os nervos nem sempre se controlam, fomos às do cabo. Foi uma vergonha. Só faltou batermos. E ninguém almoçou...
Meu marido, completamente perdido, fez logo questão de regressar a casa. Já sei como ele actua. Se o contrariasse seria pior. Era preciso ajudá-lo a acalmar, a entrar dentro de si. Disse que sim, senhor, que poderíamos regressar. Só lhe pedi que nos acompanhasse ao café para os miúdos comerem alguma coisa. Meio contrariado, lá foi. Enquanto eu e os pequenos comemos, ele saíu, foi dar uma volta junto ao mar. Quando regressou, os pequenos pediram para brincar um pouquinho na areia. Disse logo que não. Com jeitinho, disse-lhe ao ouvido que seria bom os garotos brincarem e que nós os dois ficaríamos nas pedras, ao pé da areia, a ver o mar. A contragosto, cedeu.
Estivemos os dois algum tempo calados a olhar para o mar. Muito subrepticiamente, fui-lhe agarrando a mão e pouco depois começámos uma conversa de monossílabos. Os miúdos estavam a ajudar. Completamente entretidos, não nos incomodavam. A conversa agora era fluente. Ele estava claramente mais sereno.
Quando vi que era a altura própria, disse-lhe: "Eu conheço-te bem. Quando és amigo, és mesmo a sério. Achas que por causa de uma discussão "besta" vamos estragar as nossas férias, as dos nossos filhos e as dos nossos amigos?"
"Mas eu tenho razão", insistiu ele.
"Ninguém diz que não tens a tua razão. Só penso que amizade que não supera crises não é digna deste nome. É nestas ocasiões que se prova a verdadeira amizade e se conhecem os amigos a sério."
Ficou calado. Depois perguntou-me o que sugeria. Disse-lhe para irmos com calma, que na hora certa falaria mais alto a voz da amizade.
Quando chegámos ao parque de campismo, o outro casal também estava sorumbático. Parecia que ninguém se queria olhar de frente. Meti o meu braço no braço do meu marido e fiz questão de caminhar em direcção ao outro casal. Mas aqueles pés pareciam de chumbo. Sorri para ele e puxei. Quando nos aproximámos, já frente a frente, olhei para o meu homem. Então este vai em direcção ao amigo e abraça-o. Eu faço o mesmo com a minha amiga. Todos balbuciámos uma palavra de desculpa. E naquele abraço que todos demos, estava fortalecida a amizade.

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