segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O regresso à terra

Os centros comerciais tornaram-se os novos coliseus da era moderna. Chegou a altura de se perceber que só há circo quando há palhaços.
Numa época em que é mais fácil encontrar más notícias do que pedras soltas na calçada, não deixa de ser reconfortante constatar que há quem opte por fazer uma viragem de 180 graus na sua vida e tenha sucesso. Não o sucesso dos holofotes, mas o sucesso do prazer de viver e ser útil à sociedade.
Há umas semanas dávamos conta aqui na Tabu de jovens que optaram por se dedicar à agricultura e que se sentem bem nesse papel tão desconsiderado nas últimas décadas. Também nos últimos tempos tenho lido notícias de rodapé em que se revelam histórias de pessoas que trabalhavam no comércio - algumas das quais tinham investido e perdido o dinheiro em lojas de roupa e afins - e que optaram por se dedicar à agricultura biológica.
Historicamente a agricultura foi uma área a que se associava algum descrédito profissional. O estereótipo de trabalho braçal afastava muito boa gente, além de o ramo ser sinónimo de terceiro mundo. Quantas mais pessoas se dedicavam à agricultura, mais se relacionava o país com atraso. Uma sociedade desenvolvida tem de ter a maioria da população fechada em escritórios onde pouco se produz e onde as pessoas, regra geral, são infelizes.
A crise mundial, exceptuando os países emergentes, veio pôr a nu a fraqueza de sociedades que se reviam em enormes centros comerciais onde se consumia tudo e mais alguma coisa, mas onde se adquiria poucos produtos nacionais. A União Europeia, expoente máximo do novo-riquismo, até incentivava os novos aderentes a não produzirem e a ficarem quietos enquanto os enormes subsídios aguentassem as economias. Países como Portugal sofreram desse síndroma e houve como que um êxtase de centros comerciais e de uma fuga dos campos para as cidades.
Cidades que se transformaram num enorme amontoado de cimento com alguns bunkers de luxo onde os mais endinheirados se refugiam. Não me parece utópico que em Portugal se cultive um certo gosto pelo regresso à terra. Dispomos de capacidades muito aceitáveis para investir boa parte dos nossos recursos na agricultura biológica tão em voga nos últimos tempos. Basta pensar no vinho quando o mesmo, tirando duas ou três marcas, não conseguia conquistar as principais mesas do planeta. Hoje tudo é diferente. Apostou-se na renovação das vinhas e nos métodos de cultivo e Portugal não tem é área suficiente para responder às encomendas. Ou melhor: se vários pequenos produtores se unirem na produção de um único vinho, teremos mais hipóteses de conquistar mercados. Na agricultura de mirtilos e afins estará uma boa saída para a crise. Não temos capacidade para investir em quantidade, mas podemos e devemos fazê-lo em qualidade. Em todas as áreas.
Vítor Rainho, in Sol

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