Ao contrário da adoção por casais gays, a co-adoção não me oferece dúvidas. Muitas vezes, trata-se somente da regularização de algo que já existe na realidade. Contudo, o discurso dos autoproclamados líderes gays e a própria letra das leis estão desfocados. O argumento não pode estar centrado no direito de gays e lésbicas, que tendem a falar a partir de um estranho pressuposto: a criança fica sempre em segundo lugar; é como se a criança não fosse o centro da questão, como se a criança fosse secundária ou um meio para um fim. Enquanto não compreender que a criança é o fim em si mesmo, a retórica gay estará desfocada.
As quadrilhas bem-pensantes têm o hábito de dizer que a sociedade necessita de refletir sobre este assunto. É verdade. O verdadeiro debate é escasso. Mas a comunidade gay também está dentro deste perímetro de falta de diálogo, também não debate ou reflete com a abertura necessária. Eles não são os iluminados e nós os ultramontanos. Ora, se quiser de facto chegar à tal luz, a comunidade gay devia deixar de falar da paternidade como um direito. A paternidade não é direito de ninguém. Nem de gays, nem de heteros. Tal como no aborto, o centro da questão é a criança, não o pai ou a mãe.
Henrique Raposo, Expresso, 20160202, aqui
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