Porque tem estado tão calada a Igreja portuguesa, parecendo ignorar a destruição da nossa Pátria, o crescente desemprego, o impulso para a emigração a que submete as nossas melhores cabeças, o crescimento da miséria, que está a afetar os próprios bancos, a incapacidade da Justiça, a paralisação do Estado e a ruína da nossa classe média?
Não compreende a Igreja portuguesa as palavras de Sua Santidade? Ou está de novo, como nos ominosos tempos da ditadura, em silêncio com medo do que lhe possa acontecer? Esqueceu-se da generosidade com que a Revolução dos Cravos a tratou, ignorando então, consciente e propositadamente, o seu silêncio?
De qualquer modo não se compreende o silêncio da Igreja Católica portuguesa, excecionando algumas raras figuras eclesiásticas e alguns frades.
Será que o senhor cardeal-patriarca, em fim de carreira, teme ter problemas com o atual Governo, que está moribundo, ou teme que a Igreja possa perder alguns privilégios que o Estado democrático, nascido do 25 de Abril e da Constituição da República, que é laica, lhe trouxe? Seja como for, o silêncio da Igreja portuguesa parece contrariar o pensamento de Sua Santidade o Papa, o que para os verdadeiros católicos deve ser uma vergonha."
Mário Soares, aqui
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