No Credo, proclamamos a Encarnação e a Páscoa de nosso Senhor Jesus
Cristo. Todavia, a Sua vida comunica-nos a própria vida de Deus, faz-nos
conhecedores das realidades divinas e salva-nos do poder das trevas. Assim, do
momento da conceção, no seio virginal de Maria, até o dia em que Ele subiu aos
céus, derramando sobre os discípulos seu Espírito, temos a passagem de Jesus
deste mundo para o Pai. A Páscoa de Jesus é toda a sua vida e encontra seu ponto
culminante nos eventos da Sua morte e da Sua ressurreição.
A vida de Cristo é mistério
A palavra “mistério” na Sagrada Escritura quer significar o plano de
Deus revelado e realizado por Jesus e comunicado aos homens pela efusão do
Espírito Santo. A vida de Jesus cumpre este plano eterno do Pai de reconciliar
e de fazer entrar os homens em comunhão com Deus. Na Sua própria Pessoa, esta
vontade do Pai realiza-se, pois nEle estão unidas as naturezas divina e humana.
Com sua morte e ressurreição, perdoa os nossos pecados e sela uma aliança
eterna e definitiva entre nós e Deus. Com o envio do seu Espírito Santo, torna-nos
participantes de sua vida divina e conduz-nos para entrarmos definitivamente na
sua glória.
O mistério Pascal
Apesar de sua vida inteira ser mistério, sem dúvida, na sua Paixão,
Morte e Ressurreição isto é mais
visível, tornando-se o núcleo do mistério Pascal. O Compêndio do Catecism
afirma que “o Mistério Pascal de Cristo, que compreende a sua morte,
Ressurreição e Glorificação, está no centro da fé cristã, porque o desígnio
salvífico de Deus realizou-se uma vez por todas com a morte redentora do seu
Filho, Jesus Cristo”. Assim, nos eventos da crucificação e da ressurreição fica
claro que Jesus venceu o sofrimento, o pecado, a morte, o demónio e abriu um
caminho de vida plena para homens.
A memória da Páscoa
A partir da celebração da Ceia Pascal Judaica, Jesus institui um
conteúdo e um rito pascal novo. Ele mostra que a Páscoa é a imolação de Seu
Corpo para a Salvação dos homens. Este sentido cristão foi ritualizado na
oferta das espécies do pão e do vinho que Jesus fez aos seus discípulos. O pão
é a carne d’Ele entregue e o vinho é o sangue derramado para a salvação de
muitos. Além disto, o Senhor pediu que se fizesse memória daquele gesto
sacramental. Assim, desde o primeiro século, as comunidades cristãs reúnem-se para
celebrar a Páscoa.
A Páscoa como Passagem
Traduzindo corretamente o termo hebraico “pesah” como “passagem”, São
Clemente de Alexandria e Orígenes vão entender a Páscoa como uma passagem da
falta de fé para a obediência da fé; do pecado para a santidade; da morte para
a vida... A Páscoa de Jesus aponta a Páscoa do cristão. Desta forma, toda a
vida de Cristo e a dos cristãos são uma Páscoa. Os últimos só podem passar por
causa do primeiro, pois Ele é a causa e o modelo de como, do porquê e do para
onde passar.
A Páscoa Cristã
Unindo estas duas maneiras de entender a Páscoa e percebendo um elo
entre elas, Santo Agostinho vai falar do duplo aspecto da Páscoa: ela é, ao
mesmo tempo, a passagem de Cristo e a passagem do homem. Ela é o sacrifício de Jesus
na Cruz, para a remissão dos pecados, que possibilita aos homens entrarem em
comunhão com Deus. Ela é a passagem de Jesus para a casa do Pai e, por causa
disto, a possibilidade do homem passar com Ele.
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