Sem perder tempo com manifestos de aniversário, Bergoglio deixou passar quase em branco o primeiro aniversário do pontificado e regressou de um retiro para insistir no discurso social. Recebeu em audiência os trabalhadores de uma fábrica italiana, recentemente comprada por um grupo alemão, e voltou a criticar um sistema económico "incapaz de criar postos de trabalho”, porque põe no centro “o ídolo dinheiro", que afeta "vários países europeus". "Criatividade e solidariedade", com um estilo de vida "mais sóbrio", sugere Bergoglio, que carrega a vivência do hemisfério sul, da periferia e dos extremos.
Esta oportuna obsessão pode ser dirigida à Igreja europeia, esmoler e pouco empreendedora. Vai valendo a ação de muitas instituições. Por cá, algumas Caritas, Misericórdias e outras IPSS's de e da Igreja, rompem a lógica assistencialista com projetos de (re)conversão social, capazes de repor a dignidade e agir politicamente onde a política «formal» não é capaz de chegar. Mas falta a correspondência de uma narrativa institucional clarificadora e denunciante. A hierarquia eclesiástica instalou-se. Receosa de ser confundida com as motivações sindicais ou partidárias – como se a política, em si, fosse um mal –, a Igreja vai oferecendo a resignação, a paciência e o céu, quando o evangelho é da terra, da denúncia e da ação.
Não é sério tomar a parte como o todo. Como não é justo que a maioria apague a exceção. E há exceções. Mas prevalece a timidez e extrema cautela nos discursos do episcopado. Os índices de pessimismo aliados aos últimos dados estatísticos sobre a pobreza em Portugal e à relação desta com o drama da natalidade, deviam soltar gritos dos altares para abanar seriamente as consciências. A Igreja “tem medo”, mudou o Credo, lamenta o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, agora é "creio na Santa Igreja católica, apostólica e... adormecida!"
Tantas vezes indiferentes aos problemas concretos do povo, os púlpitos fazem eco de um escandaloso aconchego à rotina e ao vício do poder. Novidade? Não! É a Igreja e a circunstância. Foi assim ao longo da história, apesar das vozes proféticas nas bases de cada tempo, como a de Francisco, o de Assis. Acontece que, com Bergoglio, o exemplo vem agora de cima. Uma tremenda ironia! Não estranhe se um dia destes aparecer uma «seita» contagiante, com muitos e novos fiéis. É a Igreja de Francisco, o de Buenos Aires. «Messiânico» em carne e osso, com virtudes e defeitos, e que não gosta de viver sozinho.
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