terça-feira, 1 de maio de 2012

D. Manuel Martins. “O governo está a tratar-nos como meninos de escola”

Há décadas que D. Manuel Marins é o maior (único?) profeta da Igreja portuguezsa.
O "velho senhor" continua no seu melhor. Porque apaixonado por Cristo, também apaixonado pela dignidade da pessoa humana.
No Dia do Trabalhador, em entrevista ao i, acusa o governo de falta de pedagogia - veja aqui.
Num tempo em que parece que atravessamos um deserto de profecia, dimensão essencial da missão da Igreja de Jesus Cristo, D. Manuel continua a não ter medo de falar, não aceitando ser escravo da "santa prudência" que mina o nosso episcopado.
E depois outra coisa, rara na comunicação dos responsáveis da Igreja. Usa uma linguagem clara, frontal, que toda a gente entende.

Transcrevo aqui algumas das declarações de D. Manuel, na esperança que os amigos leitores não prescindam da leitura integral da entrevista.

"Jesus morreu por causa disso: por chamar a atenção para a dignidade do povo sofredor e oprimido pelos poderosos e políticos do seu tempo."

"João Paulo II escreveu uma carta belíssima em que recorda que a Igreja tem de proclamar em toda a parte a dignidade do homem."

"Tenho muita pena que os nossos partidos tenham como filosofia primeira uma mística de clube, mais que uma mística de povo e de bem comum. Quando o povo deve ser a base, o critério e o centro das preocupações. Quem sobe ao poder não pode esquecer-se que subir a um cargo público é, no fundo, descer à base de tudo."

"Temos chamado ( hierarquia da Igreja) mais a atenção para a solidariedade e para a caridade dos cristãos que propriamente para a explicação dos modos e das causas daquilo que está a acontecer: um empobrecimento cada vez maior e desgraçado da nossa gente. É muito bonito e importante que existam instituições da Igreja que alimentam esta e aquela família. Isso está dentro da missão da Igreja, claro. Mas os princípios anunciados por João Paulo II vão mais longe: à Igreja também compete descer ao terreno, denunciar e chamar a atenção para aquilo que julga não estar bem."

"Não quero negar ou discutir a boa vontade das pessoas que ocupam o poder, mas uma coisa é certa: faltam-lhes os princípios mais elementares da pedagogia. Podiam explicar-nos “nós estamos assim, precisamos de fazer isto, precisamos de fazer aquilo”. Não é só anunciar mais medidas de austeridade, é preciso explicá-las e tratam-nos como meninos de escola."

"E também me parece que, numa situação como esta, o parlamento e os partidos deveriam viver numa filosofia de pacto de regime. Na solução dos grandes problemas deveriam estar de acordo, porque o que interessa é o bem do povo, é servir o povo, é acudir ao povo. Não é defender o seu clube, não é ganhar o campeonato."

" A nossa pobre gente... sem trabalho. Arrepio-me, dói-me imenso quando penso na hipótese de um casal em que os dois perdem o trabalho. É que é preciso metermo-nos na pele dessa gente, sabe? E vemos os homens do poder a falar disto como uma coisa normal, como uma mera questão de números e não como uma questão de fundo. Há dramas enormes a acontecer por todo o país. Gente que não tem o que comer, que não pode pagar uma casa. Isto que está a acontecer com as casas é verdadeiramente dramático. E porque é que isto acontece? Por causa da falta de trabalho."

"O poder político está sempre dependente do poder económico. Nós sabemos que os grandes é que dominam a Terra e é mais que certo que esta crise é fruto desse capitalismo selvagem. Está-se a organizar a sociedade como uma pirâmide em que a base é povo e no vértice estão meia dúzia de magnatas."

"Todos os dias temos essa percepção: fábricas e empresas que fecham, o número de desempregados a aumentar. As contas são de arrepiar. Estamos numa situação muito má."

" Mas gostaria que as manifestações de hoje fossem como o 1.o de Maio logo a seguir à Revolução de Abril: uma manifestação em que os partidos, sobretudo os de esquerda, não aproveitassem para indispor as pessoas. Que seja uma manifestação de dentro, igual, sem bandeiras partidárias. Uma manifestação de cidadania e não uma demonstração de força deste ou daquele sindicato, deste ou daquele partido."

1 comentário:

  1. Interessante, sem dúvida.
    Mas relativamente à situação actual...gostei particularmente do k ouvir (na TSF)a dois Padres, antes do último encontro Episcopal:
    -(...)A IGREJA TEM K IR PRA LÁ DE DAR A TIGELA DE SOPA!
    Agraço Blogueiro!-Assunção Monteiro

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