domingo, 14 de março de 2010

"Grupite" - uma doença grave

1. Já lá vão muitos anos. Havia convidado aquele homem a participar na Missa dominical. Era uma pessoa séria que, por descuido e arrastamento, perdera o hábito da participação na Eucaristia. E agora, embora não se sentisse bem consigo próprio, faltava-lhe a coragem do regresso. Falámos longamente. Decidiu que iria voltar a participar. E foi duas vezes...
Uns tempos depois encontrei-o desiludido e frustrado. Disse-me que não voltaria. Nas duas vezes em que fora, sentira olhares de soslaio, sorrisos irónicos, uma ou outra frase agressiva. Não se sentira acolhido!

2. O grupo de jovens estava num magusto. Muita alegria e boa disposição. Apareceram três jovens que não faziam parte do grupo, mas que eram boa gente. O facto de apareceram já por si significava algum tipo de procura. Logo que os vi, procurei acolhê-los e que se sentissem bem. Mas o grupo fechou-se, não fez nada para os incorporar. Sentiram-se um corpo estranho e debandaram. Quando lhes saí ao encontro para os convidar a aparecerem mais vezes, disseram que não, que se sentiam "a mais", que o grupo não lhes ligou patavina...

3. Naquele ano, aparecera uma catequista nova a integrar o grupo de catequistas.O pároco saudou-a e deu-lhe as boas-vindas. Uma ou duas catequistas fizeram o mesmo. Os restantes nada disseram, mais, nenhum gesto tiveram. A pessoa sentiu-se mais, indesejada. Resistiu à tentação de debandar, porque sabia que o que ali a trouxera era a sua fé em Jesus e o seu amor pelas crianças.

Apenas e só três casos reais. Parece que não aprendemos nadinha com Jesus Cristo e continuamos a cultivar a DOENÇA da grupite. Fechamo-nos, não acolhemos calorosamente, não fazemos sentir a quem chega ou regressa a alegria que nos devia possuir o coração. Mostramo-nos frios, alheados e até contrários à chegada ou à regresso das pessoas.
Numa época em que muita gente se afasta, os cristãos continuam mergulhados no fechamento e nas lutinhas de grupos. Em vez de se abrirem com esperança e entusiasmo. E este é sem dúvida um pecado que brada aos céus! Onde está o "sal", "luz" e "fermento" que Jesus nos mandou ser??? Fechados, morremos; só quando nos abrimos, crescemos.

A Parábola do Filho Pródigo deste domingo, fala-nos de um Pai sempre em movimento. Sai para receber o filho desobediente; sai para receber o filho ressentido que não queria entrar na festa. Sai para acolher e festejar o regresso do filho "cabeça no ar" que na ânsia de "gozar a vida", trata o pai como “morto” e lhe pede a sua parte da herança; sai para ouvir o filho mais velho e procurar reacender nele, de novo, o amor apagado. Sai para os acolher a ambos na festa do perdão e do homem novo.
Há tanto em nós de filhos pródigos que fogem de Deus, revolando-nos no respeito humano, na imolação aos deuses do ter, poder e prazer...
Há tanto em nós de filhos mais velhos, rebolando-nos no cumprimento de deveres sem amor, no fechamento aos outros, na auto-convicção pútrida de que somos os melhores, de que já cá estamos há muito tempo, de que temos toda a verdade...

Para quando a alegria da festa, porque "porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’»?

2 comentários:

  1. Já senti com tanta força os efeitos deste mal na Igreja. Onde deveria existir união há grupos fechados em si mesmos. Barreiras impossíveis de transpor. Depois, dizem que querem evangelizar quando sabem perfeitamente que é falso.
    Parabéns por ter a abertura e a coragem de trazer até aqui um problema que é real.

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  2. Caro visitante:
    Ainda bem que se aflige com esta situação. Penso que o mal está quando as pessoas ficam indiferentes a esta chaga eclesial: a grupite!
    A mim preocupa-me imenso quando vejo os grupos fechados em si mesmos, sem abertura de espírito para colaboraem entre si e sem disponibilidade para receber com alegria quem chega. E mais: muitas vezes "mordendo-se" uns aos outros...

    Enquanto as pessoas debandam e abandonam a Igreja, os nossos grupos, ditos católicos, degadiam-se e fecham-se. Uma vergonha!

    Esperamos, confiantes, que o vento renovador do Espírito Santo, nos areje, nosn transforme e nos coloque na órbita da vida...

    Muita paz

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