sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Dúvidas manhosas!

 
Nos últimos cinquenta anos, não houve um Papa tão contestado, dentro da Igreja, como o Papa Francisco. Aliás, o Papa Francisco é claramente mais contestado dentro da hierarquia e leigos comprometidos da Igreja, do que pelos fiéis leigos, sem compromisso ou mesmo pelos não batizados. Algo que, seguramente, nunca aconteceu nos últimos 50 anos e arriscava-me a dizer (podendo estar a proferir uma asneira), que há alguns séculos que não havia tais sentimentos em relação a um Sumo Pontífice, com a particularidade de, neste caso, o mesmo ter uma enorme aceitação e unanimidade junto do Povo Cristão e, até, não Cristão.

Para mim, isto deve-se verdadeiramente a dois aspetos essenciais: diria que um deles é o facto de o Papa Francisco ser o primeiro Papa da História a falar diretamente para as pessoas e com as pessoas. Ao contrário dos seus antecessores, não precisa de intermediários. Na verdade, dispensa-os. Antes dele, os documentos da Igreja, as mensagens papais e outro tipo de intervenções do Santo Padre necessitavam de ser explicadas pelo restante clero ou católicos empenhados na pastoral.

Pelo contrário, as palavras de Francisco são claras e compreendidas por todos e, os que outrora faziam dessa interpretação papal, não só um trabalho, mas sobretudo um poder, sentem-se, agora, desautorizados e, também, usando um eufemismo, “desempregados”. Um sinal disto torna-se visível na quantidade de gente que, em todos os fóruns contemporâneos, a começar nas redes sociais, vem explicar e complexificar as palavras do Papa Francisco, assim que ele lança um documento ou profere uma simples homilia. Ainda há dois meses, quando em Lisboa pronunciou o famoso “todos, todos, todos”, foram mais aqueles que nas redes sociais vieram explicar e complexificar o que o Papa Francisco queria dizer com isso, do que aqueles que vieram louvar a simplicidade profunda das suas palavras – fortemente assentes no Evangelho e no legado de Cristo Jesus –, que todos as pessoas que escutaram e perceberam. O que o Papa diz não precisa de explicação, precisa de aceitação!

O outro aspeto tem a ver com as redes sociais e o ambiente digital. Sendo Francisco o primeiro Papa da era da generalização e utilização massiva destes media, há que pensar em várias características novas. O conteúdo das suas palavras, não só é ponderado em termos do seu valor comunicativo, como é de fácil e de largo alcance. Se noutros tempos as palavras dos papas eram mediadas por várias pessoas (Bispos, Padres ou catequistas), agora chegam, em direto, a todos e a mediação existe, não está fora de causa, mas é uma mediação específica, com caraterísticas que importa conhecer. A iliteracia mediática e falta de honestidade intelectual e de sinceridade nas relações de algumas dessas mesmas pessoas, também provoca, não só um mal-estar, como um desvio do que é essencial, como do consenso que é necessário a Igreja Católica ter, para continuar a ser uma voz e uma presença credível no Reino de Deus.

O exemplo perfeito disto está nas perguntas manhosas que cinco cardeais fizeram, publicamente, ao Papa, sobre matérias que estão a ser faladas no atual sínodo. O Papa Francisco respondeu sinceramente às primeiras, mas como a resposta não agradou a esses senhores (tal como fazem as crianças, até arrancar dos seus pais a resposta que querem), voltaram a perguntar ao Papa Francisco de outra forma, como se o Santo Padre tivesse reprovado no primeiro exame e tivesse de repeti-lo, numa época de recurso. Não é liberdade de expressão; é mesmo discurso de ódio contra o Santo Padre. E nunca ninguém gosta de ouvir desavenças familiares, sobre heranças, quer seja na taberna da aldeia ou em alguma rede social. Aqui a situação é clara: há cinco pessoas que, não tendo o destaque desejado nas habituais salas onde trocam coscuvilhices e nos espaços onde Francisco, no presente, promove trabalho árduo e importante para a Igreja e para o mundo, vieram para o espaço mediático, dizer mal do seu Pai, da sua família. No mínimo, não é bonito; no máximo não é o que se espera de gente que se diz seguidora de Cristo – mas só da maneira que convém. Em suma: não é de boas pessoas, porque as boas pessoas têm a capacidade de perceber que não são infalíveis e que a sua visão do mundo não deve ser imposta aos demais. Esses, costumam ter outro nome: ditadores.

Será mais útil que rezemos e peçamos ao Espírito Santo que acompanhe todos os participantes no Sínodo, de modo que a Igreja possa crescer, unida e forte e capaz de acolher todos, todos, todos, pois essa seria a maior graça que poderíamos receber. Como diz a Oração Adsumus Sancte Spiritus.

“Nós somos débeis e pecadores: não permitais que sejamos causadores da desordem; que a ignorância não nos desvie do caminho, nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais. Que sejamos um em Vós, caminhando juntos para a vida eterna, sem jamais nos afastarmos da verdade e da justiça. Amen”.

Fonte: aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.