A catequese continua a ser para a maioria dos encarregados de educação e catequizandos uma “escola/escala de sacramentos”: levar os filhos à catequese para fazer a primeira comunhão ou a comunhão solene e obrigá-los a continuar até ao 10º ano para fazer o Crisma, senão “não podem ser padrinhos”.
Quando procuram os catequistas não é (tanto) para conversar sobre o crescimento espiritual e humano dos seus, dialogar sobre o seu crescimento (maturidade humana e espiritual) e a sua condição de discípulos/cristãos (seguidores/imitadores de Cristo), mas para saber a data da festa (“temos de mandar convites”) e como deve ser (roupa, lugar, intervenientes). Passado o dia, passou a romaria: fezadas e festinhas.
Estes pais – primeiros educadores dos filhos – são os primeiros a reclamar e a fazer a vida negra aos catequistas se o horário ou o lugar da catequese não lhes convém: “não temos tempo”, “não vamos andar sempre a correr para a igreja”, “no meu tempo não era assim”, “quem me paga o gasóleo?”. Os mesmos pais que, pródigos de (in)coerência, não regateiam esforços e fazem semanalmente dezenas de quilómetros para levarem os filhos ao futebol, à música ou, pasme-se, à discoteca, aniversários dos amigos e convívios de várias ordens…
Estes pais – primeiros educadores dos filhos – exigem uma mudança na Igreja, mas não querem participar na Eucaristia dominical (mesa/refeição da família cristã) e levar os filhos consigo: “não posso obrigá-lo”; “ao fim de semana precisa descansar”; “aproveito para dar um passeio com eles”; “vão quando lhes apetecer”; “a Missa é para as beatas”.
Estes pais que seriam, porventura, bons educadores pelo exemplo e verdade, não têm problemas em mentir ao padre e aos catequistas (ou arranjar desculpas falsas) afiançadas e assinadas, sem pejo, pelos próprios filhos. A verdade usa-se como adereço, a pôr de parte quando não serve ou não dá jeito aos interesses próprios.
Estes pais – primeiros educadores dos filhos – reivindicam mudança, mas não têm tempo (vontade, disponibilidade, generosidade) para colaborar como catequistas, leitores, coralistas, visitadores ou membros de grupos de formação e evangelização. No entanto, são os mesmos que semanalmente levam o/a menino/a ao futebol (“ronaldite” aguda e sistémica) e ficam por lá horas a fio a pressionar e insultar treinadores, árbitros, colegas, entre outros.
Estes pais – primeiros educadores dos filhos – sem tempo/vontade para colaborar na catequese ou qualquer “serviço paroquial”, não se coíbem de exigir a catequese para os filhos, à hora e dia que lhes convém, fazendo dos catequistas escravos dos seus interesses e caprichos, esquecendo (talvez por míngua de caridade e/ou educação/respeito) que a maioria deles são pais e mães, têm emprego e encargos familiares e ainda têm de gramar com exigências e malcriadez de quem não contribui absolutamente para nada.
Em vez de bramir por mudança nos outros, não seria oportuno pensar em mudança pessoal? Converte-te a ti mesmo para que os outros acreditem em ti! Não seria evangélico arrastar os outros pelo exemplo e sinais claros de mudança pessoal e familiar? Se a sabedoria do povo diz (e bem) que “pimenta no rabo dos outros é refresco”, Ghandi também pedia para “sermos a mudança que queremos ver no mundo”. Da minha parte, tenho pensado e cada vez levado mais a sério: “quem não estiver bem que se mude”… Ou seria evangélico mudar (adulterar ou onerar a minha consciência/fidelidade) para agradar a interesses meramente pessoais e alinhar em trejeitos puramente mundanos?
P. António Magalhães Sousa, aqui
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