segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

DISPENSADOS OS PADRINHOS

[Perderam o significado. Tudo se tornou aparência: bispo italiano dispensa presença de padrinhos em batismos e crismas.]

Com um decreto que entrou em vigor no início do ano, o bispo de Mazara del Vallo determinou a suspensão da presença de padrinhos e madrinhas na celebração do Sacramento do Batismo para crianças, Confirmação e Iniciação Cristã para adultos. «É apenas uma figura formal e desprovida de significado. Tudo se tornou aparência», lamenta o prelado. A decisão segue aquela já adotada por outras dioceses italianas.
«Havíamos chegamos ao ponto que muitos padrinhos e madrinhas, durante a celebração, sequer comungavam». Dom Domenico Mogavero não mede as palavras para chegar ao cerne do problema: «O ofício de padrinho - afirma - perdeu o seu sentido original, limitando-se a uma presença litúrgica puramente formal».
Eis porque na sua diocese siciliana de Mazara del Vallo, que dirige há quinze anos, determinou a suspensão da presença de padrinhos e madrinhas na celebração do Sacramento do Batismo para crianças, da Confirmação e da Iniciação Cristã para adultos.
O decreto, em vigor de 1° de janeiro último 'ad experimentum' até 2024, segue aqueles já adotados por outras dioceses italianas e estabelece que serão “os pais ou os responsáveis pela preparação religiosa do batismo a acompanhar, diante do presbitério, aqueles que devem receber o Batismo ou a Crisma”. «Hoje – diz o prelado - padrinhos e madrinhas se tornaram figuras irrelevantes. Não se escolhe um homem ou uma mulher como ponto de referência por seu testemunho de fé».
É UMA FIGURA QUE SE ESVAZIOU DE SENTIDO?
Certamente. No passado, especialmente na Igreja antiga, era significativo. Hoje se tornou uma figura que criou problemas, também em pessoas que não dão um testemunho de fé profunda. Houve casos de hipocrisia e falsidade: muitas pessoas, por exemplo, não revelaram sua condição de divorciados-casados novamente ou de estarem afastados da fé e da prática religiosa. Percebemos que tudo se tornou uma aparência. Deve ser ressaltado que o Código de Direito Canônico não impõe, nas celebrações, a presença de padrinho e madrinha.
TAMBÉM A ESCOLHA SE TORNARA FORMAL?
Era feita de forma emocional e, às vezes, infantil. Várias vezes aconteceu-me que me pediram dispensa da idade útil para ser padrinho, para colegas de classe de doze anos ou para amiguinhos para brincar. Nem mesmo os crismandos se dão conta qual é o verdadeiro papel dos padrinhos e das madrinhas.
E depois, quase sempre, os padrinhos e madrinhas desaparecem após a cerimónia, quando, ao invés disso, deveriam acompanhar, por toda a vida, aquela pessoa que lhes foi confiada...
Trago um testemunho concreto, dado logo após que foi emitido o concreto. Em junho, quando anunciei a minha intenção de emitir este decreto, uma pessoa me encontrou e me disse: faz quarenta anos que não vejo o meu padrinho. Portanto, tomamos a decisão a partir de uma situação que já se tornou clara, ocupando-nos assim da dignidade dos sacramentos e do valor do testemunho cristão que não pode ser abandonado.
A FIGURA DOS PADRINHOS E DAS MADRINHAS PODERÁ SER RECUPERADA?
Depende muito de nós. Fomos nós - padres, bispos e comunidades cristãs - que assistimos ao esvaziamento de sentido destas figuras, sem opor nenhuma resistência. Quando percebemos que os padrinhos e madrinhas haviam se transformado em figuras coreográficas - servem apenas para dar um belo presente - deveríamos ter reagido para reverter a tendência. Nada fizemos e agora devemos ter a coragem de tomar uma decisão e de recomeçar com a presença dos catequistas e daqueles que preparam para a Crisma e os Sacramentos da Iniciação Cristã. Valorizamos essas figuras, deixando claro como são importantes também no caminho de aprendizagem e de testemunho do crismando ou do iniciado adulto. E se, um dia, alguém quiser resgatar a figura dos padrinhos do ponto de vista doutrinal e teológico, tudo bem: mas é preciso devolver a eles o verdadeiro sentido da missão.
NB: Há muito que os bispos portugueses também o deveriam ter feito. Já o defendo há longos anos: verdade, autenticidade, consciência. Infelizmente, andamos sempre a reboque dos outros, mais afoitos a servir outros interesses, a patrocinar a hipocrisia, mentira, negócio, paganismo e folclore da maioria das celebrações. Não é só um problema pastoral, é sobretudo um indicador de (falta) de carácter, uma profanação, abuso e manipulação do Sagrado». 

(P. António Magalhães Sousa), aqui

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