sábado, 9 de janeiro de 2021

A pastoral das mensagens

"O Bispo disse isto. O bispo falou de. O bispo escreveu uma carta pastoral. O bispo redigiu uma nota. Na mensagem do primeiro dia do ano o bispo afirmou. Na de Natal pediu. Ou alertou. Na homilia tal referiu que. E por aí fora, num rol de notícias ou ocorrências que mais não são que dizeres e mensagens. Ou seja, a pastoral que fazemos parece, muitas vezes, reduzir-se a notas, cartas pastorais, mensagens e similares.
Sem desprimor do conteúdo desses conjuntos de palavras, acaba por se tornar cansativo ler tanta coisa que se diz e se repete, quase como que a ver quem diz primeiro aquilo que toda a gente já sabe que vai ser dito. Não digo que não seja importante, mas acaba tornando-se muito cansativa tanta leitura ou mensagem que se consome por estes dias. Ainda por cima, a pandemia causada pelo novo coronavírus e as condicionantes pastorais que trouxe consigo, vieram acicatar esta como que necessidade de se dizerem coisas. Vieram fomentar a necessidade de nos fazermos escutar e de manifestarmos uma presença.
Este proceder é, de certo modo, consequência de uma sociedade líquida e pós-moderna, em que tudo é volátil e há uma necessidade constante de ter uma palavra e preencher o vazio do silêncio. Contudo, pessoalmente acho que o silêncio da intimidade com Deus é capaz de ser escutado com mais intensidade que as muitas palavras proferidas. E sou de opinião que a melhor acção pastoral são as obras.
Por isso, ao ver alguns canais de comunicação da nossa Igreja, canso-me de tanta mensagem que pouco acrescenta ao que já foi dito noutras mensagens. Quando a mensagem é só uma. Quando o mensageiro é só um. A mensagem da Igreja é a Boa Nova da Salvação. E o seu mensageiro é Cristo. Assim o dizem os documentos da Igreja e assim o creio também. Mesmo que as centenas de mensagens sejam valiosas e importantes, a nossa Igreja deveria dar mais espaço à Mensagem."
Fonte: aqui

OPINIÃO
1. Com todo o respeito que tenho pelo Papa, com toda a dmiração que nutro pelo Papa Francisco, sinto que - perdoem-me a franqueza -  "fala de mais".  Há demasiado ruído comunicativo que banaliza a palavra. Mais ruído para o ruído. Saber gerir os silêncios é já por si uma mensagem. Saber falar no momento próprio e com a palavra oportuna é uma graça. 
Depois todos sabemos que muitos gestos do Papa comunicam muito mais do que os discursos e mensagens. Já Santo António defendia: "De palavras estamos cheios, mas de obras vazios."
2. Ainda não percebi o motivo pelo qual em 8 de dezembro último se proclama um "Ano Especial dedicado a São José " para, passados uns dias,  se proclamar um "Ano Especial dedicado à Família", a começar no próximo dia 19 de março.
Que confusão de "anos especiais"! Porque não juntar Família e S. José num único ano especial? 
Como alguém dizia, para quem está de fora, dá a ideia de um certo amadorismo programático que deixa as pessoas confusas e a confusão é auto-estrada para o desinteresse...
3. Só mais um caso de proliferação de mensagens e comunicações na Igreja. No Advento, a Conferência Episcopal Portuguesa enviou uma Mensagem aos Portugueses. Não chegava? Parece que não, já que cada Bispo diocesano enviou no Natal uma mensagem aos seus diocesanos. 
Em tom de brincadeira, às vezes apetece  repetir o que o então rei de  Espanha disse a Hugo Chávez em 2007, na Cimeira de Santiago do Chile: "Por qué no te callas?"
"A melhor acção pastoral são as obras"!!!

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