quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma santa ousadia juvenil

Todos sabemos que o velório dos defuntos serve para muita coisa que não devia servir. Como dizia alguém, por vezes "aí se enterram os vivos e desenterram os mortos."
Um nosso leitor telefonou-me mesmo para dizer que ficou muito aborrecido porque alguns dos presentes em certo funeral de pessoa cristã lhe disseram que rezar o terço não estava de acordo com as leis da Igreja.
Há dias contaram-me que uma jovem no velório do seu avô, vendo que as pessoas não se calavam, decidiu levantar a voz para censurar o que se estava a passar. E disse com a irreverência própria da idade:
– Desculpem! Mas todos sabem que o meu avô, se agora pudesse falar, diria que não gostava do que se está a passar neste velório. Sei que ele gostaria que guardassem as conversas para outro lado e fizessem o maior silêncio possível ou rezassem. Não levem a mal mas ou rezem comigo ou vão à vossa vida. Desculpem! Desculpem!
Quero aqui deixar um louvor a esta jovem. A sua ousadia só pode ser criticada por quem não tem capacidade para entender que um velório deve ser uma comunhão na dor de quem perdeu um ente querido e uma ocasião de reflectir e rezar. Aquilo que se passa em muitos velórios é desumano e anticristão. Se querem conversar, deixem a sala onde está o defunto e procurem um sítio mais próprio para isso.
Não é preciso estar sempre a rezar e muito menos em voz alta: o silêncio também é importante. Mas deve haver comunhão com o que partiu e com os seus familiares que ali estão horas e horas seguidas. O barulho só serve para os debilitar ainda mais.
M. V. P., in O Anigo do Povo

2 comentários:

  1. É bem verdade, Sr.Padre Carlos.
    É uma vergonha o que se passa nalguns velórios. Mas também nos funerais.
    Conversas em alta voz, de conteúdo idiota, por vezes roçando a grosseria, anedotas estúpidas... Sem que haja o mínimo respeito pelo defunto, nem pela família, nem pela circunstância.
    Acredite que, por vezes, me custa acompanhar, à última morada terrena, pessoas que conheci ou com quem privei. Mas apenas pelas "companhias" presentes ao acto, que, pela boçalidade e falta de sentimentos cristãos, transformam um acto de respeito e de dor, em conversas mais próprias de taberna...rasca!
    Prefiro ficar em casa a rezar pelo defunto, e assistir, depois, à Missa do 7º dia.
    Penso que uma chamada de atenção pelos Srs. Priores, bem como catequeses apropriadas, seriam de franca utilidade. É que, quando as pessoas não sabem comportar-se, um admoestação é um acto de caridade...

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  2. Senhor Evágrio Pôntico:
    Muito obrigadfo pela sua presença e pelo comentário.

    E conto-lhe um facto acontecido no velório de minha mãe. Não notei barulhos nem nada disso. Duante aquele espaço de tempo, vários grupos e pessoas iam rezando em voz alta, alternando com silêncio.
    Só que, com o aproximar da hora do funeral e a chegada de mais grupos, a oração em voz alta era ininterrupta. E nós estávamos a precisar de silêncio, uns instantes últimos de silêncio. Só o silêncio compreende a dor.
    E confesso que não aguentei mais e pedi às pessoas a caridade do silêncio.
    Várias vezes tenho falado à minha comunidade sobre este assunto: funerais, velórios, saber estar nestes momentos... Resultados? Nem sempre o que seria desejável. Aqui penso que é demais importante a acção dos leigos. Estando próximos, uma palavrinha oportuna, o exemplo, são mais marcantes do que o demais...
    Hoje, ao contrário de tempos idos, as comunicações do "altar para baixo" já não funcionam. Mas funciona a palavra presente junto das pessoas. Daí a importância fundamental do trabalho dos leigos!

    Um abraço em Cristo e muita paz.

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