Faleceu o Pedro, desculpem, mas eu digo como acredito: o Pedro partiu para os Braços do Pai. Muito novo, tinha apenas 38 anos. Partiu após um doença que cravou garras na sua vida e com a qual travou aceso combate durante estes últimos anos, sempre com apoio indomável de seus pais, irmão e restante família. Contou também com uma equipa hospitalar que dignificou aquele estabelecimento de saúde. A maldita doença aparentemente venceu. Mas penso que, perante a magnitude de alma e a postura serena e superior do Pedro, a abútrica doença deve ter-se refugiado no mais fundo abismo, esmagada e corroída de remorsos pela sua triste figura.
O Pedro nasceu quando ainda era pároco da sua terra natal. Mais tarde, foi meu aluno na Escola Básica e Secundária que ele frequentou. Integrou o grupo de Escuteiros desta Paróquia, tendo sido a minha pessoa que ele escolheu para padrinho quando fez a sua promessa de escuta. Além disso, existia e existe um laço de boa amizade com os pais do Pedro.
Era uma pessoa simples, discreta, de sorriso franco e alegria contagiante. Inteligente e perspicaz, foi sempre bom aluno.
Terminado o curso superior, envolveu-se em várias atividades do seu ramo, mormente ligadas à investigação, vendo reconhecido o seu mérito e competência pelas entidades com as quais colaborou.
O Concelho de Tarouca, que tem reconhecido os naturais que se notabilizaram nas várias áreas de atividade, deve uma palavra ao Pedrito. É uma questão de verdade e coerência.
Fica-me na alma o sofrimento dilacerante que emanava dos seus pais no último adeus ao filho. Mas serenos, muito serenos. Acreditem que é o sofrimento que mais mexe com a alma. Penso que só a fé daqueles pais foi capaz de os revistar de tamanha serenidade na dor.
Quando soube da passagem deste mundo para o Pai, perguntei ao Senhor: "Meu Deus, tanta vez te falei do Pedro e pedi para ele a abundância da Tua sábia misericórdia... Afinal..."
Acabei a dizer a mim mesmo: "Parvo! Deus ama muito mais o Pedro do que os pais, a família, os amigos. Embarca no projecto de Deus."
Descansa, livre, sereno e feliz, nos Braços de Deus. E, pertinho do Coração do Pai, coloca lá as intensões dos teus pais, irmão, família e amigos.
Em 8/8, escrevia neste blog. "Eu acredito em Vítor Bruno."
Confesso que não demorou muito a minha "crença". Há bastantes jogos que deixei de acreditar no senhor como treinador do Porto. - Conferências de imprensa, como diz o povo, que "não interessam ao Menino Jesus". Insípidas, atabalhoados, repetitivas, sem alma, sem ideias.... Pessoalmente deixei de ter pachorra para as ouvir. Não tenho nenhuma saudade do Sérgio Conceição, mas ao nível de conferências de imprensa, o actual treinador nada aprendeu com o antigo mestre. - Os mesmo erros de sempre sobretudo de ordem defensiva. Alguns desses erros são de estremo basismo. Já vai havendo algum tempo para estabilizar a equipa e conseguir uma ideia e um fio de jogo. Onde anda o Porto pressionante de anos anteriores? - Porque joga sempre o Varela quando o seu estado de forma actual é um desastre? Há meninos bonitos? Sempre me recordo, mesmo nos momentos mais apagados, o Porto ter um bom meio campo. Era conhecido por isso. Agora nem defesa, nem meio-campo e o ataque vai vivendo duns fogachos deste ou daquele... Falta EQUIPA! - Quase tudo o que é jogo fora do Dragão com maior grau de dificuldade tem sido perdido. Brilhante, senhor VB! - Transmite claramente a ideia de pouca experiência e de alguma falta de maturidade competitiva. E o pior é que não se notam progressos. - Foi preciso esperar décadas pela chegada de VB para o Porto ser goleado pelo Benfica. Brilhante, senhor treinador! Se se visse algum progresso, pronto até se aceitava, neste ano como de transição e solidificação. Sabemos o estado económico calamitoso em que a anterior gestão deixou o Clube. Não há dinheiro. Penso que a aposta em Vítor Bruno terá passado também por aqui. Um treinador mais barato, com experiência da casa... Quem gere o Clube estará certamente muito atento e verá quando e se é preciso intervir. Espero que sim, que esteja mesmo muito atento. É que o clima entre os sócios pode escaldar mesmo!!!
O Bispo norte-americano D. Robert Barron, que participou no último Sínodo, ao regressar a casa, explica, de forma muito franca e simples, quais foram os pontos altos, mas também aquilo que o deixou preocupado com o processo sinodal e as conclusões.
O voto
das confissões cristãs maioritárias (protestantes e católicos) foi
significativamente para apoiar o candidato Donald Trump, nas eleições desta
terça-feira, 5 de novembro, nos Estados Unidos da América, segundo dados
colhidos em sondagens à boca das urnas, nomeadamente da Associated Press, Washington Post e NBC News.
Em comparação com as eleições de 2020, os resultados do voto dos
membros das diferentes confissões religiosas, captado por uma sondagem à boca
das urnas, foram sensivelmente parecidos com os deste ano, com exceção
católicos. Isso terá ficado a dever-se ao facto de Joe Biden ser um católico
assumido, o que o fez ganhar neste segmento específico a Trump por uma margem
de cinco pontos percentuais.
Trump recebeu, nesta eleição, segundo dados da NBC News, o
apoio de 62 por cento dos eleitores protestantes e outras denominações cristãs
não católicas (contra Kamala Harris com 37 por cento) e 56 por cento dos católicos
(41 por cento para a sua adversária). Na variável filiação religiosa, Harris
conquistou apoios sobretudo entre os judeus, grupo minoritário, e, também entre
os nones (aqueles
que se dizem religiosos, mas não estão filiados numa confissão), que são o
segundo grupo com mais peso e onde a candidata obteve 72 por cento (contra
Trump com 25).
De um modo geral, quando se considera apenas os eleitores brancos,
este quadro repete-se mas com uma vantagem acrescida de apoios para Donald
Trump.
Numa análise mais fina, centrada no voto dos eleitores brancos que
se afirmam evangélicos, em comparação com todos os outros que não se
definem como tal, o presidente eleito colheu 81 por cento dos votos (17 para
Harris). Considerando os que se dizem não evangélicos, a posição inverte-se:
Kamala Harris obtém 58 por cento e Trump apenas 38.
Os resultados de outras fontes, nomeadamente da Associated Press
(AP), podiam variar um pouco dos apresentados, mas as tendências eram análogas.
O estudo da AP apurou que 61 dos eleitores católicos defenderam
que o aborto deveria ser legal em todos ou na maioria dos estados e apenas 38
por cento consideraram que deveria ser ilegal. Para estes eleitores católicos,
Kamala Harris era mais confiável para 46 por cento quanto à política que se
propunha seguir relativamente ao aborto, ao passo que 36 por cento confiavam
mais em Trump quanto a esta matéria.
Em contrapartida, os eleitores católicos confiavam mais em Trump
do que em Harris na questão da imigração (mais 25 pontos percentuais) e
na economia (mais 19 pontos). Os eleitores católicos consideravam (seis
em cada dez) que Harris era muito extrema. Curiosamente uma percentagem
idêntica tinha a mesma impressão acerca de Trump.
Ao analisar estes resultados, a Catholic News
Agency recordou que Trump e o agora vice-presidente
eleito, J.D. Vance, procuraram atrair o voto cristão, e em especial católico,
nas últimas semanas. Trump acusou Harris de ser “destrutiva para o
cristianismo”, enquanto que Vance publicou um artigo de opinião no Pittsburgh
Post-Gazette, em que acusa Harris de “preconceito contra os católicos”.
Por outro lado, vários setores católicos não viram com bons olhos que a
candidata democrata tenha faltado ao jantar que costuma ser organizado pela
diocese de Nova Iorque, que reúne os candidatos e é pretexto para recolha de
fundos para instituições sociais.
1. Quando Trump concorreu contra um homem, perdeu - 2020. Quando o mesmo Trump concorreu contra mulheres, ganhou (2016 e 2024). Pode não ter grande significado, mas aconteceu. Penso que o problema não é dos concorrentes, mas pode ser da opinião pública. A mentalidade das grandes sociedades tende ser ser cautelosa, apontando para o tradicional, o que evita sobressaltos, o mais seguro. As mudanças são lentas. E isto de ter uma mulher à frente da nação mais poderosa do mundo não agradará aos mais tradicionalistas....
2. Não fiquei nem contente nem seguro. Os fundamentalismos, sejam de direita ou de esquerda, são perigosos e de rejeitar. Trump habituou-nos à imprevisibilidade , à mudança rápida, à mentira como forma de comunicar. Trump gosta de muros que dividem e quer construir mais, fechando os Estados Unidos à imigração. Trump não parece confiável, ainda mais agora que tem tudo a seu favor: Supremo Tribunal, Senado, Câmara dos Representantes.
3. Há uma palavra que eu nunca ouvi na boca de Trump: DEMOCRACIA. Posso estar errado, mas nunca ouvi. E isto preocupa-me. E os factos estão aí. Está por esclarecer o seu papel cabal na invasão do Capitólio... São conhecidas as suas resistências em aceitar resultados eleitorais quando perde...
4. No seu primeiro mandato, as relação entre ele e a União Europeia foram tudo menos famosas. O "chapéu protetor" da América é importante para os europeus, sujeitos como estão a manias imperialistas de autocratas vizinhos, sobretudo Putin...
5. Há que aprender. Uma política desligada dos reais problemas das populações, abre caminho aos extremismos. A campanha de Trump focou-se muito nos problemas relacionados com a imigração e com o estado da economia. E sabia que eram os grandes problemas que afetam o comum dos cidadãos americanos.
Se entre nós não resolvermos os problemas da saúde, habitação, economia e segurança não respondemos à situação do cidadão comum luso.
- A saúde continua em estado calamitoso. Deixem-se de guerrinhas ideológicas. Querem lá os cidadãs saberes se são atendidos nos público ou no privado! O que querem é ser bem tendidos, a tempo e horas, e no respeito pela Constituição que fala num serviçode saúde tendencialmente gratuito. Claro que sabemos do apetite feroz dos privados por dinheiro. Mas aqui tem que entrar o saber negocial estatal e a determinação pública, que através de todos os meios legais disponíveis, denuncia e pressiona para que, também no privado, a pessoa esteja em 1º lugar.
- A habitação tem que ser um desígnio nacional. E ontem já era tarde!
- Na segurança os políticos, todos menos os da extrema-direita, continuam a meter a cabeça na areia e a disparar a frase estafada e gasta: Portugal é um país seguro. Não é! Ao menos que leiam os jornais...
- Se a economia não funciona, as crises não param de aumentar. É preciso que Portugal cresça, cresça, cresça. É preciso mais investimento, criatividade, modernização. São precisos melhores e mais justos ordenados e reformas. É preciso mais e melhor trabalho que exige melhor preparação e qualificação. Precisamos de gestores que não deem nas vistas pelos ordenados escandalosos que usufruem, mas pela qualidade com que dirigem as empresas.
Dividi este texto em três secções: Descentralização, Envolvimento dos leigos e transparência.
I – Descentralização
Começo por falar da descentralização. Eu já tinha dito neste vídeo que a grande novidade deste processo sinodal seria a aposta na descentralização. Julgo que o documento confirma isso mesmo. Chamo a atenção para os parágrafos do 119 até ao 135, que a meu ver contêm o que é mais interessante sobre este aspecto.
Como eu tinha referido, o parágrafo 119 apela à formação de províncias eclesiásticas e agrupamentos nacionais e continentais de igrejas. No 126 refere mesmo as Assembleias Continentais que existiram durante o processo sinodal como exemplos a seguir. Mais do que apenas grupos continentais, contudo, o parágrafo 120 fala de grupos regionais de interesses comuns, dando como exemplo a Amazónia, a Bacia do Congo, ou a zona do Mediterrâneo, sendo que este último abrangeria mais do que um continente. Estes organismos não devem ser, porém, meros ajuntamentos de bispos. Pede-se, no parágrafo 127, o envolvimento de representantes da diversidade do povo de Deus, o que naturalmente envolverá leigos. Aqui, como aliás ao longo de todo o documento, apela-se também ao envolvimento de representantes de outras Igrejas cristãs e até certo ponto de representantes de outras religiões ou grupos sociais relevantes. O factor ecuménico e inter-religioso são uma importante marca deste texto. Antevendo que haverá dioceses ou conferências episcopais que, por diversas razões, têm dificuldade em participar nestes organismos, incumbe-se a Santa Sé de ajudar a encontrar soluções e a agilizar essa participação (parágrafo 128).
O parágrafo 129 é muito interessante, na medida em que apela à realização regular de Concílios Particulares Plenários ou Provinciais. Um Concílio Particular Plenário é um encontro de representantes de todas as dioceses de uma mesma conferência episcopal, no nosso caso abrangeria Portugal todo, e um provincial será um encontro de âmbito mais regional. É natural que, como eu, nenhum de vós saiba o que é um Concílio Plenário nacional, uma vez que o último que se realizou em Portugal foi em 1926!! Contudo, o documento pede que sejam realizados, ou “celebrados” com regularidade. Será que isto irá acontecer?
Parece-me evidente que em Portugal, como em quase todo o mundo, estes concílios acabaram por dar lugar aos plenários da Conferência Episcopal. A diferença é que o plenário da Conferência Episcopal só reúne bispos, e os concílios são muito mais alargados, devendo envolver, segundo o Código de Direito Canónico, vigários gerais e episcopais, superiores de institutos religiosos, reitores de universidades católicas, decanos das faculdades de teologia e de direito canónico, alguns reitores de seminários e ainda “presbíteros e outros fiéis, mas de tal maneira que o seu número não exceda metade” dos compostos pelos vigários, superiores e reitores de universidades”. Ou seja, o concílio particular é uma assembleia muito mais alargada de representantes da igreja. Será que isto vai acontecer?
O documento final refere ainda, de forma categórica, que o Papa é, e continua a ser o garante da unidade da Igreja (#131), mas apela à aplicação do princípio da subsidiariedade, usando o termo “sã descentralização” (#134).
Finalmente, no parágrafo 135 insiste-se que os dicastérios do Vaticano devem consultar as Igrejas locais antes de publicar documentos importantes – Fiduccia Suplicans, anyone? – e, de forma algo estranha, diz-se que “é importante, para o bem da Igreja, que os membros do Colégio dos Cardeais se possam conhecer melhor e que se promovam os elos de comunhão entre eles”. Não faço ideia porque é que isto surge no mesmo parágrafo, mas não deixa de ser uma questão importante, uma vez que o hábito do Papa Francisco de nomear cardeais das periferias, sendo importante como forma de recordar que todos os católicos valem e merecem ter voz em Roma, também pode ser problemática. Basta pensar que quando houver um consistório, os cardeais de locais mais isolados chegarão a Roma sem saber como funciona a máquina, sem conhecer ninguém, sem falar a “linguagem” burocrática. Isto deixa-os à mercê de manipulação por diferentes grupos de interesse que, nessa altura, estarão a tentar contar espingardas. O apelo Assembleia Sinodal pode ser uma resposta a este perigo.
II – Envolvimento dos leigos
Há vários pontos no documento de apelo ao envolvimento dos leigos na vida corrente da Igreja. Olhemos para alguns deles.
No parágrafo 66 sublinha-se que todos os baptizados são chamados à missão, mas diz que “nem todos os carismas devem ser configurados como ministérios, nem todos os baptizados têm de ser ministros, nem todos os ministérios têm de ser instituídos” e, mais à frente, “uma Igreja missionária sinodal encorajará mais formas de ministério laical, isto é, ministérios que não requerem o sacramento da Ordem, e não apenas na esfera litúrgica”. Traduzindo: não é preciso salamaleques. Se a Maria tem jeito para acompanhar velhinhos, ajudem a criar um espaço para a Maria poder acompanhar velhinhos. Não é preciso um decreto, nem um cerimonial, nem uma farda. Se o António lida bem com miudagem e conhece os ensinamentos da Igreja, metam o António a dar catequese, ou a acompanhar um grupo de jovens. Facilitem. Também assim se combate o clericalismo.
O parágrafo 70 contém, de forma quase despercebida, uma verdadeira caixa de pandora. Depois de falar sobre a importância do papel dos bispos, lê-se. “É por isso que a Assembleia Sinodal deseja que o Povo de Deus tenha uma voz maior na escolha dos bispos”. Como? Não faço ideia. Mas estou muito curioso para saber se esta pequena frase se vai tornar letra morta, ou se vai produzir algum efeito.
Há depois umas passagens bonitas e interessantes sobre as fragilidades dos bispos e dos padres, de que os leigos devem tomar nota. “É importante ajudar os fiéis a evitar ter expectativas excessivas e irrealistas do bispo, recordando que também ele é um irmão frágil, exposto à tentação, a precisar de ajuda como todos nós. Uma imagem idealizada do ministério do bispo pode ser um obstáculo” (#71) e, mais à frente, sobre os padres que “também precisam de ser acompanhados e apoiados, sobretudo nas fases iniciais do seu ministério, bem como em alturas de fraqueza e de fragilidade” (#72) referindo-se no parágrafo 74 “as dificuldades bem reais que os pastores enfrentam no seu ministério. Essas referem-se sobretudo a um sentido de isolamento e solidão, bem como sentirem-se assoberbados pelas expectativas”. Traduzindo, novamente: leigos, estejam atentos aos vossos párocos, cuidem deles! Como é que se detecta que um padre está a atravessar um período de fraqueza e fragilidade? Estando próximo. Sejam próximos dos vossos padres!
Temos depois, no parágrafo 77, um apelo mais explícito à participação dos leigos e das leigas na vida da Igreja “explorando novas formas de serviço e ministério em resposta às necessidades pastorais do nosso tempo num espírito de colaboração e de corresponsabilidade diferenciada” que pode abranger “processos de discernimento e todas as fases de tomada de decisão” apelando a um “maior acesso dos leigos e das leigas a posições de responsabilidade em dioceses e institutos eclesiásticos, incluindo seminários, faculdades e institutos teológicos”.
Julgo que neste ponto a situação já esteve bem pior. Tenho visto muitos avanços em relação à expectativa de que o padre seja não só pároco como CEO de N instituições de solidariedade social, responsável dos recursos humanos e gestor. Hoje em dia, graças a Deus, vemos cada vez mais leigos a ocupar essas funções. Mas não deixa de haver dificuldades importantes a referir. A primeira dificuldade é financeira. Uma coisa é meter o padre a acumular funções, outra é ter de pagar um ordenado justo a vários leigos para fazer a mesma coisa. A segunda tem a ver com a disponibilidade dos leigos para assumir papéis em regime de voluntariado. Todos queremos uma maior voz para os leigos nas tomadas de decisão da paróquia, mas nem todos temos paciência ou tempo para ir a mais uma reunião a meio da semana, ou às 16h de um domingo. Acrescente-se a isto que muitas vezes os que manifestam maior vontade de participar são precisamente os que não queremos lá, ou a mentalidade muito típica de Portugal, de que o voluntariado não é uma obrigação, por isso se não me apetece ir não vou, porque nem me pagam. Tudo obstáculos que é necessário ultrapassar.
Termino esta secção com o parágrafo 92 que recorda os limites deste envolvimento dos leigos, sublinhando que “a autoridade do Bispo, do Colégio Episcopal e do Bispo de Roma em relação à tomada de decisão é inviolável, estando enraizada na estrutura hierárquica da Igreja estabelecida por Cristo” e que “na Igreja, o elemento deliberativo é levado a cabo com a ajuda de todos, e nunca sem aqueles cujo governo pastoral lhes permite tomar decisões, em virtude do seu cargo”.
III – Transparência
Esta secção será bastante mais curta, mas achei importante incluí-la e vou até inverter a ordem dos parágrafos como são apresentados no documento.
Assim, no #98 lemos que “a transparência e a responsabilização não devem apenas ser invocadas em casos de abusos sexuais, financeiros e outros. Estes princípios também dizem respeito ao estilo de vida dos pastores, ao planeamento pastoral, aos métodos de evangelização e à forma como a Igreja respeita a dignidade humana, por exemplo, em relação às condições laborais no seio das suas instituições”. Muito importante!
E olho agora então para o #96 onde se lê que “a transparência, no seu sentido evangélico correcto, não põe em causa o respeito pela privacidade e confidencialidade, a protecção das pessoas, a sua dignidade e os seus direitos”.
Usando aqui um exemplo que nos será familiar, quando uma diocese recebe uma denúncia por situação de abuso sexual e ela é considerada credível, a Igreja deve, a meu ver, fazer um comunicado a dar conta disso mesmo. Mas não é necessário que esse comunicado refira o nome do acusado, ou da vítima, nem detalhes que permitam pôr em causa o seu direito ao bom nome e à privacidade. Mais tarde, em caso de condenação, poderá ser desejável ou necessário divulgar alguns desses detalhes, mas o importante é sublinhar que é possível conciliar a transparência e o direito à privacidade e confidencialidade.
Sublinho apenas que este parágrafo 96 inclui uma referência pertinente ao sigilo absoluto e inviolável do selo da confissão, isto numa altura em que ouvimos cada vez mais pessoas a colocar em causa esse princípio.
Sinodais aplaudem o Papa na conclusão da assembleia do Sínodo dos Bispos, 26 outubro 2024. Foto Clara Raimundo
O Sínodo terminou. Urge fazer o balanço dos progressos alcançados, mas também das hesitações, dos recuos e dos medos que fizeram titubear os seus trabalhos.
Os avanços
Há aspetos de inegável progresso. Provavelmente, este papa ficará conhecido na história da Igreja sobretudo pelo apoio claro à forma sinodal de organização eclesial. Este é também o elemento mais positivo dos trabalhos sinodais. Se efetivamente posto em marcha, marcará a refundação da Igreja em moldes bem diversos da atual estrutura rigidamente hierarquizada (capturada pelo “poder sagrado”), profundamente avessa à prática da igualdade entre os crentes e alicerçada em formas autoritárias de exercício do poder. Este processo de afirmação monárquica do poder foi-se consolidando ao longo do segundo milénio do cristianismo. O atual processo de implementação da sinodalidade constitui um regresso às formas originárias da vida cristã e simultaneamente uma adaptação às formas democráticas com que os grupos e as nações tendem a organizar-se, pelo menos no Ocidente. Chama-se a isto, em linguagem eclesial: os sinais dos tempos.
A afirmação da sinodalidade fez-se sentir desde logo no próprio processo de auscultação das comunidades cristãs e na forma como o sínodo foi funcionando. Agora, porém, houve mais um elemento importante a considerar. Ao abdicar do “direito” de redigir e publicar uma Exortação Apostólica com base nas conclusões do sínodo, o papa veio dar coerência à prática da sinodalidade que ele próprio tem vindo a propor, mesmo em relação ao exercício do “poder petrino”. De facto, só uma comunidade profundamente hierarquizada (clerical, portanto) pode aceitar que a palavra pessoal do papa constitua o documento final de um sínodo, desvirtuando o valor das conclusões a que o próprio sínodo chegou, vertidas nas suas conclusões.
São também de louvar as orientações do documento final no sentido de se proceder a uma reforma do funcionamento da Igreja de modo a incluir espaços e tempos dedicados à sinodalidade em todos os níveis da sua organização. Há, porém, todo um trabalho a fazer no sentido de tornar tal desiderato realmente operativo, sob pena de o texto não passar de letra morta. O direito canónico e as estruturas que nele estão previstas não incluem esta nova visão do funcionamento da Igreja, pelo que urge proceder à revisão do texto canónico, tornando assim obrigatória a implementação das estruturas de auscultação, ao arrepio do centralismo com que párocos, bispos, conferências episcopais, etc. conduzem a vida interna das suas comunidades.
Os recuos
Em sentido contrário, foi a decisão do papa de retirar da discussão pública, no âmbito do Sínodo, questões determinantes da vida da Igreja. Uma tal decisão foi mesmo a negação da forma sinodal que o papa tem proposto. É assim que observamos avanços e recuos no processo sinodal, vindos exatamente da pessoa que mais tem trabalhado no sentido de propor esta forma inovadora (e fundada na tradição antiga) de organizar a vida eclesial. Torna-se quase incompreensível que o papa Francisco dê tais sinais contraditórios, alimentando assim a ideia assumida por muitas personalidades destacadas da Igreja de que a sinodalidade é coisa transitória e sem futuro e, por isso mesmo, facultativa. Esta conceção está muito mais arreigada do que possamos supor e explica a maneira como muitas paróquias e dioceses continuam a organizar-se a partir dos parâmetros autoritários tradicionais.
O que terá levado Francisco a recuar de maneira tão categórica? Certamente a perceção de que a maioria dos membros do Sínodo seria favorável ao diaconado feminino, à ordenação das mulheres, a mudanças estruturais na moral sexual católica, à ordenação de homens casados, ao fim do celibato obrigatório associado à ordenação presbiteral, etc. Há também na Igreja um receio colossal do confronto de perspetivas, do debate livre de ideias, da tomada de decisão por via democrática. A hierarquia ainda vive claramente apegada ao poder de decidir, independentemente daquilo que possa pensar a maioria do povo cristão. Ainda que Francisco se tenha mostrado, neste aspeto, diferente dos dois papas que o precederam, o receio de os acontecimentos se precipitarem sem o seu controlo tê-lo-á levado a travar o ímpeto reformista que ele próprio pôs em andamento.
Manifestação da Conferência pela Ordenação de Mulheres, no início de Outubro 2024, em Roma, a pedir a ordenação de mulheres na Igreja Católica, coincidindo com a abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade. Foto: Direitos reservados
Estamos, portanto, longe de uma Igreja efetivamente sinodal, na qual a hierarquia não se impõe como poder, mas como serviço a uma comunidade que é chamada a tomar decisões acerca do seu funcionamento. A meu ver, os dois sistemas são irreconciliáveis (exceto se se reequacionar o papel da hierarquia). Não há maneira de implementar uma Igreja sinodal que não implique necessariamente o esvaziamento do poder hierárquico no que às decisões fundamentais diz respeito. Tentar conciliar as duas formas organizacionais constitui a quadratura do círculo. Ao atribuir a reflexão sobre os temas candentes a comissões específicas, o papa optou claramente pela forma clerical de poder, negando à Igreja a possibilidade de decidir sobre tais questões. No entanto, esses são exatamente os problemas que mais preocupam as comunidades cristãs! Assim sendo, a ideia com que se fica é a de que a sinodalidade vale apenas quando as conclusões que dela derivam estão em sintonia com as conceções do poder hierárquico. Caso contrário, entra em ação a forma clerical de tomada de decisões, própria de uma Igreja governada autocraticamente, fundada na desigualdade fundamental entre os seus membros.
Não havendo conciliação possível entre estas duas formas de organizar o poder, a Igreja tem de optar. Caso o não faça abertamente, a sua inércia é já uma opção a favor da manutenção da ordem estabelecida.
É, portanto, com muita tristeza que vejo a questão do acesso das mulheres à ordenação adiada para as calendas gregas. O incómodo do prefeito para a Doutrina da Fé, quando questionado sobre o assunto, é disso um sintoma evidente.
As razões apontadas são, na sua maioria, ridículas e falsas. A Igreja é hoje, no Ocidente, praticamente a única estrutura que insiste em negar às mulheres o direito de acederem a certos lugares de chefia, exclusivamente ocupados por homens. Os que preferem manter uma Igreja masculinizada argumentam que a ordenação feminina seria uma forma inaceitável de clericalizar as mulheres. Até posso concordar com esta posição, mas os que a defendem não retiram dela as necessárias conclusões. Se se reconhece que o acesso ao sacramento da ordem é uma forma de clericalizar as mulheres, teria de se reconhecer que a ordenação de homens tem o mesmo efeito nefasto, pelo que, a sermos coerentes, deveríamos eliminar simplesmente o sacramento da ordem. Ou será que só clericaliza mulheres e os homens estão imunes a esse efeito danoso? Não haverá por detrás desta argumentação falaciosa um misoginismo essencial, estrutural e secular, uma desconfiança fundamental em relação ao papel da mulher fora do âmbito estrito da vida familiar? Sejamos honestos na forma como expomos os nossos argumentos! Deixemo-nos de produzir especulação sofística, por forma a defender a todo o custo a ordem secularmente instituída, fundada em conceções preconceituosas sobre a “incapacidade” de a mulher organizar a vida coletiva! Os leigos podem não ter muita formação teológica, mas não são tolos nem gostam de ser tratados como tal.
Esta, a meu ver, foi a maior desilusão dos trabalhos do sínodo. Se o fim do celibato obrigatório era importante, como o era também a ordenação de homens casados, estas duas questões estão longe de se compararem ao problema da discriminação sistemática da mulher na vida eclesial.
Outra grande desilusão diz respeito à reforma da moral sexual. Tudo se passou no imobilismo de sempre, como se não se tratasse de uma questão central e urgentíssima da reforma da Igreja. Uma moral sexual que se ergue como edifício especulativo não respaldado por nenhuma lógica racional, mas baseado no conceito de uma natureza humana cujas características são arbitrariamente determinadas pelos órgãos do poder eclesial, não convence e, portanto, não promove a sua prática na vida de cada cristão. Hoje, temos uma moral pormenorizadamente definida em textos do magistério, mas inteiramente ignorada pela prática da vida de muitos cristãos. Esta esquizofrenia entre a vida e a doutrina talvez devesse levar as instâncias de poder a questionar-se acerca da pertinência do que tem proposto (ou imposto). Afinal, acreditamos que o Espírito se revela através da vida concreta dos fiéis ou reduzimos a sua ação às considerações doutrinais da hierarquia?
Jorge Paulo é católico e professor do ensino básico e secundário
Em 2020, Portugal era o país mais seguro da União Europeia e o terceiro país mais seguro a nível mundial. Em 2021, perdeu este lugar caindo da terceira para a quarta posição, ultrapassado pela Dinamarca. O relatório é do Institute for Economics & Peace e dá o primeiro lugar da tabela à Islândia. Em 2024, Portugal ocupa o 7.º lugar na lista de países mais seguros do mundo. Em 4 anos, Portugal baixou 4 pontos na lista dos países mais seguros. Por este andar, onde iremos parar?
Os últimos acontecimentos na Área Metropolitana de Lisboa , com morte, ferimentos, autocarros, carros, motas e recipientes queimados... não são propriamente indícios de um país seguro.
Há dias, um alto responsável brasileiro alertava que Portugal é destino preferido por criminosos daquele país lusófono. Até pela língua.
Existem fugas de criminosos de alto risco das prisões portuguesas. Há tempos, de um estabelecimento prisional, fugiram cinco, dos quais só um foi recapturado até agora.
A sociedade portuguesa está mais violenta, mais insurreta, menos cortês e educada, mais primária nas reações, com menos respeito pelo outro e sua vida. Puxa-se por uma faca ou uma arma ao mínimo desconforto, como se fosse banal matar ou ferir. E quando se chega a isto....
Não é de estranhar que haja cada vez menos candidatos às profissões que lidam com a sociedade e a ela se expõem. Faltam candidatos à PSP e à profissão de professor. Não é como nos querem fazer crer os que "falam politicamente coreto". Não é só uma questão de ordenados. É uma questão de disciplina, ordem e respeito. No fundo, é uma questão de segurança.
Temos professores a ser agredidos e insultados; escolas onde a indisciplina é de cortar à faca, mal se consegue ensinar alguma coisa.
Os agentes das forças de segurança estão ainda mais expostos. Desobedecidos, maltratados, ofendidos, ameaçados, feridos e mortos. Quem é o pai ou a mãe que anda descansado quando um dos seus filhos ingressa hoje numa força de segurança?
Se um polícia usa um bocadinho de violência perante criminosos ou transgressores, cai o "carmo e a trindade" numa parte imensa da comunicação social e espumeja de furor a extrema-esquerda. Se um polícia fica magoado para sempre ou morre, recebe como resposta a quase indiferença da comunicação social e o silêncio da barulhenta extrema-esquerda.
Portugal precisa de imigrantes. Sem eles uma parte da economia portuguesa pára. Vejam-se os casos da agricultura, construção civil, turismo, restauração e outros. Essa gente que vem para trabalhar, ajudar a economia nacional e promover as suas condições de vida é bem-vinda. Mais, é necessária. Tem que ser acolhida, respeitada e ter acessos às condições laborais, socioculturais e habitacionais dignas. Os governos têm que ser implacáveis para com quem explora a situação dos emigrantes e/ou pratica tráfego humano.
Mas Portugal tem que ter sumo cuidado para com os que vêm para cá parasitar, fomentar o mundo da droga, dedicar-se a atividades ilícitas ou criminosas.
De maneira nenhuma nos identificamos com posições da extrema-direita em relação à imigração. Posições essas que abominámos. Pois não são os imigrantes os grandes responsáveis pelo aumento da criminalidade e da insegurança. Mas que é precisa alguma regulação claro e precisa em relação à abertura das portas à imigração, pensamos que sim.
Toda a Europa tem hoje um problema com os bairros onde se amontoam emigrantes. Marginalizados, com baixos rendimentos, expostos a algum tipo de segregação, desempregados, sem uma escolarização que os acolha e respeite o seu ritmo, podem ser sempre um vulcão social. Há que encontrar soluções. Foi com satisfação que tivemos conhecimento de um encontro alargado entre o governo e representantes dos vários bairros. Oxalá seja um ponto de partida.
Precisamos todos de comportamentos respeitadores para com as forças policiais. A começar pela extrema-esquerda!!! Sem um forças de segurança respeitadas na sua autoridade, a nossa insegurança aumenta exponencialmente. Esperamos também que quem de direito promova a melhor formação às forças policiais para que possam executar o seu serviço cívico à sociedade com respeito e humanidade.
Não queremos terminar sem confessar a nossa fé. "Creio na vida humana, inviolável desde a conceção até à morte natural."
O senhor padre fora da igreja é como os outros, dizia a senhora Maria. Mas quem são esses outros?! pensava eu. Para haver outros, tem de haver algo que diferencia ou separa. Assim também a observação d ‘O senhor padre é que sabe’, aumenta uma distância que não é desejável. São afirmações que ainda se ouvem da boca de um número notório de paroquianos e que fazem parte de um entendimento com quase dois milénios de história da Igreja que potenciou um aqui e um ali. Como se houvesse um binómio antagónico entre o religioso e o secular. Como se houvesse um dentro da Igreja e um fora da Igreja. Como se a Igreja se identificasse apenas com a sua hierarquia. Como se houvesse uma distância entre presbíteros e leigos. Como se houvesse um espaço sagrado e um espaço mundano ou profano. Ou seja, como se a Igreja fosse um espaço e o mundo outro. E em cada um destes espaços houvesse um sujeito diferente: na Igreja o clero e no mundo os outros, os leigos. Como se a Igreja se definisse por lugares e por estados de vida. Por isso me cansam certas dicotomias dentro da Igreja que apenas servem para separar aquilo que deveria estar unido. Ora, nós, padres e leigos, somos Igreja onde estivermos, porque o que nos faz Igreja não é o lugar onde estamos, mas o que somos e como vivemos. A Igreja existe e é Igreja em todo o lado onde estejamos os que somos Igreja.
Há muitos padres que
vivem facilitando a vida àquelas pessoas que fazem pedidos fora das normas,
fora do Direito Canónico, fora da doutrina e, muitas vezes, longe do Evangelho
e longe da fé. São, de certo modo, padres merceeiros que fazem da Igreja um
supermercado e fazem das paróquias uma agência de produtos sagrados “fast food”
para atrair clientes. Evito julgá-los, porque quero crer que não o fazem com má
intenção. Talvez o façam porque não têm a força e coragem necessária para
responder com um Não. Talvez. Talvez. Há que dizer, no entanto, que são motivo
de grandes sofrimentos a outros colegas que, tentando ser honestos com a sua
missão, procuram ser correctos e coerentes o mais possível com as orientações,
regras e leis que também eles devem cumprir. Quando me fazem alguns pedidos a
que tenho de responder Não, é meu costume recordar, a quem me faz o pedido, que
as leis não são minhas. Tanto as têm de cumprir eles como as tenho de cumprir
eu."
Foi convidada para ser madrinha de um baptismo, mas não está crismada. Foi-lhe proposto que pensasse no assunto e que fizesse o necessário para se crismar e poder ser uma madrinha no verdadeiro sentido da palavra. Não. A resposta foi um rotundo Não, de modo algum. Não está interessada. Isto é, não tem qualquer interesse neste sacramento. Não lhe diz nada e também não está interessada que lhe falem da fé ou de Deus. Não quer, com um rotundo Não. Mas gostava de ser madrinha de baptismo da sobrinha.
O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma pobreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou aquilo é de uma banalidade tremenda.
Leio as notícias na Ecclesia e fico espantado com a irrelevância de tudo. Evidentemente, não há qualquer notícia do sínodo na imprensa generalista. É uma coisa que passa completamente ao lado.
Vou lendo aos poucos o Instrumentum Laboris para a segunda sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos a ocorrer no próximo mês de outubro, e vou lendo também as opiniões e os comentários de alguns observadores. Não me reconheço abalizado para fazer parte deste grupo de pessoas, mas tenho as minhas opiniões, que são, acima de tudo, formas de sentir. Neste sentido, devo referir que também eu não tenho soluções fáceis ou óbvias que transformem a estrutura institucional pesada e milenar da Igreja Católica. Contudo, leio e vejo tantas palavras que me parecem só palavras, que fico algo constrangido. Tenho receio que as palavras vençam, mais uma vez, as acções, atitudes e mentalidades. Tenho receio que não se passe das palavras às práticas. Tenho receio que este sínodo sobre a sinodalidade não consiga acabar com o modelo clerical hierárquico, autoritário e patriarcal. É certo que muitos dos temas importantes não estão contidos de forma clara no Instrumentum Laboris porque foram entregues a dezasseis grupos de estudos especiais, mas, por sinal, constituídos por 74% de clérigos. Não faz sentido querer uma Igreja sinodal e manter uma Igreja clericalizada, autoritária e patriarcal. Tenho receio que este sínodo seja como muitos dos anos especiais disto e daquilo, dos sínodos dos bispos para isto e para aquilo que, depois, na prática, mantêm quase tudo igual. A Igreja não pode continuar a repetir palavras sem alma e sem vida.