domingo, 23 de outubro de 2016

Gabarola


Gabarola é quem está sempre a dizer bem de si próprio. Expõe as  suas próprias qualidades e até as aumenta.
Há tempos fui ao funeral de uma pessoa amiga. No regresso, dei boleia a umas pessoas durante uma parte do trajeto, uma vez que a sua casa ficava muito antes da minha. Desses companheiros de viagem ouvi este testemunho sobre o defunto: " Era um homem a quem nunca se ouviu um elogio a si mesmo. Pelo contrário, era pródigo a elogiar os outros sempre que isso lhe parecesse justo."
Hoje vivemos num "mundo-pavão", onde o tempo parece que nunca chega o tempo para cada um se gabar do que é, do que faz, do que imagina que é e faz...
Gabam-se os políticos da obra feita, dos projetos que apresentam, das ideias que dizem ter, mesmo quando "o embrulho é mais vistoso do que a prenda".
Gabam-se os pais que dizem ter os melhores filhos do mundo, mesmo quando toda a gente reconhece que não é bem assim...
Gabam-se os caçadores de grandes caçadas, quando muitas vezes só caçam no prato a merenda que levam.
Gabam-se as pessoas de grandes tainas e borracheiras, mesmo quando são mais um desejo do que uma realidade...
Gabam-se os pescadores do tamanho do peixe pescado, mesmo quando o anzol nada trouxe...
Gabam-se alguns alunos das notas tiradas no teste, mesmo quando estas são mais fruto do copianço do que do saber.
Gabam-se alguns das "conquistas" feitas, mesmo quando se fartam de levar "patada".
Gabam-se muitos da sua beleza, mesmo quando o espelho desmente tal formosura.
Gabam-se muitos da sua voz, mesmo quando são canas rachadas...
Gabam-se muitos da sua arte culinária, mesmo quando os paladares se arrepiam.
Enfim, poderíamos continuar....
 
Elogio em boca própria é vitupério 
E o pior é quando as pessoas para se exaltarem recorrem ao denegrir dos outros. Rebaixam os outros para se elevarem a elas próprias. "Eu não sou como este ou aquele"; "eu sou muito melhor do que este ou aquele",  "eu cá não tenho este defeito como fulano ou sicrano", "sou o melhor cá da terra".
Há quem seja quase cego para enxergar os seus defeitos e limites, mas use lupa para mostrar os defeitos e limitações dos outros. Há quem esquece o provérbio, "médico, cura-te a ti mesmo."
Há quem se vanglorie daquilo de que se devia envergonhar!
Todos temos que ter cuidado. O farisaísmo é uma tentação de todos os tempos.
Reparemos nesta parábola de Jesus:
«Dois homens subiram ao templo para orar;  um era fariseu e o outro publicano.
O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças  por não ser como os outros homens,
que são ladrões, injustos e adúlteros,  nem como este publicano.  Jejuo duas vezes por semana  e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.

O publicano ficou a distância  e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;  Mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim,  que sou pecador’." (Evangelho de S. Lucas)


Não seriámos todos mais livres e felizes se deixássemos de perder tempo a elogiarmo-nos e reconhecêssemos mais os méritos dos outros e a importância de Deus?

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