1. Por muito que nos esforcemos, é praticamente impossível desvendar porque é que acontecem coisas más às pessoas boas e porque é que acontecem coisas boas às pessoas más.
À partida, esperar-se-ia que o mal acontecesse aos maus e o bem acontecesse aos bons. Não é, contudo, isso o que se verifica.
2. O que mais nos intriga é verificar como, por vezes, tudo parece correr bem a quem é mau ao mesmo tempo que tudo parece correr mal a quem é bom.
Porque é que o estudante compassivo e carinhoso não pode ser médico? E porque é que o cerebral e frio o pode ser só porque tem classificações altas?
3. Porque é que a pessoa discreta e simples nunca é reconhecida? E porque é que o arrogante é constantemente elogiado e exaltado?
Porque é que aquele que segue (apenas e sempre) os ditames da sua consciência tem dificuldade em obter emprego e em avançar na carreira? E porque é que aquele que alinha em esquemas alcança tudo o que pretende?
4. Dá a impressão de que a fortuna, a riqueza, a saúde, o poder e a fama batem à porta de quem passa a vida a mentir, a prejudicar, a rumorar e a retaliar.
Ao invés, a mesma impressão parece mostrar que a aflição, a doença, as dívidas, o prejuízo e a estagnação acompanham quem cumpre, quem é recto, quem nunca mente nem prejudica quem quer que seja.
5. Sabemos, por experiência própria, que a vida não é um mar de rosas.
Nem isto, aliás, lhe retira encanto. Os espinhos de uma rosa não lhe subtraem beleza. Apenas lhe acrescentam perigosidade.
6. A vida é como as rosas. Ela é feita de dor, sangue, suor e lágrimas.
Era melhor que nada disto nos incomodasse. Mas é quimérico presumir uma vida sem sofrimento. O que temos é de conseguir uma estratégia que nos permita ter uma relação pacificada com ele.
7. Apesar da habituação ao sofrimento, custa sofrer. Dói ver sofrer. Sobretudo quando deparamos com o sofrimento excruciante do inocente, do justo, da pessoa boa.
Por muito que intentemos uma compreensão, a nossa sensibilidade não deixa de ficar abatida, perturbada.
8. Harold Kushner, com base num drama familiar, escreveu um livro com um título deveras apelativo: «Quando acontecem coisas más às pessoas boas».
Há sempre um miríade de explicações possíveis, mas não há uma única que nos satisfaça. É que aquilo «de que as pessoas mais precisam — afirma Kushner — é de consolo, não de explicações».
9. E é bem verdade que, muitas vezes, «um abraço caloroso e alguns minutos de atenção e silêncio restabelecem mais o coração do que a mais informada dissertação»!
Fonte: aqui
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