sábado, 4 de dezembro de 2010

Portugal no ferro-velho

O génio que inventou o Ford T, o sr. Henry Ford, costumava ir ao ferro-velho buscar as carcaças dos seus carros. Apesar de poupado, ele não ia à procura de velharias para reutilizar, ia em busca de conhecimento. Abria os motores e remexia em tudo o que sobrava depois de anos de utilização intensiva. A ideia era simples: descobria as peças que tinham durado mais tempo e estudava o fenómeno. Não, ele não estava interessado em aumentar o ciclo de vida dos automóveis. Queria descobrir os materiais que teimavam em resistir demasiado ao passar dos anos e pedia aos engenheiros que fizessem o mesmo produto, mas com menos qualidade - a qualidade que estava a mais não beneficiava ninguém. Assim, ganhava ele (porque poupava) e ganhavam os clientes (que podiam comprar carros mais baratos).
Faz sentido olhar para os erros - mesmo os erros bons, como os do sr. Ford - e aprender com eles. Todos sabemos isso. Sabemos que não é possível viver em negação permanente. Sabemos que não é possível viver sempre a crédito. No entanto, é o que fazemos, certos de que um milagre nos salvará. Foi o que aconteceu ontem. Ontem, o presidente do BCE decidiu comprar mais dívida soberana (além de emprestar mais dinheiro aos bancos) e, com estes golpes, começou a fazer descer os juros da dívida pública que asfixiavam Portugal. Este balão de oxigénio, que o Banco Central Europeu já tinha prometido retirar, ajuda-nos a viver mais uns meses , mas não resolve nada. Adia, não cura.
Daqui a algum tempo, em Abril de 2011, o helicóptero de emergência do BCE deixará mesmo de nos atirar sacos cheios de dinheiro barato. Isso vai mesmo acontecer. Nessa altura, estaremos de novo mais expostos aos ventos frios do mercado. Se não tivermos começado a corrigir os erros - com o Estado a pão e água - então a antipática cavalaria do FMI tomará conta do País. Passaremos de cavalo para burro. Seremos apenas mais um caso de estudo ou um mau souvenir no ferro-velho da sra. Merkel e do sr. Trichet.
ANDRÉ MACEDO, in DN

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.