sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Fogo Antigo


Ardem os montes como quem grita
por socorro que não chega.
Nas aldeias, o tempo pára —
perde-se a casa, o gado, a vida.

Promessas? Muitas.
Planos? Alguns.
Ações? Poucas.

Há mãos que acendem por ganância,
e penas que mal pesam o crime.
Políticos falam, voltam costas,
e o verde vira cinza no silêncio.

Fica o medo —
nas rugas da velha que tudo perdeu,
nos olhos do homem que nada pôde fazer.

E os culpados seguem,
sem rosto, sem castigo,
como cinza levada pelo vento.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

15 de agosto - "Padre há 46 anos"

    

Nasci no dia 13,
fui ordenado no dia 15.
Maria, discreta e fiel,
foi presença desde sempre.

Há 46 anos disse “sim” com tudo:
alma limpa, coração ardente,
cheio da alegria da primeira hora.
Cristo era a paixão maior —
e continua a ser.

A vida ensinou muito.
Erros, insucessos, esperas…
mas também bênçãos sem fim.
Foi Deus quem me sustentou,
não os meus méritos —
mas a Sua graça.

Amo o povo que servi.
Não me sinto incompreendido,
sinto-me acolhido.
Mesmo quando nem todos veem
no padre mais do que um “funcionário”,
sei que muitos me quiseram bem.
E eu a eles.

Mas digo com verdade:
a Igreja — estrutura —
tantas vezes não cuida dos seus padres.
Pede muito, escuta pouco.
Fala de serviço,
mas esquece quem serve.

E é preciso saber sair a tempo,
antes que o corpo e o ânimo se arrastem.
Sair com dignidade,
sem que isso pareça desistir.

Sou padre para sempre,
não pelo cargo,
mas por amor a Cristo.
Hoje, como há 46 anos,
é Ele a razão do meu caminho.

A Ele, gratidão.
Ao povo, carinho.
À Igreja, um apelo:
cuidem dos padres.
Somos humanos,
não máquinas de sacramentos.

E que Maria, que me viu nascer e ordenar,
continue a guiar os meus passos —
até ao último dia.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

E continuo. A gostar de viver!


13 de agosto…
E não conto os anos —
conto os milagres.

Conto as manhãs em que, mesmo com dor,
acordei com vontade de amar.
As noites em que rezei em silêncio,
e senti Deus a velar por mim.

Fui moldado pelo sofrimento,
mas não vencido por ele.
As quedas fizeram parte do caminho —
mas foi nelas que a graça me levantou.

A minha vida tem sido dom.
Ofício de amor, de escuta, de cuidado.
Ao altar, ao Evangelho, ao povo de Deus.
E que povo tão bom o que me foi confiado!
Tantos rostos, tantas histórias,
tantas vidas que me ensinaram
que servir é também ser servido pelo amor dos outros.

A família…
ah, a minha família —
sangue, raiz, sustento.
Presença firme, mesmo na ausência.
Teceram em mim a fé, a coragem,
a alegria de ser quem sou.

E os amigos…
esses que preenchem os vazios com um simples existir.
Mesmo que liguem pouco, mesmo que o tempo passe.
Basta saber que estão.
E já não estou só.

E continuo.
A viver. A gostar de viver.
Mesmo com as limitações do corpo,
mesmo com a memória que, às vezes, se engana.

Sim, sou um milagre.
Milagre da intercessão de Maria,
essa Mãe que nunca falha,
a quem me confiei tantas vezes
como filho, como padre, como homem.
Costumo dizer-Lhe:
sou Teu milagre. E sou.

Hoje, não celebro só um número —
celebro a Graça.
Celebro o dom de ser,
de ter amado e sido amado.
Celebro os dias dados e os que ainda virão.
Até quando Deus quiser.

E depois…
peço p’ra cair nos braços d’Ele,
como quem regressa à Casa,
com o coração cheio de nomes,
de gestos, de afetos.
E descobrir, enfim,
que a liberdade maior
é ser eternamente de Deus.

Carlos Lopes

domingo, 3 de agosto de 2025

Situações que me deixam destoutiçado

Nestes últimos tempos, houve situações que me tiraram do sério.

1. Ao terminar hoje o Jubileu dos Jovens em Roma, um milhão de jovens de todo o mundo esteve com o Papa na Missa de encerramento. Alguns milhares eram portugueses.

Que tempo de antena teve este acontecimento na comunicação social portuguesa? que reportagens? Que presença de jornalistas? Não tenham dúvidas, se fosse um festival de verão com um terço desta gente, a comunicação social portuguesa não largava o acontecimento, entrevistava toda a gente e mais alguma coisa. Se fosse um escândalo no interior da Igreja, tínhamos telenovela no comunicação lusa... É esta falta de verdade que leva cada vez mais gente a abandonar a comunicação social, que, pela parcialidade, se desacredita. As pessoas já vomitam um jornalismo de "faca e alguidar", faccioso, só enxerga o lado doentio da realidade humana.

2. Um povo muito adverso a pensar. Gente primária para quem a tradição humana, o sempre se fez assim é que conta. Da meia noite de 3 até 7 de agosto, está em vigor a Situação de Alerta em todo o território continental. O que é que a "chico-espertice lusa" fez num local deste país que estava em festa para controlar a lei? Antecipou em meia hora o fogo de artifício. E o pior é que, pela reportagem que vi num canal de TV, pessoas dessa terra aprovaram abertamente a decisão da comissão de festas na antecipação do lançamento do foguetório, justificando com a tradição e a ausência de comparticipação monetária  para a festividade por parte do pessoal, caso não aparecessem os foguetes.
Entretanto, na situação tremenda em que se encontra o país quanto a incêndios, se um foguete tivesse pegado o fogo, eram a comissão e a população que iam apagá-lo? E se bombeiros tivessem ficado feridos ou falecido no combate a tal incêndio?
Sabemos que os portugueses adoram ficar de "papo ao ar" a ver os foguetes. Pessoalmente acho uma despesa quase inútil, mas respeito o gosto dos outros, O que  acho que deve ser condenável é a atitude egoísta e desumana de lançar foguetes só para manter a tradição, num contexto de incêndios que nos assaltam.

3. Ainda a propósito da calamidade dos incêndios:
- Como se quer que as matas sejam limpas quando nalguns lugares do interior só existem velhos que não têm forças para executar a limpeza das matas, nem têm dinheiro para mandar fazer?
- Que estão a fazer aqueles que recebem o rendimento mínimo e podem trabalhar? Se são pagos pelo dinheiro dos contribuintes, devem fazer algo pela sociedade. A limpeza das matas e dos campos era um trabalho que essa gente deveria fazer!
Se existem leis marcadas ideologicamente que o impedem, corrijam-se as leis. Senhores políticos, deixem de ser "caçadores de votos" e legislem em favor da justiça e da paz.
- As cadeias estão cheias. Que fazem os presos além de serem sustentados pelos impostos dos outros cidadãos? Essa gente deveria trabalhar, só lhes fazia bem,  formava-os para a vida e seriam úteis à sociedade que os sustenta.
- Os bombeiros, heróis nacionais, têm que trabalhar para sustentar a família. Tantas vezes, depois do trabalho, vão combater o fogo que outros deveriam ter evitado que acontecesse. Tantas vezes que abandonam a empresa para valer aos incêndios...
- Penas muito mais pesadas para incendiários, cumprindo essas penas em serviço em prol da sociedade.
- Penas pesadas para aqueles que se aproveitam dos incêndios - há quem diga que os poderão incentivar - para seu enriquecimento. Quem possa provocar um incêndio, com a finalidade de se enriquecer, é um monstro e deve enfrentar a oposição e determinação social e legal.
São situações  assim que atiram os eleitores para os braços do Chega.  Não se resolvem estes e outros casos,  estende-se uma passadeira  ao Chega...

4. A sociedade que muda e os comentadores que não mudam
Há tempos, dizia-se que Portugal é um país ideologicamente de esquerda. E esta ideia estava tão impregnada na mentalidade comunicativa que os canais de TV escolheram como comentadores, maioritariamente, pessoas que orbitam a esquerda. 
A sociedade está a mudar, a esquerda é hoje bem minoritária. Mas os comentadores continuam os de antigamente, desfilando as mesmas teorias e ideologias. Sinal de que não são escutados! Dito de outra forma, quem fica contente com estes comentadores é o Chega...
Parece que os responsáveis pelos meios de comunicação social entendem que para ser comentador são precisas duas garantias:
- orbitar a esquerda
- ser ateu ou agnóstico.
Pobres e desfasados critérios! 
Depois queixam-se que o Chega cresce!
O problema é que se o Chega ganha, não são só estes  que sofrem as consequências. É toda a sociedade.