terça-feira, 30 de julho de 2024

FEZADAS E FESTINHAS NA(S) IGREJA(S)

 “Não sabia” (não quiseste saber). “Nunca me disseram” (nunca quiseste ouvir). “Cá tenho a minha fé” (então não precisas da Igreja). “Falo diretamente com Deus” (e regista o que Ele te diz). “Gosto de rezar sozinho” (sabes lá o que é comunidade!). “Vou a Fátima todos os anos” (e à bruxa ou aos arraiais?). “A religião não é sempre a mesma?” (talvez, o dever de ir à Missa aos Domingos já tem dois mil anos). “Sempre me ensinaram assim” (há sempre quem rejeite a teoria da evolução). E outras demagogias e lugares-comuns que justificam as diferentes fezinhas, fezadas e festinhas.

A Fé não é uma teoria, um sistema religioso ou ideológico, um ritualismo vazio e desencarnado nem uma simples filosofia (teosofia?), uma boa vontade inócua. Tão pouco há de ser apresentada e defendida a olhar para os “registos” passados (o cemitério e as cadeias estão sobrelotados) ou adiada para o futuro das boas intenções, que cevam o Inferno. A fé cristã (dos que seguem Cristo) é presente ( = hoje e dom): vivida (vivenciada) nas escolhas, valores/princípios e prioridades. A fé diz-se com a vida.

Dizer-se cristão (ser?) é conhecer (amar) Cristo: Pessoa e Mensagem (Evangelho). É encontro de pessoas (Ele, Eu, Nós = comunidade) que se amam, conhecem, (con)vivem e se empenham em dar continuidade ao Reino por Ele inaugurado. É saborear o Pão e Palavra dos filhos de Deus em cada banquete dominical que Jesus nos oferece. Que privilégio!
É a “hora” de matar de vez a hipocrisia (má-fé, artimanha) e mentira da “fé à la carte”, onde cada um sabe tudo, escolhe o que quer, rejeita o que não lhe dá jeito, define os próprios valores e doutrina, dissemina gostos e oculta princípios ao arrepio do Evangelho. Piedosos e oportunistas. Devotos e usurpadores. Gente que faz da igreja um salão de festas, do padre um fantoche e dos outros cristãos uns pategos, dos quais se riem e criticam ferozmente. Sem esquecer que “tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”.
Quem muito conhece, muito ama. Quem muito ama, quer encontrar-se. Quem O encontra, mais O há de dar a conhecer. E quem O diz razão da sua vida, mais razões tem para O levar à vida aos outros. Porque a identidade do cristão é Cristo: “É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.” (Fil 1,21)
O Papa Francisco sugere, mas muitos insistem em não entender (padres e bispos incluídos): «A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respetivas comunidades. Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia.» ("Evangelho da Alegria" 33)
(P. António Magalhães Sousa)

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