Há uma diferença colossal e sinistra entre “falar” do protagonismo dos jovens na Igreja e “assumir” uma pastoral com os jovens como protagonistas. Não basta dizer-lhes que são “importantes e imprescindíveis”; é necessário mostrar-lhes, pelas ações, que estamos disponíveis para caminhar com eles. Afinal, não será este o sentido pleno (autêntico, real) do Sínodo?
Segundo o Papa Francisco, «precisamos de criar mais espaços onde ressoe a voz dos jovens: A escuta torna possível um intercâmbio de dons, num contexto de empatia. Ao mesmo tempo, estabelece as condições para um anúncio do Evangelho que alcance verdadeiramente, de modo incisivo e fecundo, o coração» (CV 38). «A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós» (CV 199).
«[Os jovens] fazem-nos ver a necessidade de assumir novos estilos e estratégias. Por exemplo, enquanto os adultos procuram ter tudo programado, com reuniões periódicas e horários fixos, hoje a maioria dos jovens sente-se pouco atraída por estes esquemas pastorais. A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo» (CV 204).
Assim, faz-me uma enorme confusão que a Conferência Episcopal em uníssono ou as dioceses individualmente não dediquem o próximo ano pastoral exclusivamente aos jovens. Se queremos que sejam o coração da Igreja não os podemos colocar nas franjas da pastoral. Não seria um rasgo profético que, no próximo ano, a agenda dos pastores (padres e bispos) fosse preenchida por encontros com jovens? Não é preciso um programa formal, apenas vontade e disponibilidade para estar, ouvir, sentir, conhecer, partilhar, conviver, vivenciar. E pode ser promovido de tantos modos: encontros, saraus, acampamentos, retiros, atividades lúdicas e desportivas ou pequenos momentos de oração.
Não seria mais sensato (sinodal) suspender as visitas pastorais oficiais (geográficas) e reservar a agenda para estas visitas etárias (pessoais = jovens)? Os fazedores de pastoral ainda não intuíram que “os mesmos caminhos só levam aos mesmos lugares” e, nitidamente, não nos levam aos jovens? É indecente (demagogo, hipócrita) “declarar amor” a quem apenas é tratado como sobras ou apêndice. Os jovens não podem ser “pretexto” dos trejeitos dos adultos. Eles querem (e merecem) ser o “texto” das opções, ações e prioridades.
Sem este rasgo profético e pastoral as JMJ 23 não passarão de um megaevento com jovens como tantos festivais e raves onde eles são protagonistas. Entretanto, “passou o dia, passou a romaria” e hão de regressar aos mesmos lugares e práticas, talvez agradecidos pelo momento, mas não convertidos ao Senhor; talvez encharcados nas palavras, mas não convencidos da Palavra; talvez admiradores (cultores) dos agentes, mas não seguidores do Mestre.
(P. António Magalhães Sousa), aqui
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