Por que razão os deputados da Assembleia não votam o fim do trabalho ao domingo, mormente em hipermercados e centros comerciais? A cruzada contra o abuso do sal e açúcar ou do consumo de carnes não devia alargar-se à promoção do tempo e dignidade do ser humano? O descanso (lazer, convívio) é essencial para o bem-estar.
O medo de afrontar os tubarões do capital (subsidiários dos partidos) ou de baixar a colheita de impostos tolhe-os. O domingo, em vez de facilitar a convivência e paz familiares, é uma máquina de tortura: desespero pela vinda de uns, diligência na partida de outros. Verdadeiro corrupio de agentes laborais.
A solução, numa sociedade culta e madura, poderia passar pelo boicote dos cidadãos = consumidores. Se o domingo, em vez de ser dia de “ir às compras” ou “passear no shopping”, fosse empregue para visitar familiares e amigos ou jardins e espaços de lazer, dormir a sesta ou “pôr a conversa em dia”, não haveria necessidade de legislar. Mas, mudar mentes e hábitos em Portugal, só mesmo por decreto.
O domingo foi, na história do cristianismo, um pilar da sua identidade, por celebrar o descanso após a criação e a vitória pascal de Jesus sobre a morte. Os cristãos, fiéis aos Mandamentos, guardavam-no para ir à missa (reunir-se à volta da Mesa) desfadigar e reunir a família.
Todos os papas têm insistido no sentido, lugar e importância do “Dia do Senhor”. No entanto, alguns cristãos preferem curtir a noite de sábado e dormir no dia seguinte. Outros ocupam-no com caminhadas, passeios de bicicleta, futebol e iniciativas diversas. E há quem faça dele mais uma jornada de trabalho.
Invertidas as prioridades, falta tempo (vontade?) para o essencial: missa, convívio familiar, descanso. Sem a comunhão das mesas (igreja e família), arrefecem os afetos, esbanja-se o simbólico e a fé definha. Uma militância lúgubre, sem deferência pela doutrina e tradição, vergada a modas e ambições, dando de barato que “santificar domingos e festas de guarda” é cantilena de sacristia… E até ousam uivar, de peito feito e insultando a inteligência, “sou católico não praticante”, numa confissão sublime de hipocrisia e demagogia.
(P. António Magalhães Sousa, Facebook)
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