sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O 1º encontro do novo pároco com os paroquianos


Aquele pároco tinha acabado de chegar à nova paróquia. Decide convidar para um encontro as pessoas que integram grupos, irmandades, comissões, serviços e TODA a comunidade.
O velho salão paroquial ficou completamente cheio. Certamente pela curiosidade de conhecer, ouvir, falar e contactar com o novo pároco.
Depois da saudação e de um momento de oração, o padre pede que as pessoas se manifestem livre e francamente, solicitando que o façam, falando um de cada vez e de pé para que se faça ouvir melhor. Pede ainda que as pessoas se pudessem ouvir claramente sem ruídos.
“Como deve ser a vida da comunidade paroquial?”, propõe o sacerdote como tema de debate.
O sacerdote sentou-se, virada para o povo, munido de caneta e papel para registar as intervenções.

Homem, na casa dos 70:
“Que o sr. Padre mantenha as nossas tradições. As procissões, novenas e festas, etc”. Muitas pessoas abanaran a cabeça em sinal de concordância.

Senhora, na casa dos 30:
“ Que se possa batizar quando a gente quer, onde quer e com os padrinhos que quer. Ah! E que acabem aquelas reuniões de preparação para o batismo que só servem para tirar tempo…”

Homem, na casa dos 40:
“Que o Conselho Económico seja eleito pelo povo.”

Senhora, na casa dos 70:
“Que possamos colocar as flores que quisermos nos altares e que o sr. Padre organize concursos para que as pessoas escolham qual a zeladora que tem o altar mais bonito.”

Jovem, 19 anos:
“Que o sr. Padre chame os jovens para a Igreja, lhes dê protagonismo e traga para a Igreja as novas tecnologias.”

Senhora, casa dos 50:
“Devia separar-se o folar da visita pascal. A cruz vai a nossas casas para a gente a beijar, não para recolher o dinheiro. Quem quisesse deixar o folar que o fizesse na Igreja.”

Adolescente, 14 anos:
“Acabar com tantos anos de catequese. São uma seca.”

Homem, na casa dos 40:
“Queremos que o padre acompanhe o farrancho. Vá ao café, apareça nas tainadas, nos arraiais, no desporto. O padre só é padre na Igreja; cá fora é um homem como os outros.”

Senhora, na casa dos 50:
“Sr. Padre, visite os doentes, vá a casa de quem o convidar, atenda os grupos. Mas cuidado! Não se exponha! Olhe que quem o avisa seu amigo é…”

Senhora, casa dos 80:
“O sr. Padre tem que vir muitas vezes rezar o terço e dar a Bênção do Santíssimo. O terço rezado pelo padre é outra coisa!...”

Presidente da Junta, casa dos 30:
Benvindo à nossa terra, caro padre! Espero que colabore connosco no esclarecimento do povo e que esteja de acordo connosco.”

Senhora, casa dos 60:
“Sr. Padre, há muitos associados do Apostolado da Oração que não pagam as quotas. O senhor tem que resolver o problema.”

Homem, casa dos 60 anos:
“A Irmandade das Almas precisa de umas opas novas, as que temos estão muito velhas. O senhor tem que tratar deste assunto.”

Jovem, na casa dos 20:
“Há que dar uma reviravolta nos casamentos. Acabar com as reuniões de preparação que não interessam, e podermos organizar a cerimónia de maneira moderna, com aquelas músicas de que gostamos…”

Senhora, casa dos 40:
“ Há que dar a comunhão a toda a gente. Que tem a Igreja a ver se a pessoa é casada, é solteira, divorciada ou recasada? Cada um é que sabe…”

Homem, 50 anos:
“Sou do conselho económico. As obras que temos que fazer são mais do muitas. A igreja precisa de uma mova bancada. A capela de Santo Agostinho deixa entrar água pelo telhado. Como vê, este salão necessita de uma pintura nova. A capela de Santa Engrácia tem o soalho todo podre. Já para não falar dos santos que precisam de restauro… O sr. Padre tem que mover influências para realizarmos as obras, precisamos que nos ajudem.”

Senhora, casa dos 60:
“Sou catequista. Os miúdos estão insuportáveis e os pais não querem saber. O sr. Padre tem que meter a catequese na ordem!”

Catequista, casa dos 30:
“Sou catequista. Estou cheia de pedir dinheiro ao conselho económico para modernizarmos a catequese. Sem resultado. O sr. Padre tem que resolver este assunto.”

Criança, 9 anos:
- A minha catequista é uma chata. Queremos um catequista novo que brinque connosco e jogue connosco, que seja bué de fixe.”

Senhora, casa dos 40 anos:
“Trabalho no Centro de Dia. Precisamos que o Padre apareça para entreter os idosos.”

Homem, casa dos 50:
“O padre não pode demorar muito na Igreja, temos a nossa vida. Vale mais falar pouco e bem. Depois é preciso que o coral não demore tanto nas músicas…”

Senhora, casa dos 50:
“Nos funerais, casamentos e batismos, tem que elogiar muito as pessoas, encher-lhes o coração, e não estar lá com aquelas coisas da Bíblia…”

Jovem, 28 anos:
“Eu acho que o senhor deve falar-nos da Palavra de Deus. As cerimónias religiosas não são nenhum laudatório de pessoas.

Homem, casa dos 50:
"Há 10 anos que sou sacristão e dão-me um quase nada. Preciso que me aumente a prestação."

Homem, casa dos 40:
"Vou poucas vezes à Igreja. Detesto que o padre esteja semnpre a lembrar que  não devemos faltar à Missa de Domingo! A gente vai quando quer... E muitas vezes os que vão sempre ainda são piores do que os outros..."

Terminada a intervenção das pessoas, o novo pároco levanta-se e faz a sua intervenção.

“ Parabéns pelas vossas intervenções. Manifestaram-se e isso é bom. Mas quero comunicar-vos o que me vai na alma:
- Um homem, que é casado, só é casado quando está com a sua esposa? Um homem, que é pai, deixa de ser pai quando não está com os seus filhos? Assim o padre, é sempre padre, esteja onde estiver.
- Vim para vos servir. Mas não chego para ser escravo de ninguém, nem dos caprichos, manias, preconceitos de alguém.
- Não venho para ser um funcionário da religião. Venho como padre. Somos todos Igreja pelo batismo, onde, na igualdade de filhos de Deus, cada um exerce o seu serviço a favor de todos.
- Falaram de conservar as tradições. Eu ando aqui a tentar não acabar com uma Tradição que já vem de há muito mais tempo do que aquelas que vós enumerastes, e com a qual, pelos vistos, as pessoas se preocupam cada vez menos, a Eucaristia. Sem Eucaristia não há comunidade. Desejo que a partir de hoje a Eucaristia esteja no centro das nossas preocupações. De todos!
- Não vi grandes referências à Pessoa e à Mensagem de Jesus Cristo. Ora sem Cristo a Igreja não passa de uma ONG, sem importância, Precisamos de recentrar toda a vida da nossa comunidade em Cristo. É que a Igreja existe por causa de Cristo.
- Indicastes várias áreas onde julgais importante a minha intervenção. Mas ninguém solicitou acções de formação cristã sobre a Palavra de Deus, a doutrina da Igreja… Ora precisamos de cristãos formadas, com razões de acreditar…
- Ninguém referiu a importância do Sacramento da Confissão. Nunca melhoraremos sem não tivermos consciência dos nossos pecados e não recorrermos à misericórdia de Deus.
- Somos diferentes uns dos outros e ainda bem. Nem sempre estaremos de acordo. Mas as nossas diferenças terão que enriquecer a comunidade e não  afastarmo-nos uns dos outros. Cristo, que nos une, é muito mais do que as pequenas coisas que nos possam separar.”

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