Pensamos. Propomos. Queremos. Sonhamos. E sofremos. Quanta desilusão! Quanta tristeza! Sim, semear… Mas não há terrenos disponíveis. Estão ocupados com muitas outras coisas. Tudo é importante, menos Deus. Ou melhor, procuram Deus quando tudo falha ou dá jeito… É triste – ultrajante – o modo como novos e menos novos mandam Deus às favas.
Não há sentido de comunidade = família de famílias. A paróquia existe para serviços e necessidades. Por mais que tentemos chamar à razão e lembrar que sem Deus tudo é efémero, continuam a rir-se d’Ele e de quantos O servem. Têm tempo e vontade para tudo, menos para Deus. Nas 168 horas duma semana não conseguem reservar uma para Deus. Uma hora! Têm fezadas e fezinhas a rodos! Criaturas ingratas, oportunistas e parasitas, porque não dão absolutamente nada e exigem quase tudo.
As igrejas vão paulatinamente ficando vazias de fiéis. Sem surpresa. Pena que os responsáveis (papa, bispos e padres) as mantenham abertas para serviços e eventos sociais, sobretudo para justificar e exigir “entradas”. Uma vergonha. Simonia? Blasfémia? Sacrilégio? É o que sobra e, para sobreviver, a lapa agarra-se ao que resta. Sem respeito pelo sagrado prospera o profano: Rende, mas não salva; faz crescer a estatística, mas não granjeia discípulos; obtém a aprovação dos poderes públicos, mas não os (con)vence.
É incrível como vários fiéis – sobretudo casais novos - acolhem a preparação para o matrimónio ou o batismo dos filhos, elogiam e anuem à importância da formação e adesão à fé (comunidade e prática cristã) e, obtido o serviço desaparecem da Igreja ou aparecem esporadicamente. Não é por trabalho ou motivos de causa maior… é simplesmente porque já não precisam e só faz sentido voltar quando outra necessidade surgir. Vivem os domingos sem Deus, mas querem Deus todos os dias ou os serviços da Igreja quando vaidades sociais o exigem. Uma vergonha e um incómodo de pessoas e, sobretudo, de cristãos fingidos. Parasitas da fé. E há-os aos rodos.
Também grave é que, segundo os ditames dos sabidos da Igreja, estes oportunistas devem ser bem acolhidos, ou seja, mostrar um sorriso (mesmo que amarelo), atender às suas precisões (mesmo que porcalhadas) e satisfazer os seus gostos, caprichos, necessidades. É a Igreja que temos. De uns chico-espertos que a usam e de uns iluminados que abrem as pernas a tudo. Sem rei nem roque.
Mau mesmo é o padre que avisa, propõe preparações para os sacramentos, procura evangelizar e chama a atenção para a pertença à comunidade, a colaboração e fidelidade às promessas (própria e/ou em nome de outrem). Quem quer “ser Igreja” facilmente é descredibilizado pelos paraquedistas da fé (surgem para o espetáculo) ou pelos negociantes do sagrado (surgem para serviços). E há sujeitos – a quem também chamam padres – que se dão ao prazer de facilitar tudo isto, branquear e estar ao serviço destes comedores e profanadores do sagrado. A verdade é que Jesus também gramou com Judas Iscariotes durante três longos e simbólicos anos…
Não adianta sofrer ou sonhar. Conheço tantos a quem batizei, acompanhei (e elogiei) na festa da Eucaristia ou da Confirmação, ajudei a crescer na fé, assisti ao matrimónio ou “facilitei” em algum momento que não passam de falsos e oportunistas “católicos”: têm rótulo (sacramentos, carimbos) mas não têm absolutamente mais nada, antes pelo contrário. E mais grave, acham que têm razão em mandar Deus às favas; e até pensam que o burro sou eu. Em alguns casos chegam a rir-se de mim ou a saudar ao passar… e eu, por educação, tenho escolhido calar, ignorar, engolir em seco. Porque se “o que não tem remédio, remediado está”, também é verdade que a justiça de Deus “tarda, mas não falha”. E até é engraçado ouvi-los porque acabo por não saber se dar mais atenção ao cinismo e hipocrisia que destilam, se às desculpas falaciosas e infames de que se servem. E sim, é muito triste quando julgam os outros mais burros que eles…
(P. António Magalhães Sousa)
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