quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ENTRE CRISTÃOS PODERÁ HAVER CONDENAÇÕES?

Percebe-se que, por vezes, haja necessidade de advertir. Mas haverá alguma legitimidade para condenar?

A liberdade, pela sua própria natureza, preceitua a pluralidade e acolhe a diferença.

No quadro desta diferença, é admissível que haja alguém que funcione como alerta. O diálogo é tecido de fluência, influência e refluência. Em relação à verdade, ninguém é dono. Todos somos peregrinos na sua busca.

É por isso que, na liberdade, a descoberta não exclui a possibilidade do erro. Mas alguma vez será lícito o castigo por errar?

Só não erra quem não busca. Só não cai quem não caminha.

Hoje, graças a Deus, já não há execuções na fogueira. Mas, infelizmente, ainda sobram algumas imposições ao silêncio.

Aceita-se que nem tudo o que Leonardo Boff e Bernhard Häring escreveram esteja concorde com a ortodoxia. Percebe-se que, fraternalmente, se chame a atenção. Mas será que punir pelo que se pensa é uma atitude cristã?

Confesso que Leonardo Boff nunca fez perigar a minha fé. Pelo contrário, até acrescentou entusiasmo ao meu crer de adolescente e jovem.

Jesus Cristo LibertadorA Trindade é a melhor comunidade, A Graça libertadora no mundo ou A vida para além da morte mostram, para lá de recursos conceptuais, uma vibração enorme.

São livros que trouxeram o tesouro de sempre para o tempo de hoje. Mais: conseguiram arriscar, tomar uma posição. Os preteridos passaram a preferidos, a protagonistas. Quem? Os pobres.

O que Boff assinala em A Igreja, carisma e poder estará atravessado por algum excesso. Mas isso é o preço de quem não fica de braços cruzados.

Que houvesse um diálogo fraterno aceita-se. Mas que se imponha silêncio a quem faz da palavra forma de vida e instrumento de serviço é algo que deixa um desconforto na alma.

Reconheço que, embora caladamente, o acompanhamento do processo movido a Leonardo Boff foi das primeiras grandes decepções que tive na vida.

Entre cristãos, entre discípulos do mesmo Jesus, as coisas não poderiam ser resolvidas de outra maneira?

Será que um teólogo também não recebe inspiração?

Foi Paulo que disse que Jesus Cristo nos libertou para a liberdade.

É importante habituarmo-nos à largueza de horizontes de Cristo. E o próprio Cristo fala não apenas pela voz da autoridade.

Aliás, se a autoridade em nome de Cristo é um serviço, é como irmãos (e jamais como senhores) que temos de nos ver e como servos que temos sempre de nos comportar.

Um servo serve. Avisa. Mas nunca condena.

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