sexta-feira, 9 de maio de 2008

Há razões que a razão desconhece

Já há, infelizmente, acidentados entre os peregrinos que, por esta altura, demandam o Santuário de Fátima, tendo em vista a grande peregrinação de 13 de Maio.
Vagas e vagas de caminhantes movem-se no mar nem sempre calmo das estradas portuguesas, tentando atingir a praia da paz em Fátima. Uns fazem-no por promessas feitas; outros vão "na desportiva"; ainda alguns, por realizarem a experiência de peregrinos que é conatural à fé cristã.
Não apoio uma religião de tremendos sacrifícios. Penso que não é isto que Deus quer. Não é a mensagem de Fátima. Mas cabe-me respeitar o sentir profundo das pessoas, as suas razões, mesmo que a minha razão não perceba.

Certa vez, acompanhei um grupo de pessoas a Fátima, num passeio paroquial. Há quantos anos, meu Deus! No autocarro falei sobre a violência de alguns sacrifícios e disse-lhes que Deus não é nenhum carrasco nem nenhum sanguinário que se compraz na dor e no esmagamento das pessoas. Deus ama-nos demais, quer salvar-nos, libertando-nos de tudo o que nos oprime. Por isso, apela à nossa conversão constante.
Pois bem, pela noite dirigia-me com mais duas pessoas para a Capelinha das Aparições para uns momentos de oração. Caminhava pela passadeira que, da Cruz Alta, termina na Capelinha. A certa altura, vejo um pessoa que percorria esse espaço de joelhos. Dava para notar que o fazia com grande, grande esforço. Percebi logo a seguir que era uma das minhas. Fiz-lhe um "sermão". Ela ouviu, ouviu e depois pediu-me calmamente: "- Dê-me a mão!" E lá fui... Ora toma! Para aprenderes a respeitar mais o sentir dos outros.

Uma passagem por Fátima é para muita gente um experiência fantástica de paz. Para mim também. Por isso não gosto de lá ir nas grandes concentrações. Prefiro as noites de tempos mais calmos. Então saboreio a serenidade imensa que brota daquele espaço. Estar ali, sem limites horários, na Capelinha das Aparições, é qualquer coisa de indizível...
Mas Fátima marca a vida de cada um. Mexe, transforma, é convite refrescante à mudança de vida, à conversão a Cristo e ao seu Mandamento Novo. Só assim Fátima adquire plenitude de sentido.

Mas custa-me muito a compreender:
- Pessoas que são capazes de ir a Fátima a pé e que depois, nas suas terras, nunca põem os pés na EUCARISTIA dominical.
- Pessoas que esgotam toda a sua religião na Procissão de velas (claro, com velinha na mão!), no queimar de velas, na oferta de flores e/ou de dinheiro. Nem todas participam, mesmo lá, na Missa. Depois encerram par férias até à próxima visita à Cova da Iria.
- Os negociantes do sagrado. Não me refiro a quem lá tem os seus negócios. Refiro-me antes aos que passam a vida a negociar com Deus. "Se me fizeres isto ou aquilo, vou a Fátima a pé e dou-Te lá uma esmola, juntamente com umas tantas voltas de joelhos..."
- Os profissionais dos Santuários, sejam eles Fátima, Lapa ou outros. Para irem aí, estão sempre prontos, apesar das dificuldades. Mas para serem membros activos na sua comunidade, para darem algum tempo a favor da sua formação cristã, dos irmãos, dos necessitados ou do bem comum, nunca estão prontos...
- Os agentes pastorais dos Santuários estão a fazer todos os esforços em ordem à "purificação da fé?" A linguagem utilizada é a mais edequada às nossas gentes? Será que as pessoas a entendem?
É PRECISO MUDAR! - diz-nos o Papa.

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