É
primeira lição que o Papa Francisco recolhe da festa da Sagrada Família que
hoje se celebra enquadrada no tempo do Natal.
Disse o
Pontífice, aquando da recitação do Angelus
com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro, que a perícopa do Evangelho (Lc
2,22-40) hoje
proclamada nos convida a refletir na experiência vivida por Maria, José e
Jesus: “crescem em conjunto como família
no amor recíproco e na confiança em Deus”. E é esta confiança em Deus e a sua
fidelidade à Lei de Deus, herdada de Moisés, que provoca o cumprimento do rito
da oferta do filho Jesus a Deus feita por Maria e José: “levaram o menino a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, como
prescrevia a lei de Moisés” (cf Lc 2,22).
E
Francisco entende que “os pais de Jesus vão ao templo para mostrarem que o
filho pertence a Deus e que eles são custódios da sua vida e não
proprietários”. E esta reflexão faz extrapolar para o estatuto das demais
famílias: “todos os pais são guardiões da
vida dos filhos e não proprietários; e devem ajudá-los a crescer e a amadurecer”.
Com efeito, os pais dos filhos primogénitos em Israel, sendo abastados pagavam
5 ciclos e sendo pobres, ofereciam em sacrifício “duas rolas ou duas pombas” em sinal de
consagração ao Senhor e como resgate para poderem exercer a guarda. Os
progenitores de Jesus, apesar de serem da descendência de David, pertenciam ao
grupo dos pobres.
Ora, uma das etapas do crescimento que os pais devem
ajudar é a ida ao templo “para atestar que o filho pertence a Deus”. E, a
partir do gesto conjunto de Maria e de José, Francisco infere:
“Este gesto sublinha que somente Deus é o
Senhor da história individual e familiar; tudo nos vem d’Ele. Cada família é
chamada a reconhecer tal primado, custodiando e educando os filhos para
abrirem-se a Deus que é a fonte da própria vida.”.
É à luz
destes pressupostos que o Pontífice enquadra a presença do velho Simeão e da
profetiza Ana no templo naquele momento. Simeão vem ali inspirado pelo Espírito
Santo, que lhe revelara que havia de contemplar o Messias de Israel, e, tomando
o menino nos braços, bendisse a
Deus com satisfação, dizendo:
“Agora, Senhor, segundo a tua
palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo”.
Na sua
ancianidade, abençoou aqueles pais, que ficaram admirados com tudo aquilo
ouviram; e, na sua perspicácia juvenil, advertiu
Maria:
“Este menino está aqui para queda e
ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada
trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos
corações.”.
E Ana, que não se afastava do templo, participando no culto noite
e dia, com jejuns e orações, apareceu nessa mesma ocasião, pondo-se a louvar a
Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
O Papa
sustenta que passa por esta entrega confiante e amorosa a Deus “o segredo da
juventude interior testemunhado por um par de anciãos, Simeão e Ana”. E infere:
“Estas palavras proféticas [de
Simeão] revelam que Jesus veio para fazer cair as falsas imagens que nós
fazemos de Deus e também de nós mesmos; para ‘contradizer’ as seguranças
mundanas sobre as quais pretendemos apoiar-nos; para fazer-nos ressurgir para
um caminho humano e cristão autêntico verdadeiro, alicerçado nos valores do
Evangelho”.
E também o
Pontífice profetizou numa linha de esperança:
“Não há situação familiar que esteja previamente fechada a este caminho
novo de renascimento e de ressurreição. Cada vez que
as famílias, mesmo aquelas feridas e marcadas pela fragilidade, fracassos e
dificuldades, voltam à fonte da experiência cristã, abrem-se novos caminhos e
possibilidades impensadas.”.
***
Francisco
retomou a passagem deste Evangelho que narra o retorno da Sagrada Família à
Galileia, mais precisamente à sua cidade de Nazaré, para
falar sobre a importância do crescimento dos filhos. Anotando que “o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e
a graça de Deus estava com Ele”, o Bispo de Roma, afirmou:
“Uma grande alegria da família é o
crescimento dos filhos, todos sabemos disso. Eles são destinados a crescer e
fortificar-se, a adquirir experiência e acolher a graça de Deus, precisamente
como aconteceu com Jesus. Ele é realmente um de nós: o Filho de Deus se fez
criança, aceita crescer, fortalecer-se, é cheio de sabedoria e a graça de Deus
está com Ele.”.
Maria e José
têm esta alegria de ver tudo isto em seu filho – observou – frisando que “esta
é a missão para a qual é orientada a família”:
“Criar condições favoráveis para o crescimento
harmónico e pleno dos filhos, para que possam viver uma vida boa, digna de Deus
e construtiva para o mundo”.
E foram
estes os votos que Sua Santidade dirigiu hoje, dia da Sagrada família, a todas
as famílias, acompanhados com a invocação a Maria, Rainha das Famílias”, ao
concluir a sua reflexão que precedeu a oração do Angelus.
***
Depois da
recitação do Angelus, o Papa exprimiu
a sua proximidade junto dos irmãos coptas ortodoxos do Egito, atingidos há dois
dias por dois atentados, um numa igreja e outro num estabelecimento comercial,
nas periferias do Cairo; e pediu ao Senhor que acolha os defuntos, cure os
feridos, conforte os familiares e toda a comunidade e converta os corações dos
violentos.
Dirigiu uma
saudação especial às famílias ali presentes e àquelas que participaram naquela
oração a partir de casa, pedindo à Sagrada Família que as abençoe e guie no seu
caminhar.
Saudou os
romanos e os peregrinos, em particular os grupos paroquiais, as associações e
os jovens. Pediu que não se esquecessem de, neste dia, dar graças a Deus pelo
ano que agora finda e pelos bens que cada um recebeu. Se, de facto, o ano
transcorrido trouxe provações e dificuldades, também trouxe ajuda para as
superar e muitas coisas boas, que é justo agradecer ao Senhor.
Hoje –
proclamou o Pontífice – é dia de ação de graças!
2017.12.31 – Louro de Carvalho
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