Artur (nome fictício) tem 12 anos. O pai abandonou-o a ele, aos irmãos e à mãe, partindo com a nova companheira para longes terras.
Artur anda na escola, mas nos tempos em que não há aulas e a mãe arranja trabalho, ele acompanha-a. Porque o ambiente de casa não o atrai? Porque assim terá acesso a uma refeição mais farta? Porque espera receber do patrão alguma recompensa por pequenas tarefas que possa desempenhar? Para brincar com familiares do patrão que são da sua idade?
Quando vai com a mãe para o trabalho do campo é um excelente companheiro. Educado, simpático, alegre, espontâneo. Sempre disponível para colaborar.
Há tempos uma chuvada atingiu-o a ele e aos trabalhadores em pleno descampado. A força das bátegas era superior à das pernas e, quando chegaram ao abrigo, todos iam ensopados. Amparados da chuva forte, os trabalhadores vão aos sacos procurando roupa para se mudarem.
- Não te mudas, Artur?- Deixe lá, isto seca num instante!
- Mas faz mal secar a roupa no corpo...
- Pois... - e encolheu os ombros.
- Vá lá, toca a mudar-te!
- Oh! Eu não trouxe outras calças. Só tenho dois pares. Um que está a lavar para levar para a escola e este....
Um arrepio frio calcorreou a espinha dos trabalhadores. Como era possível? Que raio de mundo tão injusto! Uns com tanto, outros com tão pouco...
O Artur tem em cada trabalhador um amigo. A cada gesto de amizade, corresponde com um sorriso profundo, belo, reconfortante.
O patrão não é homem para grandes conversas. Mantém alguma distância para com os trabalhadores. Às vezes antipático até. Por isso os trabalhadores fazem o seu trabalho o melhor que podem, sem conversas. Mas quando ele é mais arrogante e prepotente com o Artur, a resposta recebe-a de imediato de um ou outro trabalhador:
- O senhor fala assim com os seus? É por o pequeno ser pobre, é? Esquece-se que é um menino?
Quando tal é possível, há trabalhadores que o vão buscar para passar um bocado em suas casas. A mãe, que conhece bem os colegas de trabalho que tem, aceita, agradecida. E o Artur lá vai, contente, correto, falador. Quase sempre regressa a casa com uma prendita que lhe enche a alma e que retribui com um sorriso de orelha a orelha.
É, Artur. Tu tens razão. Quando referes que chumbaste um ano porque não te aplicaste, mas que a partir daí passaste a ser um dos melhores alunos da tua turma, porque, tu o frisas, "os ricos podem ter mais coisas, mas não têm mais inteligência."
Força, miúdo! Conquistarás a pulso o teu lugar na mesa da vida.
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