terça-feira, 28 de outubro de 2014

"Quem é que, hoje, estaria disposto a dar a vida pelos valores europeus?


Os valores da Europa livre podem ter-se tornado abstracções para muitos dos seus cidadãos, mas há quem esteja disposto a dar a vida por eles, afirma o líder da Igreja Greco-católica da Ucrânia, Sviatoslav Shevchuk.

O responsável pela maior de todas as igrejas católicas de rito oriental defende a integração da Ucrânia na Europa e na União Europeia e explica que não teme que isso ameace os valores tradicionais daquele país.

"Não sinto medo, sinto esperança. Os valores europeus vão mudar a Ucrânia de muitas maneiras, mas nós podemos ajudá-los a redescobrir as raízes europeias da Europa", disse.

Em entrevista ao Crux, um "site" associado ao "Boston Globe" que acompanha a actualidade da Igreja Católica, Shevchuk recordou que centenas de ucranianos deram a vida por este sonho e perguntou: "Quem é que, hoje, estaria disposto a dar a vida pelos valores europeus? Por um salário melhor, ou por um iPhone, alguns dariam. Mas pelos valores? Tornaram-se uma coisa muito abstracta para eles, mas não para nós. Esta é uma luta não só pela nossa liberdade, mas pela Europa. Se para manter a conveniência económica alguns negócios desumanos prevalecerem sobre a dignidade humana, então os povos livres da Europa estarão em grande perigo".

Aos 44 anos, o líder, que é conhecido pelos seus fiéis como Patriarca, embora oficialmente o seu título seja Arcebispo-maior, recordou que sabe bem o que é não ser livre: "Vivi metade da minha vida na União Soviética. A outra metade, graças a Deus, tem sido vivida num país independente".

Sobre a revolta popular da praça Maidan que levou à queda do Governo pró-russo e desembocou no conflito com as milícias pró-russas no Leste do país, que perdura, Shevchuk reconheceu que a Igreja Greco-católica se tinha associado claramente aos pró-europeus.

"O que se passou no [movimento] Maidan mostra que já temos uma geração de pessoas livres. Há 23 anos recebemos a nossa liberdade externa. Foi uma oportunidade, uma possibilidade. Durante anos milhões de ucranianos passaram por um processo de liberdade e libertação interior, um crescimento moral e espiritual. Não é fácil ser livre de repente."

Agora, concluiu, não há volta a dar: "Agora ninguém abdicará da sua liberdade. A Ucrânia pós-soviética já não existe."

Até Kasper ficou desapontado com relatório intercalar
O Arcebispo-maior falou com os jornalistas pouco depois de ter regressado de Roma, onde participou no sínodo dos bispos sobre a família. Shevchuk revelou que o relatório intercalar do encontro, que causou muita polémica pela linguagem usada para se referir a uniões irregulares e homossexuais, deixou muitos bispos desapontados, incluindo o próprio Cardeal Kasper, considerado um dos líderes da ala liberal, e que fez parte do grupo de trabalho do bispo ucraniano.

"Considerámos que o relatório não reflectia as discussões mantidas durante a primeira semana. É difícil explicar como é que o documento surgiu, mas sentimos todos que ele não nos representava", disse.

Durante o sínodo houve muita especulação sobre qual terá sido a posição do Papa Francisco acerca dos temas mais polémicos, como o reconhecimento de alguns valores nas uniões de facto ou relações homossexuais, ou a admissão de pessoas em uniões irregulares aos sacramentos. O líder dos greco-católicos ucranianos, que conheceu bem o Papa quando estudou na Argentina, deu contudo uma indicação interessante.

"Sou professor de teologia moral, por isso pedi autorização para falar. Perguntei: devemos reconhecer a tendência homossexual como um valor em si? Como algo a ser partilhado e recebido? Na minha opinião: não. O que temos de valorizar é a pessoa humana e temos de ter noção de que esta tendência é causa de profundo sofrimento para a pessoa. De acordo com os ensinamentos tradicionais da Igreja, temos de tratar esta pessoa da forma correcta.”

"Foi esta a minha afirmação e o Papa olhou-me nos olhos e fez um sinal de concordância", diz Shevchuk.


Fonte: aqui

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