sábado, 25 de outubro de 2014

Uma primavera "franciscana" em Madrid


Carlos Osoro, novo arcebispo de Madrid, com o Papa Francisco 
(foto reproduzida daqui)

O arcebispado de Madrid vive este sábado uma mudança importante: Carlos Osoro Sierra toma posse formal do cargo de arcebispo de Madrid, substituindo no lugar o cardeal Antonio María Rouco Varela.

Ordenado padre na diocese de Santander em Julho de 1973, bispo de Orense desde 1997 e, depois, arcebispo de Oviedo (2002) e de Valência (2009), Carlos Osoro significa uma mudança “franciscana” na diocese da capital espanhola. É essa a chave de leitura dos jornalistas Jesús Bastante e José Manuel Vidal, do sítio Religión Digital, que publicaram dois livros com biografias de Rouco e Osoro.
Carlos Osoro é, além de “boa pessoa”, alguém que trará “a primavera do Papa a Madrid”, por ser alguém com um perfil muito semelhante ao de Francisco – próximo dos outros, preocupado com o acolhimento de todos, mesmo de quem pensa diferente. Na altura da sua nomeação para Madrid, ele prometeu entregar-se “sem impor”, bem como falar “com todos” e sair pelas ruas. “Não sei fazer outra coisa”, disse.
E isto não acontece apenas desde que o Papa foi eleito: “Não se acomodou à linha de Francisco, sempre foi assim, um pastor com uma descomunal capacidade de trabalho e uma enorme proximidade das pessoas”, diz Jesus Bastante, autor de Carlos Osoro, el peregrino.
Nomeado arcebispo de Madrid no final de Agosto, quando o seu antecessor desejava ainda continuar por mais algum tempo, Carlos Osoro é um bispo preocupado em estar sobretudo com os que mais sofrem, implicado nas questões sociais (é muito crítico, por exemplo, dos desalojamentos que tem havido em Espanha). Sente que “a sociedade actual está ferida e quer uma Igreja ao lado das pessoas que sofrem”, diz o autor do livro.
O novo arcebispo, que considera que o mundo e a Igreja vivem um tempo de mudança históricachegou a estar noivo e a pensar seriamente em constituir família. “Talvez por isso entende mais e melhor a vida actual”, comenta Jesús Bastante.
Preocupado em fazer pontes com todos os sectores e “estar com todas as sensibilidades eclesiais e sociais” – mesmo a nível político – também aqui se poderá notar uma mudança de paradigma clara em relação ao seu antecessoracusado de se ter colado – e à hierarquia espanhola – a um partido concreto da paisagem política do país, o Partido Popular.
Essa é precisamente uma das diferenças claras entre Osoro e Rouco: este último, retratado por José Manuel Vidal en Rouco – la Biografia No Autorizadaé caracterizado como tendo conseguido a “cota máxima de poder jamais aplicada à Igreja espanhola”.
Homem “fisicamente débil, inclusive com certas debilidades psicológicas, sem carisma”, o até agora arcebispo de Madrid é alguém “sem grandes qualidades, mas que soube retirar o máximo partido da estratégia e do poder”, analisa o director de Religión Digital. “Intelectualmente, é um homem preparado, ou pelo menos passou semore por ser um grande intelectual, mas um intelectual sem obra, um canonista”, acrescenta Vidal.
A sua colagem a um partido político e a sua oposição a várias medidas do Executivo do Partido Socialista levaram-no a liderar várias manifestações nas quais encenava anualmente uma demonstração de poder do “músculo da Igreja espanhola contra o Governo socialista”.
Será um legado que levará gerações a corrigir, considera Vidal na entrevista em que analisa a liderança de Rouco. E, não por acaso, a sua sombra continuará ainda presente: Rouco decidiu continuar a viver no palácio arquiepiscopal de Madrid, enquanto Carlos Osoro viverá no bairro de Chamberí, num andar das Irmãzinhas dos Pobres, utilizando depois para o trabalho um gabinete no paço episcopal.
Fonte: aqui


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