O cristianismo traz sempre consigo o entusiasmo do caminho. Por isso, longe do cristão ficar de braços cruzados, à espera que as realidades aconteçam; longe do cristão o olhar para trás, na nostalgia de tempos passados, idealizados porque deles esquecemos os sofrimentos e dificuldades; longe do cristão o pessimismo de quem pensa que apenas o ser humano tem a capacidade de fazer mover o mundo; mas, igualmente, longe do cristão a ingenuidade de julgar que a novidade vale por si mesma.
E, no entanto, sempre que damos espaço a Deus no coração de cada um e no das nossas comunidades, surge algo de novo e surpreendente. É raro que, na Igreja, o que foi pensado e programado se realize tal como foi sonhado pelos homens: Deus é sempre surpreendente, e traz sempre consigo a novidade que nunca imaginámos, as forças que nunca julgámos ter. Deus ultrapassa-nos sempre, convida-nos a ir mais longe.
À primeira vista, o início de mais um ano pastoral pouco trará de novo: colocam-se na gaveta os horários de Verão e das férias, retomam-se aqueles do tempo de trabalho; regressam as crianças da catequese, os jovens e os adultos, as reuniões, os encontros de oração e partilha espiritual, as atividades dos Centros Sociais e da Caridade que nunca estiveram parados durante as férias, mas cujo ritmo foi reduzido.
E, no entanto, cada ano que recomeça convida não só à realização do que foi planeado e sonhado nos programas pastorais elaborados como - sobretudo - à tomada de consciência de que cada cristão e cada comunidade cristã só o é verdadeiramente quando dá espaço a Deus em cada momento da sua existência.
No final do ano, naquilo que hão-de ser as "avaliações" que por essas alturas faremos, não havemos de olhar para este ano que agora começa e procurar se tudo aquilo a que nos propusemos foi ou não realizado com eficácia (isso fazem as empresas e as organizações humanas), mas se o Espírito de Deus encontrou ou não a possibilidade de nos surpreender e de realizar em nós a novidade que apenas Deus e a nossa conversão a Ele trazem consigo.
D. Nuno Brás, aqui
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