Celebramos o Mistério Pascal de Cristo, isto é, a Sua Paixão, Morte e Ressurreição.
«Mestre, repreende os teus discípulos».
Mas Jesus respondeu: «Se eles se calarem, clamarão as pedras».
Mas Jesus respondeu: «Se eles se calarem, clamarão as pedras».
1. Esta última frase do Evangelho, que escutávamos, depois da bênção dos ramos, desafia-nos, hoje, a ter a mesma ousadia de crer, a reforçar a tal “fé de marinheiro” (M. Torga), com que “aparelhamos a barca”, para seguir Jesus, dentro da Igreja! E queremos segui-l’O, na tempestade e na bonança, sempre e em toda a parte: não apenas com as palmas na mão (em festa) ou com as palmas da mão (em aplauso). Não queremos segui-l’O, apenas quando o vento corre de feição e Jesus é aclamado pela multidão! Nesse momento é muito fácil estar do lado de Jesus!
REMAR CONTRA A CORRENTE
2. O verdadeiro discípulo percorre o mesmo caminho de Jesus, e segue-O até ao fim, acompanha-O e carrega a Sua cruz, como o cireneu; dá-Lhe alento, como as mulheres de Jerusalém; e, tal como o centurião, chega a reconhecer Jesus como homem justo, como o Filho de Deus! Todos estes amigos se tornaram verdadeiros discípulos de Jesus, que não tiveram medo de remar contra a maré, de ir contra a corrente, de estar do lado dos pobres e dos condenados, de mostrar a sua amizade por Jesus, mesmo quando os ventos eram contrários, mesmo quando a onda ia noutra direção, mesmo no meio de uma “revolta imensidão” contra Jesus.
"O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado”
3. Perguntemo-nos, então: como é que se porta e comporta o verdadeiro discípulo? Voltemos a Isaías (50,4-7), que nos diz, três palavras tão simples e tão belas:
3.1. “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo”. O discípulo não diz palavras ofensivas, provocadoras, como os fariseus, os guardas, os soldados, os poderosos e um dos malfeitores. Pelo contrário, o discípulo sabe dar “uma palavra de alento aos que andam abatidos”, como vimos e ouvimos no encontro entre Jesus e as mulheres, entre Jesus e o bom ladrão, entre Jesus e o Pai!Jesus só diz palavras de ternura, de bondade, de acolhimento, de perdão, de vida eterna. Hoje, é preciso ter a coragem de resistir aos insultos, de cara levantada; de não pagar o mal com o mal.
Hoje, “professar a fé, com a boca, implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado” (Bento XVI, PF 10), guardando a fé só para si, e quando lhe dá jeito. Na verdade, o Senhor deu-nos a graça de sermos seus discípulos, não para termos medo de falar d’Ele, mas para termos a coragem de não nos calarmos, de não recuarmos, de “não desviarmos o rosto” a quem nos provoca.
3.2. “Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos”. O discípulo não pode falar, se não aprende a escutar. A fé vem de ouvir a Palavra de Deus!
É preciso, por isso, aprendermos a escutar o silêncio de Deus e escutá-l´O no nosso silêncio. Além do mais, o discípulo“sabe quando deve falar de Deus e sabe quando deve calar, deixando falar somente o amor. O cristão sabe que Deus é amor e torna-se presente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar” (cf. Bento XVI, DCE 31).
Abraçar a Cruz
3.3. “E eu não resisti nem recuei um passo”. Trata-se, para o discípulo, de ir em frente, de “cortar as ondas sem desamimar”, de “remar contra a maré”. Trata-se, enfim, de abraçar a Cruz, até ao fim.Dizia, nas suas primeiras palavras, o Papa Francisco: “quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz, ou professamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papa, mas não somos discípulos do Senhor”.
Remar contra esta onda, que nos afunda no esquecimento e no abandono de Deus!
4. Amigos: Estamos a iniciar a Semana Santa. Pergunto-me e pergunto-vos: Vamos vivê-la como discípulos, do lado de Jesus, caminhando sob o peso da Cruz, nas pegadas dos seus passos (cf. Hino para o Ano da fé)? Ou vamo-nos deixar levar pela “onda” das férias, da diversão, da dispersão?!
O desafio, para nós, seus discípulos, é claro: “remar contra a corrente”, contra esta onda, que nos afunda no esquecimento e no abandono de Deus! Vamos aproveitar as nossas férias, para participarmos, mais assiduamente, nas celebrações do tríduo pascal!
5. Termino, por isso, com o mesmo desejo, expresso pelo Papa Francisco: “Eu queria que todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor e de confessar como nossa única glória, Cristo Crucificado”.
E será assim que a barca da Igreja irá por diante, contra todos os ventos e marés! Meus queridos amigos: Toca a remar contra a corrente!
Fonte: aqui
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.