Na parte da manhã, foi a última pessoa a falar no Seminário "Alzheimer: Espaço de Reflexão". Apesar do adiantada da hora, não se ouvia uma mosca enquanto falava. Quando terminou foi aplaudida de pé por toda a gente naquele recinto. Aplausos sentidos e merecidos.
A drª Ana é professora de Matemática e, pelas referências feitas, vive na zona de Gaia. É casada e tem 2 filhos.
Nem ela nem o marido tinham 50 anos, quando ele começa a revelar sinais estranhos de doença. De médico em médico, de tratamento em tratamento até que finalmente surge o veredicto médico: Alzheimer! E já lá vão seis anos.
A princípio, parece que ninguém quer aceitar, mormente a família. O filho mais velho abandonou mesmo a casa, estando agora a regressar aos poucos. A filha mais nova, embora sofrendo, tem revelado dedicação extrema.
Alzheimer! Na casa dos quarenta, dois filhos adolescentes! Sonhos para realizar, projectos para concretizar. O casal tinha mesmo adquirido um terreno para edificar a sua casa.
Jamais pensou em institucionalizar o marido. Ela é a sua cuidadora, sem prescindir de viver a sua vida. Continua a trabalhar. De manhã uma colaboradora trata do marido a quem é preciso vestir, calçar, etc. De tarde, deixa-o na Santa Casa da Misericórdia local. Após o trabalho, trá-lo para casa e cuida dele. Foi-se o sonho de construir uma casa segundo o seus sonhos, mas adquiriram uma adaptada ao novo estilo de vida.
O marido não a identifica como esposa, mas como cuidadora. Precisa de ter sempre um ar alegre, porque isso deixa-o feliz. Se a sente triste, entra em depressão. Quando lhe apetece chorar, fá-lo privadamente.
Mas quer e trabalha para que a família tenha uma vida o mais normal possível: convida amigos para comer em casa, fazem férias, realizam passeios. Não frequenta restaurantes em horas normais de refeição para não o expor.
Como a maioria dos homens, também este marido, enquanto pôde, queria sempre conduzir, mas foi a sua teimosia que a levou a contrariá-lo algumas vezes e agora estar mais treinada para o fazer sempre.
Três problemas:
- O doente precisa de ir frequentemente à casa de banho, precisando sempre de ajuda. Ora acontece nas estações de serviço tem deixado frequentes reclamações pela dificuldade no acesso aos wcs para este tipo de doenças, forçando-os frequentemente a utilizar os wcs masculinos ou femininos com todo o mal estar que daí vem.
- A dificuldade que esta senhora teve em arranjar uma instituição onde o doente pudesse passar umas horas por dia! Só depois de muito procurar, conseguiu uma que lhe abriu as portas.
- Há duas coisas que a doença não tirou a este homem: o amor à natureza onde gosta de dar longos passeios, - agora acompanhado da esposa - e às crianças a quem gosta de fazer festinhas. Ela teme que qualquer dia ainda apareça uma pessoa tola a acusá-lo de pedofilia.
Não sei se esta senhora se diz ou não cristã. Mas que eu senti escorrer ali Evangelho por todos os lados, isso vi.
Parabéns, drª Ana! Só pelo seu testemunho valeria esta acção.
Obrigado pelo testemunho de coragem, de persistência, de gosto de viver, de amor!
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