A caminho da casa de meu pai, passei pelo Santuário da Senhora dos Remédios para um momento de oração. Mesmo à frente do banco onde ajoelhei, estava um casalinho novo. Ele e ela muito concentrados, sentados no banco.
Quando saíram, ainda fiquei mais um pouco. Concentrado no que estava a fazer, não reparei bem no aspecto. Continuei.
Ao sair, um casalinho sorridente, de mão dada, estava à minha espera.
- O senhor também gosta de vir aqui? - perguntou ela afavelmente.
- Sim, eu sou natural de uma terra vizinha da Senhora dos Remédios e aqui vim imensas vezes durante a minha meninice e juventude. Eu sei que em qualquer lado se pode rezar, mas há circunstâncias que, pelo ambiente que proporcionam, pelo envolvência histórico-sentimental ou por qualquer outro motivo nos predispõem de uma forma mais forte para a oração.
- Olhe comigo e com o meu namorado acontece algo de semelhante. Andamos na mesma turma e temos esta tarde sempre livre. Uma vez por mês, vimos até aqui os dois para um bocadinho de oração. Percebe? Sabe-nos bem e ficamos melhores cá dentro, no coração. Sentimos necessidade desta paz que daqui levamos...
A ela conhecia-a bem. Ao seu namorado só de vista. Por isso lhe lanceio repto:
- Então não achas que muito mais paz podias ir buscar e levar à Eucaristia dominical? Raramente te vejo por lá...
O seu sorriso aberto mudou-se para rosto fechado. Os olhos mergulharam no chão como quem procura uma resposta dentro de si mesma. Depois lá se saiu:
- Sabe, ele na terra dele até vai. Eu é que...
Encolheu os ombros. Depois continuou:
- Os meus pais lá têm a sua fé. Rezam e vão a Fátima todos os anos. Mas Missa...não é com eles. São óptimos pais, amigos, educadores, dão-se bem um com o outro. Mas têm que ter algum defeito... Depois fui criada assim e também não tenho ido...
- Diz lá! - atirou o rapaz. - Sê franca! Tu e teus pais tendes é vergonha, não é? É que já diz a minha avó: "As pessoas da vila têm-se por muito fidalgas, mas quando se trata de mostrar a sua fé, tolhem-se de vergonha. Fazem lembrar os serranitos quando, antigamente, vinham à cidade. Fugiam das pessoas citadinas por vergonha..."
- Não é bem isso, pá! Penso que é mais uma falta de hábito - ripostou ela.
Depois de mais uns instantes de conversa, felicitei-os pelo seu espírito de sinceridade e parti, deixando um apelo que sinceramente emoldurei num sorriso:
- Esperamos por ti daqui para a frente! Certamente não quererás mais empobrecer-nos com a tua ausência.
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