sexta-feira, 14 de maio de 2010

E depois do adeus?

Bento XVI passou por Portugal, nos últimos quatro dias, e viveu cada momento da visita, especialmente em Fátima, não só como a primeira ao nosso país, mas como se pudesse ser a última.

Depois de vários discursos e homilias, a imagem de marca da viagem é um momento sem palavras: o Papa em silêncio, olhos fixos na imagem de Nossa Senhora de Fátima da Capelinha das Aparições.

A própria indicação de que o centenário das aparições seria celebrada por “vós”, evitando a primeira pessoa, confirmou que Joseph Ratzinger sente que um regresso a Portugal poderá não ser possível.

O Papa veio falar sobre o futuro e não sobre o passado, o que ajuda explicar as suas declarações sobre a “missão profética” de Fátima e a continuidade no tempo dos sofrimentos que foram revelados na terceira parte do segredo.

Também em Fátima, no 13 de Maio, referiu-se à “maternidade de Deus”, uma novidade no discurso habitual da Igreja, muito masculino e centrado na figura do pai.

Esta foi, talvez, a viagem que melhor define o pontificado de Bento XVI: um homem que surpreende as multidões que o desconhecem, mas que se revela mais intensamente em privado ou em encontros onde a sua presença é vista como a de um professor ou mesmo a de um sábio.

Apesar de ainda se ter ouvido a palavra “flop” pelos corredores por onde corriam os vaticanistas, os números estimados da participação nesta peregrinação aproximam-se da última viagem de João Paulo II a Fátima – há quem pense que os poderão ter ultrapassado -, com um pormenor relevante: a peregrinação de 2000 aconteceu num fim-de-semana, naquela foi a terceira visita do Papa polaco.

Seguindo com atenção o que foi dito pelo actual Papa – não só em Fátima – fica claro o que quer para a Igreja em Portugal: menos devoção “particular”, consequências práticas na vida social, mais acção perante as dificuldades geradas pela crise e um compromisso público inequívoco dos que se afirmam como católicos.

Esse compromisso deve surgir mesmo em temas fracturantes, como o aborto ou o casamento homossexual – aliás, a única pausa propositada que o Papa fez nos seus discursos foi quando quis vincar que apenas pode conceber o matrimónio como a união entre um homem e uma mulher.

Bento XVI foi muito específico em determinadas referências à situação actual do país – quanto a matérias históricas, políticas e religiosas - mostrando conhecer bem o chão que ia pisar, numa lição bem estudada.

Também em Lisboa e no Porto, o Papa deixou inúmeros desafios à Igreja Católica e à própria sociedade portuguesa, a mesma que carrega um passado “glorioso” mas que hoje se sente vergada perante uma crise que ameaça não só a economia, mas o próprio sentido de esperança da população.

Aos que fazem parte destas Igreja compete sair em “missão”, indo ao encontro de um país cada vez mais secularizado, onde as referências religiosas e espirituais estão progressivamente a perder espaço. E onde, segundo as palavras do próprio Papa, já não faz sentido “pressupor” a fé católica.

Octávio Carmo, da Agência Ecclesia, no voo papal de regresso a Roma

1 comentário:

  1. Maria Fátima Santos14 de maio de 2010 às 20:48

    Esta vinda a Portugal do Papa Bento XVI deixou marcada no coração das pessoas uma mensagem de Fé, Amor, Paz
    e uma reflexão para o Futuro da Humanidade.
    É importante ter Fé e acreditar que as Orações são como suportes para a iluminação do mundo inteiro.

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