segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Uma Igreja "a coçar pra dentro, a coçar pra dentro"....

A irrelevância política da Igreja

Os “temas” da Igreja estão fora da agenda política e ainda mais dos alinhamentos mediáticos. E, a avaliar pelo correr das águas, dificilmente voltarão a fazer deles parte.

A avaliar pelo que se assistiu nos debates televisivos que marcaram a pré-campanha das próximas Legislativas - e assistimos muito tempo e fomos muitos milhares de espectadores - a Igreja portuguesa tornou-se uma irrelevância política. Nem ela, nem os valores que defende, marcaram presença na longa maratona de esclarecimento para as eleições que se aproximam. Sinais dos tempos? Ou de uma Igreja que se condena e se conforma em falar apenas para dentro, resistindo a tomar parte no mundo em que vive e onde quer atuar?

E houve, seguramente, muitas oportunidades nas perto de dezassete horas de discussão entre os líderes políticos que concorrem a estas eleições. Os debates escorregaram nas horas, encheram noites televisivas com uma avalanche de comentários pós-programa mas, na verdade, só uma vez – uma vez apenas, sublinhe-se - a Igreja foi chamada a antena. E, apenas e só, quando a moderadora da SIC Notícias interpelou o candidato do Chega sobre a sua “fé e devoção ao cristianismo” e o aparente “desalinhamento em relação ao que André pensa e o que a Igreja defende” em matéria de imigração. Foi no dia 6 de fevereiro, no debate com o líder da Iniciativa Liberal e o assunto foi arrumado em segundos e chutado para canto.

Podia ser só uma falta de comparência, explicável num mundo cada vez mais laico, numa sociedade cada vez mais distante de filiações religiosas e onde o princípio de “a César o que é de César” é confortável para todos, Igreja incluída.

Mas, o problema é mais vasto do que isso. Não foi só a Igreja a estar ausente. Também todos os temas que são caros aos católicos faltaram à chamada dos debates televisivos: nem uma palavra sobre a pobreza, as desigualdades, a paz, a inclusão ou sobre qualquer forma de desrespeito pela dignidade da pessoa. Nem uma palavra, repito. Porque os “temas” da Igreja estão fora da agenda política e ainda mais dos alinhamentos mediáticos. E, a avaliar pelo correr das águas, dificilmente voltarão a fazer deles parte.

Só que este silêncio, infelizmente, não significa que está tudo bem. Basta lembrar dois dos temas centrais – a paz e a pobreza – para recordar o quanto o mundo enfrenta uma guerra em várias frentes e o quanto, em Portugal, a miséria ganha foros de uma tragédia silenciada. Meio milhão de portugueses vivem numa condição “severa de privação material e social”, diz a Cáritas, num relatório recente, que mostra como as estatísticas se mantêm inalteradas ao longo dos últimos anos, apesar de todas as promessas, boas intenções e vontade de mudança.

A política e os media arredaram a Igreja das suas agendas, mas isso não é, nem uma condenação eterna, nem uma inevitabilidade das sociedades modernas. O próprio Papa Francisco incentiva os católicos, leigos ou sacerdotes, a uma intervenção política direta. “Embora a Igreja respeite a autonomia da política, não relega a sua própria missão para a esfera do privado”, disse o Papa na Fratelli Tutti. A Igreja “não pode nem deve ficar à margem na construção de um mundo melhor”, nem os seus ministros “podem renunciar à dimensão política da existência que implica uma atenção constante ao bem comum e a preocupação pelo desenvolvimento humano integral”, diz o Papa.

Mas, por cá, há poucos sinais desse espírito missionário. É certo que os bispos do Porto e de Setúbal participaram em manifestações, ora de polícias, ora de médicos, dando voz e solidariedade à defesa dos seus direitos. É verdade que em muitas dioceses foi feito o apelo ao voto e à participação eleitoral. Mas há um longo caminho a fazer. “As decisões políticas do dia a dia não podem ser alheias àquilo que é a nossa sensibilidade e a nossa leitura católica ou de outra religião”, disse D. Américo Aguiar em entrevista recente à RTP3. O problema é que são. E temo que assim continuarão a ser.

Rosa Pedroso Lima

aqui
Uma Igreja "a coçar pra dentro...
- Basta ver a ordem de trabalhos de tantas reuniões de organismos católicos por essas dioceses fora. Os assuntos são esmagadoramente - se não totalmente - voltados para dentro, para o foro interno. Conselhos pastorais diocesanos, conselhos de presbíteros, conselhos de arciprestes, reuniões de movimentos e grupos, encontros de formação para padres, intervenções dos bispos, reuniões da CEP, etc, etc.
A Igreja só crescente quando se volta para fora; voltada para dentro, torna-se autofágica. Não é  que Cristo insiste e persiste na orientação: "Ide, eu vos envio...."?
- Num desvirtuamento aberrante da mensagem de Cristo,  surge hoje, também num certo clero, sobretudo mais novo - muitos dos que gostam de pretos, cabeções, batinas e rendas - a ideia do trabalho pastoral centro  somente "no tratar das almas".  E o corpo não tem origem em Deus? Não é também chamado à ressurreição? Não foi salvo por Cristo? Não curou Jesus o corpo de tantos doentes? Não alimentou muita gente?
- Sejamos claros e frontais: o grande inimigo da Igreja é o ultraconservadorismo - e ainda mais o fundamentalismo  - que nela crescem. Com todo o cortejo de farisaísmo que arrastam.
- Há quem saiba muito de Teologia,   Bíblia, História da Igreja, Liturgia, etc, mas enfie a profecia no fundo da gaveta do fundo....
Num tempo seco, que interessam as nuvens carregadas de vapor de água se elas não deitam, sobre a terra  que grita de sede, uma gota de água?  
Há que dar ao povo de Deus, tanta vez sem voz nem vez,  voz e vez,. Também para isso serve  o muito saber. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.